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segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Conventos de Portugal - Convento de Nossa Senhora dos Mártires e da Conceição dos Milagres - Sacavem


Localização : 

          O actual convento de Nossa Senhora dos Mártires e da Conceição dos Milagres, situado na freguesia de Sacavém, no lugar de Sacavém de Baixo, assenta sobre o local onde outrora se achavam as ruínas de uma antiga ermida dedicada a Nossa Senhora dos Mártires, cuja fundação a tradição atribui a D. Afonso Henriques, logo após a mítica Batalha de Sacavém. Hoje em dia é a sede do Batalhão de Adidos do Exército Português.



História : 

           Em 26 de Junho de 1578, pouco antes de partir para Alcácer-Quibir, D. Sebastião concedeu a este convento tantas esmolas quantas ao de Enxobregas (Xabregas), por carta de 27 de Janeiro de 1580, o cardeal-rei D. Henrique mandou dar execução ao breve papal.
Concluída a construção, vieram para o convento, em 13 de Outubro de 1581, oito religiosas sujeitas a clausura. A primeira abadessa (que de resto já exercia a mesmo função na Madre de Deus) foi Sóror Vicência de Jesus, filha do Marquês de Vila Real. Ao longo dos anos, muitas filhas da nobreza se acolheram no convento de Sacavém, entre as quais se contam Sóror Catarina de Jesus, condessa de Matosinhos (conhecida no século como Catarina de Sá), ou Sóror Maria do Espírito Santo, que renunciou ao casamento com o visconde de Vila Nova de Cerveira, em troca do retiro religioso; eram ambas irmãs, filhas de um João Rodrigues de Sá, Vedor da Fazenda do Porto.
Em 3 de Março de 1582, Filipe II concedeu ao convento, pela fazenda real, 500 mil réis; pelas obras pias praticadas, 10 arrobas de açúcar, entre outros privilégios. Em 21 de Julho de 1584, Miguel de Moura fez carta de doação, em Sacavém, do seu direito de padroado e das suas casas no local, ao próprio convento, tendo a escritura sido efectuada pelo tabelião António Serrão. Esta doação foi aprovada e confirmada por Filipe II, em carta régia de 16 de Novembro do mesmo ano.
A 11 de Outubro de 1587, D. Jorge de Almeida, arcebispo de Lisboa, confirma também a doação anteriormente feita. Como a terra de Sacavém integrasse uma das honras do Duque de Bragança, e devesse por isso certos direitos senhoriais àquele, decidiu o Duque D. Teodósio eximir o Convento do pagamento de tais impostos, mediante a condição de se rezarem missas por sua alma. Em 4 de Novembro de 1593, Filipe II tomou o convento «para todo o sempre em sua real protecção, favor e amparo», estendendo aos seus herdeiros e descendentes este privilégio, Criou-se entretanto um convento para frades, a fim de estes oficiarem missa às religiosas e os demais ofícios divinos. Nesse sentido iniciou-se a construção da igreja conventual dedicada a Nossa Senhora da Conceição dos Milagres e dos Mártires. A primeira pedra da igreja conventual foi assente num Domingo, 1 de Setembro de 1596. A cerimónia decorreu com grande pompa, tendo celebrado o ofício divino o Patriarca de Jerusalém, legado do Papa; estiveram presentes Miguel de Moura e sua esposa, acompanhados por alguma da mais alta fidalguia do reino, entre a qual se contava o conde de Penaguião, D. João Rodrigues de Sá (camareiro-mor do Reino) e o conde de Tarouca, D. Luís de Menezes. Morto Miguel de Moura em 30 de Dezembro de 1600, sem ver a igreja conventual concluída, sua mulher recolheu-se ao convento, enriquecendo-o com as inúmeras relíquias de santos que aí mandou colocar.
Em 5 de Setembro de 1650, D. João IV concedeu ao convento, pelo almoxarifado do reguengo de Sacavém, moio e meio de sal.



Descrição :

          De planta longitudinal composta pela justaposição de 2 rectângulos (nave e capela-mor), volumetria escalonada, cobertura diferenciada efectuada por telhados a 2 águas e em coruchéu. Em reboco pintado, alçado principal coincidente com alçado lateral ( O.) composto por 2 corpos correspondentes às duas entidades espaciais que definem o interior. O corpo a N., (nave) apresenta pano de muro ritmado por duplas pilastras de cantaria, assinaladas superiormente por pináculos piramidais, que definem assim 3 módulos animados no extremo N., por portal de verga recta de acesso ao templo - encimado por entablamento suportado por pilastras animadas por consolas e sobrepujado por frontão triangular interrompido por cruz ao centro, ladeado por pináculos. O portal é encimado ao nível do remate da fachada, por janelas iluminantes com capialço acentuado para o lado exterior, também presentes nos outros módulos. Recuado, o corpo a S. é delimitado por pilastra análoga às descritas, ostentando apenas uma janela iluminante também idêntica às mencionadas. O edifício é superiormente rematado por cornija continuada. Destaca-se a cabeceira do templo, pela incorporação no alçado, de uma torre em cantaria ao centro, com 4 ventanas sineiras, - definida por pilastras no mesmo material ostenta nicho a albergar figuração escultórica de Nossa Senhora sobrepujado por entablamento a terminar em frontão angular; precedida de relógio a torre é rematada por coruchéu piramidal hexagonal e por pináculos. 

INTERIOR: nave única com cobertura em abóbada de nervuras, muros revestidos por lambril azulejar historiado e a presença de cada lado, de altares inscritos em arcos de volta de perfeita em cantaria, delimitados superiormente por verga recta destacada suportada por pilastras ornadas com sugestões de capitéis jónicos. Precede a capela-mor, arco triunfal de volta perfeita em cantaria, articulado com 2 vãos de volta perfeita no mesmo material os quais definem altares colaterais com peanhas: Com cobertura em abóbada de aresta a capela-mor ostenta crucifixo no muro de topo.


Vista do claustro do Convento

Fundação : 

             Em 1577, reinando D. Sebastião, fez o monarca doação da Ermida dos Mártires a Miguel de Moura, seu escrivão da puridade e futuro membro do conselho de governadores do reino (no tempo de Filipe II de Espanha), que possuía uma quinta em Sacavém contígua ao terreno da ermida e que pedira ao soberano uma mercê a fim de edificar um convento de religiosas, em memória de um milagre que afirmou ter testemunhado. Com efeito, segundo as memórias do próprio Miguel de Moura, em Dezembro do ano anterior, D. Sebastião partira em peregrinação ao santuário de Nossa Senhora de Guadalupe, em Espanha, acompanhando-o o seu secretário nessa viagem.
Pouco depois da partida, estalou um incêndio na Pampulha, perto de um armazém onde se guardava a pólvora, originando-se violenta explosão, que atingiu os prédios onde residia a esposa de Miguel de Moura, D. Brites (Beatriz) da Costa. Ante o estrépito, esta prostrou-se de joelhos diante de uma imagem de Nossa Senhora da Conceição, mas nem isso impediu que o edifício onde se encontrava fosse um dos mais atingidos, ficando reduzido praticamente a um monte de escombros. D. Beatriz ficou soterrada, e só a muito custo se salvou, cheia de feridas e escoriações. Perante esta notícia, Miguel de Moura desejou regressar atrás, o que o rei não lhe permitiu. Fez, porém, promessa de erigir um convento e uma igreja em honra da miraculosa salvação da sua esposa, como prova de gratidão perante a divindade, como Miguel de Moura possuiria já uma quinta junto da ermida dos Mártires, pediu a el-rei a posse do terreno da mesma, a fim de ali construir novo convento, e assim cumprir o seu voto.
O soberano mandou então saber ao certo o que se passara em Sacavém em 1147 para se ter erigido aquela ermida, tendo aí enviado um desembargador a fim de haver notícias concretas sobre a peleja travada contra mouros. Descobriu-se então um velho livro, conservado no eremitério de Nossa Senhora dos Mártires, que continha um relato da fundação da dita ermida por D. Afonso Henriques, o que corroborava a história contada pelos moradores do lugar. Por um breve de 14 de Junho de 1577, o Papa Gregório XIII concedeu a Miguel de Moura a possibilidade de fundar, à sua custa, o convento e cedeu-lhes o direito de padroado, assim como autorização para trazer, do convento da Madre de Deus, em Lisboa, freiras de clausura da Segunda Ordem Franciscana Capuchinha (uma ordem derivada da Ordem de Santa Clara, fundada por Santa Clara de Assis e reformada por Santa Coleta), pertencentes à Província Franciscana do Algarve. A 25 do mesmo mês era a vez de a Ordem dos Frades Menores dar a sua autorização para a construção do convento.
Enfim, faltava a aprovação régia; devidamente confirmadas as origens da antiga ermida, o rei D. Sebastião assinou, em Salvaterra de Magos, o alvará da concessão feita a Miguel de Moura em 8 de Dezembro de 1577. A edificação do mosteiro, com a dupla invocação a Nossa Senhora dos Mártires (em honra dos mortos na batalha de Sacavém) e a Nossa Senhora da Conceição dos Milagres (em lembrança do acontecimento que salvou a vida de D. Brites da Costa), iniciou-se a 13 de Dezembro do mesmo ano, tendo a primeira pedra conventual sido assentada pelo próprio Miguel de Moura.


Azulejos no claustro do Convento


Extinção do Convento :

                Em 1834, aquando da extinção das ordens religiosas (na sequência dos decretos de Joaquim António de Aguiar, dito O Mata-Frades), os rendimentos do convento ascendiam a 2 875$700 réis. Embora o mosteiro não tenha sido de imediato nacionalizado (ao contrário do que sucedeu com os conventos masculinos), foi proibida a admissão ao noviciado de novas freiras, o que, a longo prazo, ditou a sua extinção. Em 1863, existia já só uma freira, a qual, tendo sido intimada a sair para outro convento, recusou; porém, vendo que poderia ser metida à força na rua, tratou de vender quadros sacros, alfaias religiosas, e tudo o mais que no convento encontrou que pudesse dar dinheiro – desta forma parte do seu património se espalhou ao desbarato por Sacavém e arredores; algumas peças estão ainda hoje na posse de particulares locais.
Nesse mesmo ano, a 11 de Abril, a Igreja conventual foi elevada à dignidade de Matriz, por dispensa do Cardeal-Patriarca de Lisboa D. Manuel Bento Rodrigues; nessa altura, a padroeira da Igreja tornou-se Nossa Senhora da Purificação, até hoje o orago maior da freguesia de Sacavém. Em Fevereiro de 1877 procedeu-se à inventariação dos objectos do convento, tendo a freira sido enfim transferida, a seu pedido, para o convento de Santana, em Lisboa. Por fim, por decreto de 24 de Maio de 1877, o edifício foi entregue ao Ministério da Guerra (actual Ministério da Defesa Nacional), com exclusão da Igreja e algumas casas adjacentes, onde funciona desde então a residência do padre. No convento esteve em tempos instalado o Regimento de Artilharia Pesada 1 (RAP1 ), o qual participou na defesa do regime aquando da revolta de 26 de Agosto de 1931 contra a ditadura militar; posteriormente, a Escola Prática do Serviço de Material (EPSM) e, presentemente, o Batalhão de Adidos do Exército Português.
Desde o ano de 2012 que passou a chamar-se The Hive, visto ser o campo de treino da equipa de airsoft Portuguesa KILLER BEES, onde já foram feitos vários jogos de cariz solidário com mais de 200 jogadores.




segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Conventos de Portugal - Convento de Cristo - Tomar


Localização :

          O Convento de Cristo é um monumento na cidade de Tomar (freguesia de S. João Baptista), classificado pela UNESCO como Património Mundial. Foi fundado em 1160 pelo Grão-Mestre da Ordem dos Templários, dom Gualdim Pais, e ainda conserva memórias desses monges cavaleiros e dos herdeiros do seu cargo, a Ordem de Cristo, os quais fizeram deste edifício a sua sede. Sob Infante D. Henrique o Navegador, Mestre da ordem desde 1418, foram construídos claustros entre a Charola e a fortaleza dos Templários, mas as maiores modificações verificam-se no reinado de D. João III (1521-1557). Arquitectos como João de Castilho e Diogo de Arruda procuraram exprimir o poder da Ordem construindo a igreja e os claustros com ricos floreados manuelinos que atingiram o máximo esplendor na janela da fachada ocidental. Trata-se de uma construção periurbana, implantada no alto de uma elevação sobranceira à planície onde se estende a cidade. Está circundado pelas muralhas do Castelo de Tomar e pela mata da cerca.
Actualmente é um espaço cultural, turístico e ainda devocional. A arquitectura partilha traços românicos, góticos, manuelinos, renascentistas, maneiristas e barrocos.



História : 

            O Convento de Cristo está inserido num dos maiores conjuntos monumentais, no espaço e no tempo da arquitectura peninsular e europeia. Abrange uma vasta área de quarenta e cinco hectares, dos quais cinco correspondem ao Castelo Templário e ao Convento de Cristo, sendo a restante a antiga cerca conventual, hoje designada como Mata dos Sete Montes.
A seis séculos de construção correspondem os maiores investimentos e as mais importantes obras, aqui presentes mais do que em qualquer outro conjunto edificado em Portugal, num esforço que não abrandou, mesmo durante a regência filipina do reino de Portugal. A construção, iniciada em 1160, do Castelo de Tomar, recinto fortificado, exemplar magnífico da arquitectura militar, onde se destacam a torre de menagem na alcáçova e a muralha exterior com alambor, constituiu o primeiro grande impulso de edificação deste conjunto monumental, acompanhado pela construção da Charola templária.
Sob a administração do Infante D. Henrique, governador da Ordem de Cristo, a antiga alcáçova e o convento templário viriam a ser integrados, já depois da extinção dos Templários (1312), no Paço do Infante (1420-1460), ao mesmo tempo que se construíam os claustros góticos da Lavagem e do Cemitério.
A Charola, um dos mais raros e emblemáticos edifícios de planta poligonal, centralizada, segundo o modelo oriental do Templo da Rocha de Jerusalém, tipologia rara no românico europeu, tinha a sua entrada a nascente. Esta orientação viria a ser alterada na campanha manuelina do início do séc. XVI, dando lugar à abertura do extraordinário arco triunfal, a poente e à execução do portal sul, nova entrada da igreja da autoria de João de Castilho, concluído em 1515. Desta época é, também, a profusa decoração, quer da abóbada, quer do deambulatório e tambor central, com motivos arquitectónicos, figurativos e vegetalistas de forte simbolismo. A pintura sobre madeira, de grandes dimensões, atribuída a Jorge Afonso, representa, no seu conjunto, cenas da vida de Cristo. As esculturas em madeira policromada, representam profetas e santos da Igreja e são da autoria de Olivier de Gant e Fernão de Muñoz, Destes mesmos autores seria, também, o Cadeiral do Coro, infelizmente destruído e posteriormente substituído por um outro proveniente da igreja de Santa Joana, em Lisboa.
Durante o reinado de D. Manuel I a campanha de obras incluiu, ainda, a Sala do Capítulo e restantes dependências conventuais iniciadas por Diogo de Arruda e continuadas por João de Castilho (1510-1515). Na fachada ocidental da igreja foi incorporada a janela manuelina executada por Diogo de Arruda, (1510-1513), segundo o programa iconológico definido pelo próprio rei D. Manuel I. É considerada uma excepcional obra escultórica, inserida na arquitectura manuelina, permanecendo como símbolo da expansão dos portugueses e da concepção imperial que o Rei Venturoso tinha para Portugal.
No reinado seguinte, D. João III promove a reforma da Ordem de Cristo, que vai ser efectuada por Frei António de Lisboa († 1551), originando uma congregação de clausura, segundo a Regra de São Bento (1529). Esta reforma tem profundas consequências na organização do espaço e dela decorrem novas e importantes ampliações do conjunto monástico, com a construção de vastas dependências organizadas em torno de seis novos claustros, (1531 – 1552). Com a regência filipina, continua o programa de reformulação do Convento de Cristo. Edifica-se a Sacristia Nova, dando-lhe cariz maneirista, integrando-a nas campanhas de obras do Claustro do Cemitério. Filipe II de Espanha subvenciona, também, a conclusão do claustro principal e promove a execução de uma das obras mais significativas do Convento e da época, o Aqueduto do Convento. Esta extraordinária obra de engenharia hidráulica percorre uma extensão de sete quilómetros, dispondo de um total de 180 arcos, particularmente espectaculares na zona do vale dos Pegões e termina o seu percurso na fachada sul do Convento de Cristo, assinalando-se a conclusão das obras com a fonte do Claustro Principal, atribuída a Pedro Fernandes Torres, em 1619. As obras da Portaria Nova, da Sala dos Reis e do Novo Dormitório seriam levadas a cabo no período de Filipe III de Espanha. No último quartel do século XVII inicia-se outra obra de grande importância, que viria a conferir ao alçado norte do Convento a sua actual monumentalidade, para acolher o hospital com respectiva enfermaria e botica.
O século XIX, na sequência da extinção das ordens religiosas em Portugal, em 1834, será marcado pela quebra da unidade deste vasto conjunto monumental, sobretudo com as reformas que visaram a adaptação de dependências, no Claustro dos Corvos e Pátio dos Carrascos, para residência e casa agrícola do Conde de Tomar e sua família, que aqui viveram entre 1843 e 1934. A partir do início do século XX o monumento foi ainda ocupado pelo Exército e pelo Seminário das Missões Ultramarinas, até meados dos anos 80, altura em que o Estado reassumiu a plena posse do Conjunto Monumental designado por Convento de Cristo, com funções culturais e turísticas, que se mantêm. 
O reconhecimento pela UNESCO, em 1983, do valor excepcional de todo o conjunto, motivou a sua classificação como Património da Humanidade reforçando, assim, a vocação universal deste lugar excepcional.

















Castelo de Tomar 

              Iniciada a sua construção a 1 de Março de 1160, por D. Gualdim Pais, Mestre da Ordem do Templo, aproveitou uma das colinas sobranceiras à cidade de Tomar, na margem direita do Rio Nabão. No interior da alcáçova instalou-se a Casa Militar Templária da qual a Torre de Menagem é ainda genuíno testemunho. A poente encontra-se a Charola, oratório fortificado, que estava ligado à cortina exterior de muralhas que figuravam a norte e a sul, definindo um perímetro irregular, assente no terreno original. No interior figuram dois panos de muralha que definem três espaços interiores da fortaleza; a zona habitacional dos cavaleiros templários, a norte; a praça de armas ou terreiro interior e a área outrora ocupada pelos moradores da vila fortificada, a sul, existente ainda no início do século XVI.
Este complexo militar dispunha de uma entrada que servia directamente a vila, a sul, e que é guarnecida por dois robustos torreões – a porta de Al Medina. Deste acesso, passando pela vila, se acedia à praça de armas e à casa militar templária, através de uma antiga via pavimentada cujos vestígios ainda hoje se podem ver junto ao Claustro da Lavagem.




Charola no Convento de Cristo : 

            A Charola do Convento de Cristo, célebre por ser, na sua origem, um dos mais extraordinários exemplos da arquitectura templária, pertence à campanha de obras românica e gótica, dos séculos XII e XIII. Trata-se de um edifício poligonal, com oito faces no tambor central, desdobradas em dezasseis faces no exterior, que pretende reproduzir idênticos edifícios de planta centralizada, conhecidos dos templários e inspirados na Igreja do Santo Sepulcro de Jerusalém. Concluída no século XII, possuía porta a nascente que se manteve em funcionamento até à reforma manuelina.
Sob o impulso do Infante D. Henrique, quando este foi governador da Ordem de Cristo, 1420 – 1460, procedeu-se à primeira alteração do edifício, com abertura de dois tramos a poente, de modo a instalar-se aí o coro e a tribuna. Desta época datará também o tubo de órgão de madeira e couro, ainda visível na parede norte da Charola. A maior campanha de obras é promovida mais tarde por D. Manuel I, entre 1495 e 1521, durante a qual se rasgam completamente dois, dos dezasseis tramos da parede externa, abrindo o espaço a Ocidente, através do grande arco triunfal que unirá este espaço à nova igreja manuelina. È desta época, também, o programa decorativo que acentua a riqueza do local. 
O enriquecimento do programa iconográfico da Charola, transformada em capela-mor da nova igreja, incluiu escultura, pintura sobre madeira e sobre couro, pintura mural e estuques. Particularmente importante foi a descoberta, nos nossos dias, de pinturas contemporâneas de D. Manuel I, (1510 – 1518) que cobriam a abóbada do deambulatório, e que haviam sido recobertas de cal em época posterior. Foram removidas na campanha de obras para recuperação da Charola realizada no final dos anos 80 do século XX.
A Charola é um conjunto espectacular, testemunho não só da arquitectura templária, como, também, exemplar magnífico do esplendor Manuelino constituindo motivo de visita obrigatória do Convento de Cristo.

Charola
                                                                                               Interior da Charola

Janela do Capítulo : 

            Imponente conjunto escultórico e arquitectónico, a Janela da Sala do Capítulo, inserida na fachada ocidental da igreja manuelina, foi executada por Diogo de Arruda, entre 1510 e 1513, segundo o programa iconológico definido pelo rei D. Manuel I. Símbolo de um período histórico que marca a expansão dos Portugueses para além das suas fronteiras, afirma-se hoje em dia como um dos mais excelsos exemplos da arte manuelina.



Claustro principal : 

               Iniciado por João de Castilho em 1530 / 1533, foi, durante a campanha de D. João III, parcialmente demolido e substituído pelo actual, da autoria de Diogo de Torralva, que, no essencial, estava terminado em 1562. No final do século, o arquitecto italiano Filipe Terzi terminou a cobertura, no terraço das Ceras. É considerado uma obra-prima da Renascença europeia. Particularmente interessante é o diálogo que se estabelece entre a magnificência do claustro que D. João III manda edificar e o anterior claustro, de autoria de João de Castilho, que D. Manuel I havia inspirado.



Cerca Conventual, Mata dos Sete Montes : 

              O lugar dos Sete Montes, onde em 1160 os Templários fundaram o castelo de Tomar, como sua sede Militar, foi, no século XVI, transformado no reduto da milícia dos Cavaleiros de Cristo.
Mais tarde D. João III, reforma a Ordem de Cristo transformando-a numa congregação de frades contemplativos. Para casa de clausura da Ordem foi mandado construir pelo monarca um grandioso convento contra o flanco poente do castelo templário. Como é preceito da vida conventual, toda a parte urbana foi rodeada por uma extensão de território delimitada, símbolo da terra que o homem deve habitar e transformar com o seu trabalho. Assim, o lugar dos Sete Montes é unido ao convento renascentista, sendo um caso por excelência de paisagem histórica e um conjunto monumental único no seu género inserido num meio ambiente privilegiado que importa conservar e viver, para que preserve o valor que detém no Património cultural, histórico e ambiental de Portugal.  




Ermida de N.ª S.ª da Conceição : 

            Situada no planalto ocupado pela cerca do Convento de Cristo, a meio caminho entre o mundo dos homens, a Cidade, e o de Deus, o Convento, encontra-se uma pequena capela em pedra calcária, voltada a poente, de planta rectangular centralizada. Avista-se de vários pontos da cidade, tão delicada como imponente à medida que avançamos na sua direcção: - Da cidade, avista-se, ao longe, um pequeno templo. Já mais perto, parece uma escultura monumental à medida que nos aproximamos, a sua monumentalidade parece diminuir, para se impor de novo quando nela entramos.
A Ermida de Nossa Senhora da Conceição é risco e obra de João de Castilho, encomendada por D. João III, construída entre 1547 e 1572 tendo, provavelmente, sido finalizada por Filipe Terzi.
É um pequeno templo com um espaço ternário e global, onde tudo contribui para a harmonia das ordens arquitectónicas aí representadas que, através de um singular jogo de luminosidade, cria uma ilusão de grandeza e profundidade. 
Edifício rectangular, de planta em cruz latina, com três naves e transepto ligeiramente saliente, que se distingue exteriormente por pilastras e é encimado por um frontão triangular. Poderá ter sido construído originalmente para panteão de D. João III que, repousa no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa.



Aqueduto do Convento : 

             Foi encomendado por Filipe II de Espanha ao arquitecto Filipe Terzi e destinava-se a fazer chegar a água ao Convento e às suas terras tornando todo o espaço autónomo em termos de abastecimento. Tem cerca de 7km de canalização em pedra, coberta a laje, correndo em grande parte ao nível do terreno, com arcaria, de dimensão e altura variável. 
Sobre o vale dos Pegões erguem-se 58 arcos de volta inteira, que, na zona de maior declive, assentam em 16 arcos quebrados. Neste vale o aqueduto tem, a montante e a jusante, duas casas d'água rematadas por cúpulas abobadadas que, no interior, resguardam bacias de depuração da água. Termina esta obra com grandes arcos adossados à fachada sul do Convento de Cristo que estaria pronta em 1619, culminando na monumental fonte do Claustro Principal, atribuída a Pedro Fernandes Torres.




segunda-feira, 10 de março de 2014

Mosteiros de Portugal - Mosteiro de S. André de Ancede



Localização : 

          O Mosteiro de S. André de Ancede, localiza-se no Lugar do Mosteiro, Freguesia de Ancede, Concelho de Baião e no Distrito do Porto. Uma lenda que explica o nome Ancede e a hipotética transferência do núcleo monástico inicialmente instalado em Ermelo. Diz a voz popular que D. Afonso Henriques autorizou a deslocação dos monges com base na queixa apresentada pelos mesmos: "haviam sede" pois o lugar de Ermelo era escasso em águas. Pois "se hão sede", replicou o monarca, mudem-se.




História : 

             Edificada numa encosta voltada ao Douro, a Igreja dedicada ao apóstolo Santo André, em Ancede, foi a cabeça de um extenso património religioso, espiritual e económico. A carta de coutamento, datada de 1141, definiu os limites de uma área considerável de domínio a partir da qual, os Cónegos Regrantes de Santo Agostinho dirigiram um importante trabalho de humanização.
Mas a sua área de influência estabeleceu-se muito além da cerca monástica e do próprio couto. Somando a aquisição de património fundiário e de certos direitos ao longo do vale do Douro desde cedo os monges souberam tirar partido da exploração dos recursos naturais e, sobretudo, do manejamento de técnicas para criar um importante entreposto comercial baseado na produção e exportação de vinho e na administração das rendas que lhes eram devidas pela posse de um considerável conjunto de propriedades a norte e sul do Douro.
Talvez por isso pareça ainda menos provável a lenda que explica o nome Ancede e a hipotética transferência do núcleo monástico inicialmente instalado em Ermelo. Diz a voz popular que D. Afonso Henriques autorizou a deslocação dos monges com base na queixa apresentada pelos mesmos: "haviam sede" pois o lugar de Ermelo era escasso em águas. Pois "se hão sede", replicou o monarca, "mudem-se". Não o era o caso e, mesmo que o fosse, as técnicas e o saber monástico teriam resolvido essa e outras questões, como no caso do assento atual da Igreja e complexo monástico, profundamente alterado desde a Idade Média e bem servido de canais e aquedutos capazes de assegurar o abastecimento de água aos seus habitantes.
Da Época Medieval são parcos os vestígios existentes. O elemento mais significativo é a rosácea românica, tardia, que se conserva na parede fundeira da capela-mor da Igreja e um trecho do paramento do alçado lateral norte da cabeceira, todo o restante corpo eclesial, mosteiro e dependências monásticas são já fruto das correntes artísticas que marcaram os séculos XVI a XIX.
Embora, quase desde a sua fundação até á sua extinção, em 1834, o Mosteiro de Ancede tenha constituído uma casa próspera, dois períodos são particularmente notáveis na história do edifício: a viragem da Idade Média para a Época Moderna (séculos XV e XVI) e o século XVIII, no primeiro reflete-se a aproximação dos priores à cidade do Porto, aproveitando o estatuto de vizinhança da cidade para escoar o vinho e outros produtos através de Ancede. No segundo momento, apesar de ter sido integrada no património do convento de São Domingos de Lisboa em 1559, a partir de 1689, procedeu-se à edificação de uma Igreja nova, fundindo os templos monástico e dos fregueses e à construção ou reedificação de vários edifícios na órbita do Mosteiro.
De todas estas obras, a mais importante foi a edificação da Capela do Senhor do Bom Despacho, levantada no vasto adro da Igreja, contígua ao muro que sustém a zona das adegas e demais edifícios para uso agrícola, trata-se de um pequeno templo, de planta octangular, edificado em 1731, e que dá expressão a um programa artístico barroco algo extravagante com cenas da vida de Maria, da Infância de Cristo e da Paixão de Cristo, sendo estas relativas na sua maior parte aos mistérios contidos no Rosário, cenas tão do agrado da ordem dominicana responsável por todo o programa iconográfico da capela. Voltando à Igreja, devemos destacar a cruz processional do século XIV; a escultura de Santa Luzia e o tríptico de São Bartolomeu peças datadas dos inícios do século XVI de origem flamenga; o conjunto de pinturas que invocam os Passos e a Paixão de Cristo, obras da segunda metade do século XVII; assim como o acervo escultórico disperso pela Igreja e sacristia, de matriz barroca e executados entre meados do século XVII e os finais do XVIII.
Há a destacar, igualmente, a Cabeça Santa de Ancede. Um invólucro de prata, sem lavores, oculta parte de um crânio humano, supostamente pertencente a um antigo cónego regrante de Ermelo que em vida curava a raiva e, depois de morto, as suas relíquias prosseguiram com fama de milagrosas, o conjunto monástico foi esvaziado em 1834 do seu capital humano, tendo sido adquirido no ano seguinte por José Henriques Soares, mais tarde barão de Ancede, importante negociante e político liberal.





Arquitectura do seu interior : 

            Encontramos em Ancede uma Igreja com uma cabeceira de larga escala e três longas naves de características maneiristas. No exterior, os elementos ornamentais, de matriz classicizante, são centrados em torno do portal lateral da Igreja que se abre ao adro. O elemento medieval remanescente mais significativo é a rosácea românica, tardia, que ainda hoje se conserva na parede fundeira da capela-mor. O modo como a sua grelha de pedraria se articula em círculos e a modenatura, que lembra um encordoado que se entrecruza, têm vindo a ser comparados com a rosácea que encima o arco cruzeiro na Igreja paroquial de Águas Santas (Maia) ou da fachada principal da Igreja de Santiago de Antas (Vila Nova de Famalicão). Além deste elemento, conserva-se um trecho de paramento medieval no alçado lateral norte da cabeceira e no alçado lateral sul, em área correspondente aos primeiros tramos da Igreja. Partindo destes dados e de uma análise aos poucos vestígios que da Idade Média ainda persistem neste imóvel, pelo menos visíveis, podemos considerar que estes resultam de uma campanha já realizada nos finais do século XIII, assim sendo, pouco ou nada sabemos sobre a estrutura da Igreja românica. A grande escala da atual cabeceira, certamente pensada para albergar o retábulo-mor na sua monumentalidade e pujança aquando da grande campanha seiscentista, pouco nos permite aferir sobre como seria no período românico. 
No entanto, tendo em conta os exemplos conhecidos de igrejas monásticas para esta época, podemos alvitrar que a primitiva cabeceira seria seguramente de menores dimensões ou, quanto muito, não tão elevada. As obras terão sido uma constante nesta Igreja, como pode ser verificado através da análise dos silhares, de diferentes matizes, a fachada principal encontra-se em parte ocultada por uma torre sineira oitocentista. No lado sul da Igreja existe, atualmente, uma sacristia, mas a sua disposição e arquitetura alerta para o facto de, em outros tempos, uma outra função terá aqui existido, em virtude de esta nos mostrar enterramentos - conforme denunciam as tampas do pavimento - e os três nichos da parede oriental sugerirem que este espaço seria, seguramente, uma dependência ligada a um claustro anterior ao atual.