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segunda-feira, 22 de julho de 2013

Viagem e visita ao concelho de Olhão

Brasão de Olhão (da Restauração)

Localização

             Olhão (oficialmente, Olhão da Restauração), é uma cidade portuguesa no Distrito de Faro, região e sub-região do Algarve, é sede de um município com 130,89 km² de área e subdividido em 5 freguesias. O município, que inclui uma parte continental e a Ilha da Armona, na ria Formosa, é limitado a norte e leste pelo município de Tavira, a oeste por Faro, a noroeste por São Brás de Alportel e a sueste tem litoral no oceano Atlântico.



História

            Diz-se que Olhão, terá derivado da palavra árabe, «AL-HAIN», que significa fonte nascente, e que sofrendo as modificações fonéticas e fonológicas, naturalmente terão levado ao aparecimento do termo «ALHAM», depois «OLHAM» e finalmente OLHÃO. Na versão popular e segundo velhos testemunhos, Olhão é o aumentativo do substantivo comum "olho", com origem num grande "Olho de Água" (fonte, nascente ou poço de grande caudal), já que na zona existiam abundantes olhos de água, o que originou a construção das primeiras "palhotas", feitas em cana e colmo. Apesar de o território onde actualmente se situa o concelho de Olhão ter tido presença atestada de habitantes desde pelo menos o Neolítico, a concentração populacional que se instalou onde hoje se situam o bairro da Barreta deve datar dos inícios do século XVII. A praia de Olham ou o lugar de Olham (como então se escrevia) tinha bons motivos para fixar a gente: água potável abundante (tinha um olho de água tão abundante que daí vem o nome do sítio: olhão) e uma barra aberta para o oceano, o que facilitava a vida aos pescadores, e permitia-lhes fugir ao fisco sem passarem pelos controlos de Faro. De facto, pode ler-se num texto do Cabido da Sé de Faro, datado de 1654, que "se deve mandar queimar as cabanas de Olhão, que por tantas vezes se tem intentado, para se evitarem tantos roubos como se delas fazem, e como se tem bem experimentado, porque como ficam junto da barra, e os que nelas vivem sejam homens do mar e os primeiros que dão vista dos navios mercantes que entram e amigos dos mercadores a quem vêm cometidos, refundem as fazendas e furtam os dinheiros à Real Fazenda de Vossa Majestade, como se tem visto" (in Carlos Pereira Calixto, Apontamentos para a história das fortificações da Praça de Faro, pp. 220-221).
Talvez sobretudo por este motivo, agravado com os ataques de piratas marroquinos que se atreviam a passar a Barra Grande, nesse mesmo ano de 1654 começou a construir-se a fortaleza da Ilha de São Lourenço, junto à Barra Grande de Olhão. Devido à constante movimentação dos solos dunares, foram necessárias reformas e reparações sucessivas da construção. Entretanto, a meados do século XVII, tinha sido construída em Olhão a Igreja de Nossa Senhora da Soledade. Em 1695, sobretudo devido ao crescimento demográfico, o lugar de Olhão conseguiu alcançar o estatuto de freguesia, separando-se assim de Quelfes, mas continuando a pertencer, todavia, ao termo de Faro. Apesar da aristocracia desta cidade tentar impedir o desenvolvimento do lugar, os pescadores de Olhão rogam à rainha D. Maria I que lhes permitissem substituir as suas humildes habitações (cabanas) por casas de alvenaria, benesse que lhes vem a ser concedida em 1715, através de decreto real. Entretanto, três anos após a instituição da freguesia, tinha sido autorizada a construção de um segundo templo religioso, de maiores proporções, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, que desde então tem sido a Igreja Matriz de Olhão. Esta igreja foi inaugurada em 1715, e apesar de então ser uma das maiores do Algarve, já era pequena para albergar os cerca de 1200 habitantes do sítio. De facto, calcula-se que a taxa de natalidade de Olhão estava nesta época acima dos 50%.
A população era essencialmente marítima, e tirava os seus rendimentos do mar que tinha ali tão perto. O prior Sebastião de Sousa, em 1758, dizia que "este lugar é o porto de mar com maior barra que se acha em toda esta Província, e por ela entram todos os navios e embarcações grandes, que trazem fazenda para os mercadores da cidade de Faro” (Alberto Iria, "O Compromisso Marítimo da vila de Olhão da Restauração", in Mensário das Casas do Povo, n.º 120). Como atrás ficou dito, as movimentações dos areais fizeram com que a fortaleza da Ilha de São Lourenço fosse pouco funcional. De facto, um novo cordão dunar "desviou" a abertura da barra, sendo que em 1747 foi construída uma nova fortaleza, desta vez na Ilha da Armona. O terramoto de 1755 arrasou completamente esta última fortaleza, tendo melhor sorte, apesar de também abalada, a fortaleza da Ilha de São Lourenço. Datam dessa época os primeiros requerimentos que os pescadores olhanenses fizeram às autoridades para que lhes permitissem a separação da Confraria do Corpo Santo de Faro, pois desta não colhiam benefícios. Mas os pedidos ficavam em "águas de bacalhau", talvez pelo facto de Olhão não ter nenhuma aristocracia, facto atestado segundo as palavras do prior Sebastião de Sousa, em 1758: "não há memória que desta freguesia saísse pessoa alguma insigne em virtude, letras ou armas, nem esperança de que a haja". Mas em 1765, finalmente, D. José I atende ao pedido dos pescadores de Olhão, criando assim o Compromisso Marítimo de Olhão, com “as mesmas isenções, privilégios e liberdades concedidas ao de Faro”. Graças à habilidade marítima dos olhanenses, o seu Compromisso tornou-se rapidamente o mais rico do Algarve e, inevitavelmente, tornou-se também o grande responsável pelo desenvolvimento do lugar.
Durante o cerco de Gibraltar, entre 1779 e 1783, e, mais tarde, o de Cádis, os marítimos do lugar de Olhão tiveram oportunidade de progredir economicamente, comercializando com grandes lucros os produtos da terra - peixes e derivados - quer com sitiantes quer com sitiados. Mas foram as invasões francesas que deram a oportunidade a Olhão de se afirmar politicamente. Provavelmente devido ao seu espírito igualitário, sem compromissos com quaisquer poderes instituídos, os olhanenses protagonizaram no séc. XIX a primeira sublevação bem sucedida contra a ocupação francesa (em 16 de Junho de 1808, actualmente o dia da Cidade), que se tornou um rastilho decisivo para a expulsão dos franceses do Algarve. 
Vila de Olhão da Restauração - Depois da revolta olhanense contra os franceses (entre 16 e 19 de Junho de 1808), alguns pescadores do lugar de Olhão ofereceram-se para ir ao Brasil divulgar ao futuro D. João VI a notícia da restauração do Reino do Algarve. O caíque Bom Sucesso, como se chamava a embarcação, chegou ao destino no dia 22 de Setembro de 1808, espantando o próprio príncipe regente, que recompensou e condecorou os olhanenses com diversos cargos, mas no dia 15 de Novembro, através de alvará, o mesmo monarca concedia ao lugar de Olhão o nobre título de VILA DO OLHÃO DA RESTAURAÇÃO, igualando-a às "vilas mais notáveis do Reino".

Bandeira de Olhão (da Restauração)

Cultura e Turismo

          Existem, no concelho de Olhão, monumentos e locais que, pela sua importância histórica e arquitectura singular se destacam, devido ao papel que desempenharam na construção do seu passado. Conhecê-los é conhecer Olhão. Os Mercados Municipais de Olhão, um dos ex-libris da cidade olhanense, começaram a ser construídos em 1912, sendo inaugurados quatro anos depois. Há quase um século que são um dos postais ilustrados de Olhão e locai de visita obrigatória para turistas e residentes.
Foram construídos roubando espaço à Ria, consolidando-se as edificações através de um processo conhecido por bate-estacas, ficando cada um dos edifícios apoiado em oitenta e oito estacas, ligados entre si através de arcos de alvenaria de tijolo. É um local a visitar, por estes e outros motivos.
Exemplo modelar da arquitetura do ferro e do vidro, o edifício, com enorme impacto urbanístico, em tijolo aparente e estrutura metálica, foi edificado para dotar a cidade de Olhão de uns mercados funcionais, o que veio a acontecer. Todos os dias, centenas de pessoas visitam os Mercados, em busca do melhor peixe, frutos e verduras. De planta longitudinal, os Mercados são compostos por dois espaços retangulares de vértices arredondados, correspondendo ao Mercado das Verduras e ao Mercado do Peixe, sendo ambos delimitados por quatro torreões circulares envidraçados. Submetidos a obras de reabilitação nos finais do século XX, mantêm o aspeto exterior, reabrindo ao público em 1998. Uma das novidades mais recentes é o seu interior, forrado com azulejos pintados por Costa Pinheiro. 
O jardim Pescador Olhanense é um óptimo espaço de lazer da cidade, atrai a população e visitantes para momentos de passeio e convívio. Durante o ano, decorrem neste local vários eventos de índole cultural. Neste jardim encontra-se implantado um coreto, construção do século XX e excelente exemplo de arquitetura civil, de planta hexagonal com estrutura em metal que suporta uma cobertura semicircular. Nos vários bancos dispostos neste jardim, podemos contemplar painéis de azulejos que retratam a revolta do povo olhanense contra os franceses e a viagem do Caíque Bom Sucesso ao Brasil. É um dos postais ilustrados de Olhão, logo à entrada e junto à Ria Formosa, para quem chega de fora.
O jardim Patrão Joaquim Lopes é um espaço verde e de lazer situado junto à Ria Formosa, inaugurado em 1967, no qual podemos encontrar o monumento ao Patrão Joaquim Lopes, olhanense que se distinguiu pela sua valentia, tendo efetuado inúmeros salvamentos de naufrágios. Aqui, perto do local onde se apanham os barcos que fazem a travessia para as ilhas da Ria Formosa (Culatra, Armona e Farol), o mar e a história de tempos áureos conjugam-se. Com uma bela vista sobre a Ria, este jardim acolhe várias espécies arbóreas, tornando-se um local agradável para repouso e convívio.
O Compromisso Marítimo de Olhão alberga, atualmente, o Museu da Cidade. É um edifício de grande valor histórico e que merece uma visita até porque, para além da sua própria história, exibe durante o ano várias exposições temporárias ou permanentes sobre temas relacionados com a cidade e o concelho. 
Data de 1768 a escritura pública com os dois mestres canteiros escolhidos para a realização da obra: João dos Santos Tavares e Álvaro da Silva. O edifício, de dois pisos e três frentes com um tratamento cuidado do frontispício, ficou concluído três anos depois, conforme se pode ler na sua fachada “Esta obra foi feita à custa dos mareantes da Nobre Casa do Corpo Santo deste lugar de Olhão, em tempo do Felicíssimo Reinado do Fidelíssimo Rei Senhor D. José, o Primeiro, que Deus guarde, sendo Juiz da mesma Casa, António de Gouveia, no ano de 1771”.
O Compromisso Marítimo de Olhão, criado para apoiar os pescadores da cidade possuía, no piso térreo, uma botica (farmácia) e um açougue para serviço dos mareantes. No andar nobre localizava-se a Sala dos Despachos que apresenta uma pintura no forro de madeira da cobertura onde se destaca o brasão das armas reais portuguesas.




Gastronomia

                A gastronomia de Olhão e do litoral sabe a mar. E saboreia-se no peixe fresco grelhado, no marisco variado e também nas suculentas amêijoas que dão sabor à bem algarvia cataplana.
As receitas dos pescadores, de fácil preparação, merecem também a atenção de quem gosta de boa comida. A lista é longa, e inclui desde o safio guisado aos chocos com favas, da pescada e do cherne cozidos às lulas abafadas, do berbigão guisado e arroz de lingueirão ao xarém com conquilhas. Para o interior, a cozinha fala de campo, de agricultura: feijão com arroz e castanhas, grão com massa e ervilhas com ovos, preparadas com toucinho, chouriço e carne de porco.
Os doces são uma tentação: bolachas bêbedas (com aguardente a integrar a sua confecção), figos cheios, bolo de figo, empanadilhas e bolo de laranja e amêndoa são saborosas maneiras de acabar uma refeição.

                                                                                                          Xerém com ameijoas 
Xerém com AmêijoasChoco com Favas
Chocos com favas 

Folar à Moda de Olhão
Folar à moda de Olhão