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segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Conventos de Portugal - Convento de Cristo - Tomar


Localização :

          O Convento de Cristo é um monumento na cidade de Tomar (freguesia de S. João Baptista), classificado pela UNESCO como Património Mundial. Foi fundado em 1160 pelo Grão-Mestre da Ordem dos Templários, dom Gualdim Pais, e ainda conserva memórias desses monges cavaleiros e dos herdeiros do seu cargo, a Ordem de Cristo, os quais fizeram deste edifício a sua sede. Sob Infante D. Henrique o Navegador, Mestre da ordem desde 1418, foram construídos claustros entre a Charola e a fortaleza dos Templários, mas as maiores modificações verificam-se no reinado de D. João III (1521-1557). Arquitectos como João de Castilho e Diogo de Arruda procuraram exprimir o poder da Ordem construindo a igreja e os claustros com ricos floreados manuelinos que atingiram o máximo esplendor na janela da fachada ocidental. Trata-se de uma construção periurbana, implantada no alto de uma elevação sobranceira à planície onde se estende a cidade. Está circundado pelas muralhas do Castelo de Tomar e pela mata da cerca.
Actualmente é um espaço cultural, turístico e ainda devocional. A arquitectura partilha traços românicos, góticos, manuelinos, renascentistas, maneiristas e barrocos.



História : 

            O Convento de Cristo está inserido num dos maiores conjuntos monumentais, no espaço e no tempo da arquitectura peninsular e europeia. Abrange uma vasta área de quarenta e cinco hectares, dos quais cinco correspondem ao Castelo Templário e ao Convento de Cristo, sendo a restante a antiga cerca conventual, hoje designada como Mata dos Sete Montes.
A seis séculos de construção correspondem os maiores investimentos e as mais importantes obras, aqui presentes mais do que em qualquer outro conjunto edificado em Portugal, num esforço que não abrandou, mesmo durante a regência filipina do reino de Portugal. A construção, iniciada em 1160, do Castelo de Tomar, recinto fortificado, exemplar magnífico da arquitectura militar, onde se destacam a torre de menagem na alcáçova e a muralha exterior com alambor, constituiu o primeiro grande impulso de edificação deste conjunto monumental, acompanhado pela construção da Charola templária.
Sob a administração do Infante D. Henrique, governador da Ordem de Cristo, a antiga alcáçova e o convento templário viriam a ser integrados, já depois da extinção dos Templários (1312), no Paço do Infante (1420-1460), ao mesmo tempo que se construíam os claustros góticos da Lavagem e do Cemitério.
A Charola, um dos mais raros e emblemáticos edifícios de planta poligonal, centralizada, segundo o modelo oriental do Templo da Rocha de Jerusalém, tipologia rara no românico europeu, tinha a sua entrada a nascente. Esta orientação viria a ser alterada na campanha manuelina do início do séc. XVI, dando lugar à abertura do extraordinário arco triunfal, a poente e à execução do portal sul, nova entrada da igreja da autoria de João de Castilho, concluído em 1515. Desta época é, também, a profusa decoração, quer da abóbada, quer do deambulatório e tambor central, com motivos arquitectónicos, figurativos e vegetalistas de forte simbolismo. A pintura sobre madeira, de grandes dimensões, atribuída a Jorge Afonso, representa, no seu conjunto, cenas da vida de Cristo. As esculturas em madeira policromada, representam profetas e santos da Igreja e são da autoria de Olivier de Gant e Fernão de Muñoz, Destes mesmos autores seria, também, o Cadeiral do Coro, infelizmente destruído e posteriormente substituído por um outro proveniente da igreja de Santa Joana, em Lisboa.
Durante o reinado de D. Manuel I a campanha de obras incluiu, ainda, a Sala do Capítulo e restantes dependências conventuais iniciadas por Diogo de Arruda e continuadas por João de Castilho (1510-1515). Na fachada ocidental da igreja foi incorporada a janela manuelina executada por Diogo de Arruda, (1510-1513), segundo o programa iconológico definido pelo próprio rei D. Manuel I. É considerada uma excepcional obra escultórica, inserida na arquitectura manuelina, permanecendo como símbolo da expansão dos portugueses e da concepção imperial que o Rei Venturoso tinha para Portugal.
No reinado seguinte, D. João III promove a reforma da Ordem de Cristo, que vai ser efectuada por Frei António de Lisboa († 1551), originando uma congregação de clausura, segundo a Regra de São Bento (1529). Esta reforma tem profundas consequências na organização do espaço e dela decorrem novas e importantes ampliações do conjunto monástico, com a construção de vastas dependências organizadas em torno de seis novos claustros, (1531 – 1552). Com a regência filipina, continua o programa de reformulação do Convento de Cristo. Edifica-se a Sacristia Nova, dando-lhe cariz maneirista, integrando-a nas campanhas de obras do Claustro do Cemitério. Filipe II de Espanha subvenciona, também, a conclusão do claustro principal e promove a execução de uma das obras mais significativas do Convento e da época, o Aqueduto do Convento. Esta extraordinária obra de engenharia hidráulica percorre uma extensão de sete quilómetros, dispondo de um total de 180 arcos, particularmente espectaculares na zona do vale dos Pegões e termina o seu percurso na fachada sul do Convento de Cristo, assinalando-se a conclusão das obras com a fonte do Claustro Principal, atribuída a Pedro Fernandes Torres, em 1619. As obras da Portaria Nova, da Sala dos Reis e do Novo Dormitório seriam levadas a cabo no período de Filipe III de Espanha. No último quartel do século XVII inicia-se outra obra de grande importância, que viria a conferir ao alçado norte do Convento a sua actual monumentalidade, para acolher o hospital com respectiva enfermaria e botica.
O século XIX, na sequência da extinção das ordens religiosas em Portugal, em 1834, será marcado pela quebra da unidade deste vasto conjunto monumental, sobretudo com as reformas que visaram a adaptação de dependências, no Claustro dos Corvos e Pátio dos Carrascos, para residência e casa agrícola do Conde de Tomar e sua família, que aqui viveram entre 1843 e 1934. A partir do início do século XX o monumento foi ainda ocupado pelo Exército e pelo Seminário das Missões Ultramarinas, até meados dos anos 80, altura em que o Estado reassumiu a plena posse do Conjunto Monumental designado por Convento de Cristo, com funções culturais e turísticas, que se mantêm. 
O reconhecimento pela UNESCO, em 1983, do valor excepcional de todo o conjunto, motivou a sua classificação como Património da Humanidade reforçando, assim, a vocação universal deste lugar excepcional.

















Castelo de Tomar 

              Iniciada a sua construção a 1 de Março de 1160, por D. Gualdim Pais, Mestre da Ordem do Templo, aproveitou uma das colinas sobranceiras à cidade de Tomar, na margem direita do Rio Nabão. No interior da alcáçova instalou-se a Casa Militar Templária da qual a Torre de Menagem é ainda genuíno testemunho. A poente encontra-se a Charola, oratório fortificado, que estava ligado à cortina exterior de muralhas que figuravam a norte e a sul, definindo um perímetro irregular, assente no terreno original. No interior figuram dois panos de muralha que definem três espaços interiores da fortaleza; a zona habitacional dos cavaleiros templários, a norte; a praça de armas ou terreiro interior e a área outrora ocupada pelos moradores da vila fortificada, a sul, existente ainda no início do século XVI.
Este complexo militar dispunha de uma entrada que servia directamente a vila, a sul, e que é guarnecida por dois robustos torreões – a porta de Al Medina. Deste acesso, passando pela vila, se acedia à praça de armas e à casa militar templária, através de uma antiga via pavimentada cujos vestígios ainda hoje se podem ver junto ao Claustro da Lavagem.




Charola no Convento de Cristo : 

            A Charola do Convento de Cristo, célebre por ser, na sua origem, um dos mais extraordinários exemplos da arquitectura templária, pertence à campanha de obras românica e gótica, dos séculos XII e XIII. Trata-se de um edifício poligonal, com oito faces no tambor central, desdobradas em dezasseis faces no exterior, que pretende reproduzir idênticos edifícios de planta centralizada, conhecidos dos templários e inspirados na Igreja do Santo Sepulcro de Jerusalém. Concluída no século XII, possuía porta a nascente que se manteve em funcionamento até à reforma manuelina.
Sob o impulso do Infante D. Henrique, quando este foi governador da Ordem de Cristo, 1420 – 1460, procedeu-se à primeira alteração do edifício, com abertura de dois tramos a poente, de modo a instalar-se aí o coro e a tribuna. Desta época datará também o tubo de órgão de madeira e couro, ainda visível na parede norte da Charola. A maior campanha de obras é promovida mais tarde por D. Manuel I, entre 1495 e 1521, durante a qual se rasgam completamente dois, dos dezasseis tramos da parede externa, abrindo o espaço a Ocidente, através do grande arco triunfal que unirá este espaço à nova igreja manuelina. È desta época, também, o programa decorativo que acentua a riqueza do local. 
O enriquecimento do programa iconográfico da Charola, transformada em capela-mor da nova igreja, incluiu escultura, pintura sobre madeira e sobre couro, pintura mural e estuques. Particularmente importante foi a descoberta, nos nossos dias, de pinturas contemporâneas de D. Manuel I, (1510 – 1518) que cobriam a abóbada do deambulatório, e que haviam sido recobertas de cal em época posterior. Foram removidas na campanha de obras para recuperação da Charola realizada no final dos anos 80 do século XX.
A Charola é um conjunto espectacular, testemunho não só da arquitectura templária, como, também, exemplar magnífico do esplendor Manuelino constituindo motivo de visita obrigatória do Convento de Cristo.

Charola
                                                                                               Interior da Charola

Janela do Capítulo : 

            Imponente conjunto escultórico e arquitectónico, a Janela da Sala do Capítulo, inserida na fachada ocidental da igreja manuelina, foi executada por Diogo de Arruda, entre 1510 e 1513, segundo o programa iconológico definido pelo rei D. Manuel I. Símbolo de um período histórico que marca a expansão dos Portugueses para além das suas fronteiras, afirma-se hoje em dia como um dos mais excelsos exemplos da arte manuelina.



Claustro principal : 

               Iniciado por João de Castilho em 1530 / 1533, foi, durante a campanha de D. João III, parcialmente demolido e substituído pelo actual, da autoria de Diogo de Torralva, que, no essencial, estava terminado em 1562. No final do século, o arquitecto italiano Filipe Terzi terminou a cobertura, no terraço das Ceras. É considerado uma obra-prima da Renascença europeia. Particularmente interessante é o diálogo que se estabelece entre a magnificência do claustro que D. João III manda edificar e o anterior claustro, de autoria de João de Castilho, que D. Manuel I havia inspirado.



Cerca Conventual, Mata dos Sete Montes : 

              O lugar dos Sete Montes, onde em 1160 os Templários fundaram o castelo de Tomar, como sua sede Militar, foi, no século XVI, transformado no reduto da milícia dos Cavaleiros de Cristo.
Mais tarde D. João III, reforma a Ordem de Cristo transformando-a numa congregação de frades contemplativos. Para casa de clausura da Ordem foi mandado construir pelo monarca um grandioso convento contra o flanco poente do castelo templário. Como é preceito da vida conventual, toda a parte urbana foi rodeada por uma extensão de território delimitada, símbolo da terra que o homem deve habitar e transformar com o seu trabalho. Assim, o lugar dos Sete Montes é unido ao convento renascentista, sendo um caso por excelência de paisagem histórica e um conjunto monumental único no seu género inserido num meio ambiente privilegiado que importa conservar e viver, para que preserve o valor que detém no Património cultural, histórico e ambiental de Portugal.  




Ermida de N.ª S.ª da Conceição : 

            Situada no planalto ocupado pela cerca do Convento de Cristo, a meio caminho entre o mundo dos homens, a Cidade, e o de Deus, o Convento, encontra-se uma pequena capela em pedra calcária, voltada a poente, de planta rectangular centralizada. Avista-se de vários pontos da cidade, tão delicada como imponente à medida que avançamos na sua direcção: - Da cidade, avista-se, ao longe, um pequeno templo. Já mais perto, parece uma escultura monumental à medida que nos aproximamos, a sua monumentalidade parece diminuir, para se impor de novo quando nela entramos.
A Ermida de Nossa Senhora da Conceição é risco e obra de João de Castilho, encomendada por D. João III, construída entre 1547 e 1572 tendo, provavelmente, sido finalizada por Filipe Terzi.
É um pequeno templo com um espaço ternário e global, onde tudo contribui para a harmonia das ordens arquitectónicas aí representadas que, através de um singular jogo de luminosidade, cria uma ilusão de grandeza e profundidade. 
Edifício rectangular, de planta em cruz latina, com três naves e transepto ligeiramente saliente, que se distingue exteriormente por pilastras e é encimado por um frontão triangular. Poderá ter sido construído originalmente para panteão de D. João III que, repousa no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa.



Aqueduto do Convento : 

             Foi encomendado por Filipe II de Espanha ao arquitecto Filipe Terzi e destinava-se a fazer chegar a água ao Convento e às suas terras tornando todo o espaço autónomo em termos de abastecimento. Tem cerca de 7km de canalização em pedra, coberta a laje, correndo em grande parte ao nível do terreno, com arcaria, de dimensão e altura variável. 
Sobre o vale dos Pegões erguem-se 58 arcos de volta inteira, que, na zona de maior declive, assentam em 16 arcos quebrados. Neste vale o aqueduto tem, a montante e a jusante, duas casas d'água rematadas por cúpulas abobadadas que, no interior, resguardam bacias de depuração da água. Termina esta obra com grandes arcos adossados à fachada sul do Convento de Cristo que estaria pronta em 1619, culminando na monumental fonte do Claustro Principal, atribuída a Pedro Fernandes Torres.