Translate

segunda-feira, 10 de março de 2014

Mosteiros de Portugal - Mosteiro de S. André de Ancede



Localização : 

          O Mosteiro de S. André de Ancede, localiza-se no Lugar do Mosteiro, Freguesia de Ancede, Concelho de Baião e no Distrito do Porto. Uma lenda que explica o nome Ancede e a hipotética transferência do núcleo monástico inicialmente instalado em Ermelo. Diz a voz popular que D. Afonso Henriques autorizou a deslocação dos monges com base na queixa apresentada pelos mesmos: "haviam sede" pois o lugar de Ermelo era escasso em águas. Pois "se hão sede", replicou o monarca, mudem-se.




História : 

             Edificada numa encosta voltada ao Douro, a Igreja dedicada ao apóstolo Santo André, em Ancede, foi a cabeça de um extenso património religioso, espiritual e económico. A carta de coutamento, datada de 1141, definiu os limites de uma área considerável de domínio a partir da qual, os Cónegos Regrantes de Santo Agostinho dirigiram um importante trabalho de humanização.
Mas a sua área de influência estabeleceu-se muito além da cerca monástica e do próprio couto. Somando a aquisição de património fundiário e de certos direitos ao longo do vale do Douro desde cedo os monges souberam tirar partido da exploração dos recursos naturais e, sobretudo, do manejamento de técnicas para criar um importante entreposto comercial baseado na produção e exportação de vinho e na administração das rendas que lhes eram devidas pela posse de um considerável conjunto de propriedades a norte e sul do Douro.
Talvez por isso pareça ainda menos provável a lenda que explica o nome Ancede e a hipotética transferência do núcleo monástico inicialmente instalado em Ermelo. Diz a voz popular que D. Afonso Henriques autorizou a deslocação dos monges com base na queixa apresentada pelos mesmos: "haviam sede" pois o lugar de Ermelo era escasso em águas. Pois "se hão sede", replicou o monarca, "mudem-se". Não o era o caso e, mesmo que o fosse, as técnicas e o saber monástico teriam resolvido essa e outras questões, como no caso do assento atual da Igreja e complexo monástico, profundamente alterado desde a Idade Média e bem servido de canais e aquedutos capazes de assegurar o abastecimento de água aos seus habitantes.
Da Época Medieval são parcos os vestígios existentes. O elemento mais significativo é a rosácea românica, tardia, que se conserva na parede fundeira da capela-mor da Igreja e um trecho do paramento do alçado lateral norte da cabeceira, todo o restante corpo eclesial, mosteiro e dependências monásticas são já fruto das correntes artísticas que marcaram os séculos XVI a XIX.
Embora, quase desde a sua fundação até á sua extinção, em 1834, o Mosteiro de Ancede tenha constituído uma casa próspera, dois períodos são particularmente notáveis na história do edifício: a viragem da Idade Média para a Época Moderna (séculos XV e XVI) e o século XVIII, no primeiro reflete-se a aproximação dos priores à cidade do Porto, aproveitando o estatuto de vizinhança da cidade para escoar o vinho e outros produtos através de Ancede. No segundo momento, apesar de ter sido integrada no património do convento de São Domingos de Lisboa em 1559, a partir de 1689, procedeu-se à edificação de uma Igreja nova, fundindo os templos monástico e dos fregueses e à construção ou reedificação de vários edifícios na órbita do Mosteiro.
De todas estas obras, a mais importante foi a edificação da Capela do Senhor do Bom Despacho, levantada no vasto adro da Igreja, contígua ao muro que sustém a zona das adegas e demais edifícios para uso agrícola, trata-se de um pequeno templo, de planta octangular, edificado em 1731, e que dá expressão a um programa artístico barroco algo extravagante com cenas da vida de Maria, da Infância de Cristo e da Paixão de Cristo, sendo estas relativas na sua maior parte aos mistérios contidos no Rosário, cenas tão do agrado da ordem dominicana responsável por todo o programa iconográfico da capela. Voltando à Igreja, devemos destacar a cruz processional do século XIV; a escultura de Santa Luzia e o tríptico de São Bartolomeu peças datadas dos inícios do século XVI de origem flamenga; o conjunto de pinturas que invocam os Passos e a Paixão de Cristo, obras da segunda metade do século XVII; assim como o acervo escultórico disperso pela Igreja e sacristia, de matriz barroca e executados entre meados do século XVII e os finais do XVIII.
Há a destacar, igualmente, a Cabeça Santa de Ancede. Um invólucro de prata, sem lavores, oculta parte de um crânio humano, supostamente pertencente a um antigo cónego regrante de Ermelo que em vida curava a raiva e, depois de morto, as suas relíquias prosseguiram com fama de milagrosas, o conjunto monástico foi esvaziado em 1834 do seu capital humano, tendo sido adquirido no ano seguinte por José Henriques Soares, mais tarde barão de Ancede, importante negociante e político liberal.





Arquitectura do seu interior : 

            Encontramos em Ancede uma Igreja com uma cabeceira de larga escala e três longas naves de características maneiristas. No exterior, os elementos ornamentais, de matriz classicizante, são centrados em torno do portal lateral da Igreja que se abre ao adro. O elemento medieval remanescente mais significativo é a rosácea românica, tardia, que ainda hoje se conserva na parede fundeira da capela-mor. O modo como a sua grelha de pedraria se articula em círculos e a modenatura, que lembra um encordoado que se entrecruza, têm vindo a ser comparados com a rosácea que encima o arco cruzeiro na Igreja paroquial de Águas Santas (Maia) ou da fachada principal da Igreja de Santiago de Antas (Vila Nova de Famalicão). Além deste elemento, conserva-se um trecho de paramento medieval no alçado lateral norte da cabeceira e no alçado lateral sul, em área correspondente aos primeiros tramos da Igreja. Partindo destes dados e de uma análise aos poucos vestígios que da Idade Média ainda persistem neste imóvel, pelo menos visíveis, podemos considerar que estes resultam de uma campanha já realizada nos finais do século XIII, assim sendo, pouco ou nada sabemos sobre a estrutura da Igreja românica. A grande escala da atual cabeceira, certamente pensada para albergar o retábulo-mor na sua monumentalidade e pujança aquando da grande campanha seiscentista, pouco nos permite aferir sobre como seria no período românico. 
No entanto, tendo em conta os exemplos conhecidos de igrejas monásticas para esta época, podemos alvitrar que a primitiva cabeceira seria seguramente de menores dimensões ou, quanto muito, não tão elevada. As obras terão sido uma constante nesta Igreja, como pode ser verificado através da análise dos silhares, de diferentes matizes, a fachada principal encontra-se em parte ocultada por uma torre sineira oitocentista. No lado sul da Igreja existe, atualmente, uma sacristia, mas a sua disposição e arquitetura alerta para o facto de, em outros tempos, uma outra função terá aqui existido, em virtude de esta nos mostrar enterramentos - conforme denunciam as tampas do pavimento - e os três nichos da parede oriental sugerirem que este espaço seria, seguramente, uma dependência ligada a um claustro anterior ao atual.