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segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Viagem e visita ao concelho de Lagoa - Açores

Brasão de Lagoa

Localização

          A Lagoa é uma cidade situada na costa sul da ilha de São Miguel, Açores, é sede de um pequeno município com 45,57 km² de área e subdividido em 5 freguesias. O município é limitado a norte pelo município da Ribeira Grande, a leste por Vila Franca do Campo, a oeste por Ponta Delgada e a sul pelo Oceano Atlântico.




História

         A Lagoa começou a ser povoada pouco depois da descoberta da Ilha de S. Miguel. Os seus primeiros habitantes estabeleceram-se nos locais, onde mais tarde surgiram, as vilas de Lagoa e Água de Pau. A Lagoa foi o local escolhido pela sua abrigada enseada, tornando-se desde cedo local de embarque e desembarque. Foi a partir do Porto dos Carneiros que foi lançado gado, incluindo carneiros, e outros animais na Ilha.
A villa d’ALagoa, chamada assim por uma que teve defronte da porta da Egreja principal acima d’um recife e porto que tem onde podiam entrar bateis, na qual antigamente se tomou já muito pescado, por entrar ás vezes o mar nela, e bebia o gado e nadavam por passatempo algumas pessoas (…).” Gaspar Fructuoso. O próprio nome de Lagoa é elucidativo de como os primeiros povoadores escolhiam lugares propícios à sua fixação. Nela encontraram água e um porto de abrigo, foi na zona da actual Igreja de Santa Cruz que os fundadores da então Vila da Lagoa se fixaram (junto a uma lagoa ali existente, razão do nome atribuído ao povoado). Ao longo do séc. XV, a população da ilha não cessa de aumentar e na Lagoa o seu povoado foi-se desenvolvendo para oeste, em direcção a uma baía que acolheu os primeiros barcos de pesca: o Porto dos Carneiros. A leste da Lagoa foram-se fixando algumas famílias atraídas por prometedoras terras de cultivo e um excelente curso de água – Água de Pau.
Graças ao seu progresso social e económico, Água de Pau viria a ser elevada a Vila em 1515 e foi sede de Concelho por 338 anos, (altura em que é incorporada no Concelho de Lagoa). A 11 de Abril de 1522 a Lagoa é elevada a Vila e sede de Concelho, altura em que já contava com 1600 habitantes e 300 habitações. Em 1522 quando a Lagoa foi elevada a Vila era considerada uma das melhores regiões agrícolas da ilha, predominando as culturas de trigo, do pastel e do vinho. O seu porto desempenhava um papel importante na actividade económica (exportação de trigo e venda de peixe). Entretanto, a introdução da cultura de laranja e a subsequente exportação para a Europa fez prosperar a Vila de Lagoa e Água de Pau. A construção de moradias intensifica-se assim como solares e capelas. A prosperidade acentuou-se no séc. XIX quando a Vila de Lagoa viu surgir fábricas de cerâmica e destilação de álcool. No séc. XX, surgiram novas fábricas, designadamente de óleo vegetal, sabão e de ração para animais. A exploração agro-pecuária e a pesca também ganharam expressão no Concelho.
No final do séc. XX e na actualidade o sector terciário assume-se como o principal empregador do Concelho (58,2% da população activa) e o número de empresas deste sector sedeadas na Lagoa, cresceu na ordem dos 17,2%, de 2001 para 2004. Na actualidade, pode-se afirmar que a Lagoa começa a despontar para o desenvolvimento turístico e as empresas de serviços começam a crescer em número e em importância na economia do Concelho.

Bandeira de Lagoa

Heráldica

Bandeira – Esquartelada de vermelho e de branco, com as armas ao centro e por baixo do escudo um listel branco com a palavra Lagoa, de negro; haste e lança douradas. Cordões e borlas de vermelho e de prata.

Armas – De prata, com uma cruz maçanetada de vermelho; em chefe em acorde negro segurando nas garras um escudete de quinas. 

Selo – Circular, tendo ao centro as peças das armas, sem indicação dos esmaltes. Em volta, dentro de círculos concêntricos, os dizeres “Câmara Municipal de Lagoa”.

Cultura e Turismo :

            A imaginação é uma das principais características do povo açoriano, o que leva a inimagináveis horizontes. Os Artesãos de Flores de Escamas de Peixe são um exemplo de criatividade ilimitada e habilidade manual inata. No entanto, é importante salientar a paciência e sensibilidade destes artesãos no domínio das suas técnicas. Estes artefactos são verdadeiras maravilhas, buscando de certa forma, a perfeição. As escamas de peixe, depois de lavadas, escolhidas e recortadas, com o auxílio de uma pequena tesoura, tomam a forma de flores, que se agrupam em ramos com fio de canotilho e que são adornadas de prateados fios e pequenas pérolas. Este é um produto emblemático do artesanato açoriano. O fabrico de bonecos de presépio é uma tradição da Vila da Lagoa. Muitas destas figuras são produzidas em oficinas improvisadas no espaço doméstico, em horário pós-laboral. Esta é uma das formas encontradas para angariar fundos para o sustento familiar, embora também constitua uma forma de ocupar os tempos livres.
O processo técnico de feitura obedece a determinadas regras e técnicas, pois, sendo um processo artesanal, o fabrico de peças é único e inigualável. As figuras dos presépios da cidade de Lagoa encontram-se espalhados por várias partes dos Açores e, ainda, pelas comunidades de emigrantes do Canadá e Estados Unidos da América. Esta tradição implantada pelos Mouros, mantém-se há centenas de anos. Na Vila de Água de Pau, havia grande quantidade de linho de russo (espadana) e do próprio linho. Existiam diversas fábricas que produziam cordas e paralelamente a estas cordas, os capachos. Ainda num passado recente, era possível ver grupos de mulheres sentadas nos capachos, também conhecidos por esteiras. Estes capachos também eram utilizados para secar os cereais. Actualmente, para além dos capachos de porta de diversos tamanhos, também são produzidos capachos decorativos para o chão, a parede e cordas, os grandes mestres desta arte foram José Medeiros Carreiro e Manuel Tavares, ambos naturais da Vila de Água de Pau. Actualmente, apenas dois artesãos dedicam-se a esta arte tradicional. 
O Concelho de Lagoa proporciona aos amantes da natureza uma excelente oferta paisagística, constituindo no seu todo, um óptimo cartão-de-visita, impressionando todos os que por aqui passam. 
O ex-libris turístico do Concelho é constituído pelo lugar da Caloura. Vinhedos entre muros de pedra negra, o típico porto protegido pela alta falésia de rochas vulcânicas e o conventinho caiado de branco, fazem as delícias dos seus visitantes. Não se trata de uma praia, mas sim de um porto, com uma piscina natural e vários acessos ao mar por escadas e cobiçada pelas suas águas límpidas. O fundo do mar é coberto por cascalho e alguma areia. Mesmo ao lado existe um pequeno porto de pesca artesanal, com uma moderna rampa de varagem e câmara frigorífica e apresenta sempre um aspecto muito limpo, por se tratar de uma obra recente. Nesta zona, existe um bar com esplanada, que serve refeições, e dois balneários. Beneficiando de um microclima favorável, a Caloura é um lugar de veraneio muito procurado. Oferece a oportunidade de um refrescante banho de mar nas águas transparentes do seu porto, galardoadas com o Programa Bandeira Azul. Daí ser considerada um paraíso junto ao mar, o acesso é feito por uma estrada regional, tendo estacionamento com capacidade para 100 veículos. Aqui, realizam-se diversas actividades culturais durante o ano, sendo a mais relevante a Festa do Pescador, que atrai milhares de forasteiros à Caloura. Esta festa inclui festival de folclore e várias actividades náuticas. O serviço de apoio no Porto da Caloura é composto por um nadador salvador e um vigilante, diversos equipamentos de salvamento, um pequeno porto com rampa de acesso para actividades náuticas (barcos e motas), contentores e papeleiras de lixo, ainda em Água de Pau, no Pico da Figueira, temos o Miradouro do Monte Santo, onde se pode desfrutar de um belíssimo panorama das redondezas. Mais acima, na Estrada Regional entre esta Vila e a freguesia da Ribeira Chã, encontra-se o Miradouro do Pisão, que oferece uma linda panorâmica sobre a região da Caloura e a costa sul da ilha de São Miguel, paisagem esta que ganha outra perspectiva, lá em baixo, no miradouro junto ao Convento. Em Água de Pau, pode ainda passar pelo Jardim dos Anjos. Inicialmente construído nos anos sessenta, este tem passado por diversas remodelações, tendo sido a última em 1991. Situa-se em frente à Igreja Paroquial desta Vila. A freguesia de Santa Cruz abriga o parque florestal Chã da Macela, com uma extensa área onde crescem várias espécies vegetais, umas endémicas (louro, queiró, urze, cedro do mato, uva da serra), outras introduzidas (araucárias, criptomérias, cedros, acácias, pinheiros). Aqui, além da exuberante vegetação, pode admirar os animais que aí habitam, aproveitar para descansar nos verdejantes espaços de lazer e admirar a paisagem do centro da ilha a partir do seu miradouro.
Outro miradouro encontra-se mais acima, no Caminho do Lagoa do Fogo, oferecendo outra admirável perspectiva sobre a ilha. O Jardim do Convento dos Franciscanos é um dos mais importantes pontos turísticos da freguesia de Santa Cruz. No Rosário, no Largo do Porto dos Carneiros, situa-se a baía onde aportavam os primeiros barcos de pesca da Lagoa. Foi na zona do actual porto que antes do início do povoamento foi lançado gado na ilha, de modo a alimentar os futuros povoadores, daí o nome de Porto dos Carneiros, este local, que recentemente foi alvo de obras de beneficiação, apresenta uma arquitectura muito interessante, onde se destaca o bonito edifício “Mercado de Peixe”, actual Lota. É uma bonita zona de lazer com excelentes restaurantes.  Ainda no Rosário, aprecie um dos melhores complexos de piscinas da ilha de São Miguel – Complexo Municipal de Piscinas de Lagoa. Situado na Rua Cidade de New Bedford, este complexo surge como um verdadeiro “monumento” em homenagem a todos os que gostam do sol e do mar. Além de uma piscina coberta, possui piscinas naturais, uma piscina semi-olímpica, piscinas para crianças e excelentes infra-estruturas de apoio, como bar com esplanada, vestiários, sanitários e parque de estacionamento. Trata-se de um conjunto de baixios que se estendem de forma irregular por cerca de 150 metros, numa zona em que a costa se apresenta bastante recortada e em que se fez o seu aproveitamento para espaço de lazer. É de salientar que esta não é uma obra de hoje. No local que deu origem ao actual Complexo de Piscinas já existia anteriormente a chamada Piscina Municipal, mas que em virtude do temporal a 26 de Dezembro de 1996, que causou avultados prejuízos, houve necessidade de se proceder a obras de recuperação. Este Complexo goza de uma adequada integração paisagística, possui excelentes condições técnicas e preserva as excepcionais condições costeiras, nomeadamente a qualidade das suas águas, que por isso mesmo tem alcançado ano após ano a Bandeira Azul. Por tudo isto, pode-se dizer que o Complexo Municipal de Piscinas na Lagoa usufrui de condições únicas, para que os amantes do sol e do mar possam passar os seus dias de férias de forma inesquecível. Ao sol, associa-se o cheiro da maresia, um céu azul, águas límpidas e transparentes que permitem um horizonte de emoções e pensamentos, num espaço que é rico em convívio e boa disposição. A Praça de Nossa Senhora da Graça também é uma área de agradável permanência e lazer, existindo um anfiteatro ao ar livre, destinado a manifestações de âmbito cultural e recreativo. Largo de Ville Sainte Thérèse, na Freguesia do Rosário, advém de um protocolo, realizado no ano de 1996, entre o Concelho da Lagoa e a Ville de Sainte Thérèse, no Canadá. Este largo simboliza a amizade existente entre as duas comunidades.

Ermida e convento da Caloura: Ex-líbris da Vila de Água de Pau

       No formoso Vale de Cabaços, próximo do seu porto, entre as rochas moldadas pelo fogo dos vulcões, incessantemente batidas e galgadas pelo mar do Atlântico, ergue-se a ermida do convento da Caloura.


A construção do convento da caloura remonta ao século XVI, mas o seu atual aspeto é setecentista. Este foi o primeiro estabelecimento religioso feminino de todo o arquipélago açoriano, trata-se, por conseguinte, de uma das mais genuínas e valiosas relíquias do património religioso do concelho de Lagoa, atualmente, a ermida e convento da Caloura formam um conjunto arquitetónico que se assemelha à letra U, com abertura virada para poente, em que o corpo norte é constituído pela ermida, corredores anexos, sacristia e algumas celas, tendo-se a partir deste núcleo inicial e, conforme as necessidades, desenvolvido para sul a restante parte do imóvel. Erigido provavelmente no século XVII, em substituição de um templo primitivo, contrasta dos restantes edifícios pela sua riqueza. Em obra de cantaria, a gramática decorativa da fachada poderá situar-se no final do século XVII. O corpo central do frontispício é completamente revestido de azulejos de padrão de fundo azul, os quais são de modelo muito raro. O interior do templo é um autêntico relicário de arte religiosa dos séculos XVII-XVIII. O corpo da ermida está revestido por um raro conjunto de azulejos policromados, apresentando o altar-mor um retábulo de talha dourada com peculiares anjos de farto bigode e valiosas imagens. O ilustre etnógrafo Luís Bernardo Leite de Atayde afirma que “a Recoleta da Caloura contém repositório azulejar a fazer inveja a muita igreja maior ou a museu.” A imagem do “Ecce Hommo”, comummente conhecida por Senhor Santo Cristo dos Milagres está também ligada a esta Recoleta. Outrora, trazida para a Caloura, precisamente para este Convento, é agora venerada no Convento da Esperança, tornando-se o fulcro das maiores festas religiosas que se celebram no arquipélago dos Açores. Crê-se ter sido oferecida pelo Papa Paulo III a duas freiras do Convento da Caloura, tendo-se ali mantido até à saída das últimas freiras, que a levaram consigo para o Convento da Esperança, em Ponta Delgada.

A história desta Casa Recoleta remonta a 4 de julho de 2525, altura em que a Vila Franca do Campo estava a sofrer com os malefícios da peste. Para escapar à devastação deste mal contagioso, um nobre varão chamado Jorge da Mota, Cavaleiro do Hábito de Avis, fugiu para uma quinta sua e aí criou a sua filha Petronilha da Mota, mais tarde, Maria de Jesus (nome religioso) que logo fez amizade com Maria dos Anjos. Estas decidiram servir a Deus na condição de se tornarem religiosas numa ermida em Santa Clara, em Ponta Delgada. No entanto, nunca chegaram ao destino inicial pretendido, pois ao chegarem ao cume da ladeira do Pisão e vendo no vale da Caloura uma ermida dedicada a Nossa Senhora da Conceição decidiram que tinha sido inspiração divina fazerem morada nessa mesma ermida. Viveram as duas companheiras na ermida, seis meses, numa clausura total. Só depois, outros peregrinos, ao verem a devoção das duas amigas, acabaram por se juntar a estas. Com a Bula Apostólica, o Convento passa a ser aceite oficialmente como mosteiro e aí, durante dez anos viveram 27 freiras. No entanto, como o mosteiro estava junto ao mar e era um lugar despovoado, as freiras temiam os piratas que naquela altura navegavam aqueles mares. Isto obrigou as freiras a se mudarem daquele mosteiro e, consequentemente, a fundarem um outro em Vila Franca, o Mosteiro de Santo André. Também mais tarde, outras freiras, da mesma Casa Recoleta da Caloura, fundaram o Convento de Nossa Senhora da Esperança, na cidade de Ponta Delgada. Ficou, deste modo, o Convento da Caloura deserto até ao ano de 1663, altura em que o Bispo D. João Pimenta D’Abreu deu licença aos Eremitas de Nossa Senhora da Conceição para o virem habitar, uma vez que o convento destes tinha sido destruído pelos sismos e vulcões que na altura assolavam as Furnas.  Atualmente pertence aos herdeiros de António de Albuquerque Jácome Correia. Classificado pelo Governo Regional como Imóvel de Interesse Público, o Convento da Caloura, é realmente uma obra religiosa de grande valor cultural, arquitetónico e patrimonial.
                                                                                                               Jardim dos Anjos
Miradouro da Caloura 


Convento dos Franciscanos 


Gastronomia

             A gastronomia do Concelho de Lagoa, baseada nos produtos da terra e do mar, satisfaz as delícias do apreciador de boa mesa. O “caldo verde”, a “sopa de feijão”, os “torresmos de molho de fígado”, as “lapas de molho Afonso” e a “caldeirada de peixe” são pratos tradicionais da Lagoa. O pão de trigo ou de milho, de fabrico caseiro, ou o “bolo de sertã” servem para acompanhar o prato principal. Os doces têm cariz popular e destaca-se a típica “massa sovada”, o “arroz doce” e as “malassadas”.

                                                                                               Torresmos com molho de figado 

Lapas de molho afonso 

                                                                                                     Malassadas 
Massa sovada