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sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Viagem e visita ao concelho de Santa Maria da Feira

Brasão de Santa Maria da Feira

Localização : 

            O Concelho de Santa Maria da Feira faz fronteira com os de Vila Nova de Gaia, Gondomar, Castelo de Paiva, Arouca, Oliveira de Azeméis, S. João da Madeira e Ovar, o que lhe permite o acesso a um conjunto de vias de comunicação, que lhe garantem a relativa aproximação com os grandes centros urbanos. Ocupando uma área de cerca de 213,4 Km2, distribuídos por trinta e uma freguesias, o concelho de Santa Maria da Feira destaca-se tanto pela sua existência milenar, como pela forma vigorosa com que vive o presente, não deixando contudo de se preparar para o futuro. Ocupando vasta e rica extensão a Sul do Rio Douro, a região é caracterizada por certa multiplicidade paisagística, cultural e etnográfica, que lhe advém do facto de em si coexistirem aspectos durienses, minhotos e beirões, do ponto de vista físico e humano. O Douro, principal responsável pela fertilização dos seus terrenos, enquadra o concelho a Nordeste, o que corresponde à parte mais elevada; porém, outros rios mais pequenos têm também um papel importante na fertilidade do solo: o Caima, o Arda, o Uíma e o Inha, além de inúmeros ribeiros que se lançam no Atlântico, ali perto. A sua riqueza natural (agrícola, florestal e mineral) constituiu no passado, um importante pólo de atração de populações, que aí se fixaram, para o que contribuiu igualmente a situação geográfica a curta distância do Porto, de Aveiro, de Coimbra, e no caminho de Lisboa.


História : 

         O topónimo composto "Santa Maria da Feira" alude no primeiro elemento, "Santa Maria", a esta divindade cristã, que não sendo o orago da sede concelhia, aparece na designação deste concelho, por ter sido edificado em época muito remota, um monumento a Ela dedicado, em substituição de antigos deuses lusitanos. O elemento "Feira", deriva do latim vulgar "feria", topónimo bastante frequente no Norte de Portugal e na Galiza. "Vila da Feira" foi, até 1996, a denominação deste concelho, hoje chamado Santa Maria da Feira, embora, segundo alguns autores, incorretamente  pois tal nome lhe foi atribuído por inspiração num documento de 1117 que se refere a uma "Terra Sancte Maria ubi vocant Feira". Quanto à presença humana neste território, é sem margem para dúvidas, muito anterior ao século X, como se comprova pela existência de vestígios de castros pré-romanos e de estações luso-romanas. Nas imediações da Feira, em local impreciso, assentou a cidade de Lancóbriga, considerada a antecessora da antiga cividade romano-cristã-portuguesa de Santa Maria. O próprio castelo assenta num castro romanizado, na colina sobranceira à cidade de Santa Maria da Feira, e nele se têm encontrado, além de cerâmica de tipo romano, importantes lápides romanas votivas, consagradas aos Deuses lusitanos "Tuéreo" e a "Bandevelugo Toiraeco". Do tempo dos romanos restaram, para além das marcas arqueológicas, o gosto pelos hábitos termais. Também a ocupação muçulmana do castelo da Feira deixou vestígios, estes mais notórios na cantaria das muralhas. Com o processo da romanização, os habitantes daquele castro começaram a estabelecer-se junto às margens do rio Cáster ou Lavandeira, provavelmente atraídos pela excepcional fertilidade da planície. Entretanto, no século XI, em plena Reconquista Cristã e quando os contornos da futura Nacionalidade começavam a ficar definidos, foi erguido o castelo no local onde existira o antigo castro. Depressa se tornou senhorio de grande prestígio e poderio, passando a dominar a "vila" estabelecida no sopé e toda a vasta região circundante de Arouca, Vale de Cambra, Oliveira de Azeméis, S. João da Madeira, Estarreja, Albergaria-a-Velha, Ovar, Espinho e Vila Nova de Gaia. A "Civitas Santae Mariae" permaneceu durante séculos como o núcleo das Terras de Santa Maria, com existência social, administrativa e cultural, devendo-se o seu rápido desenvolvimento sobretudo ao mercado onde eram vendidos os produtos das colheitas, além de alfaias, ferramentas, panos e outros haveres indispensáveis ao dia-a-dia dos camponeses, que vinham ao Castelo trazer os impostos, pagos pela utilização das terras senhoriais. A este mercado, cuja importância se foi tornando cada vez maior, passou a chamar-se Feira, denominação que se estendeu à povoação: "Vila da Feira". Já recuperado pelas armas cristãs sob o comando do Conde D. Henrique, a vocação religiosa do castelo da Feira foi gradualmente reformulada e este espaço reconvertido em fortaleza militar, devido à sua estratégica implantação. Convertido em ponto militar fulcral na linha de fronteira do Condado Portucalense, fortes razões indicam que do castelo terá partido a sublevação dos protegidos de D. Afonso Henriques, em 1128, contra a Rainha D. Teresa, sua mãe, vencida depois na Batalha de S. Mamede. Com o castelo à cabeça, ditando a sua própria grandeza, as Terras de Santa Maria foram aumentando e consolidando o poderio, não só devido ao crescimento económico que as atividades produtivas e económicas lhe proporcionavam, como também graças à ação de alguns dos seus senhores. Entre estes, destacam-se os cavaleiros Mem Lucílio e Ermígio Moniz, nobres dos séculos XI e XII, respectivamente, cujos senhorios correspondem a duas fases florescentes desta região. Mais tarde, D. Sancho I, em seu testamento, designou o castelo da Feira como apropriado à habitação da rainha e das infantas e em 1300 foi ele incluído no dote e arras da Rainha D. Isabel, para o seu casamento com o rei D. Dinis. O Infante D. Afonso, filho destes, assenhoreou-se dele em 1323, e D. Pedro I fez mercê dele a Gonçalo Garcia de Figueiredo, aio do Infante D. João, em 29 de Maio de 1357; em 1382, D. Fernando I dispõe dele em favor de seu cunhado João Afonso Telo, Conde de Barcelos e já então senhor das Terras de Santa Maria. Em 1385 foi o castelo tomado pelos defensores do Mestre de Avis, sob a chefia de Gonçalo Vaz Coutinho, passando então no reinado de D. João I a sua alcaidaria para João Rodrigues de Sá, o das Galés, e deste para o seu filho, Fernão de Sá. Em meados do século XV foi a vez de D. Afonso V conceder o título de Conde da Feira a um cavaleiro de nome Fernão Pereira, atribuindo-lhe também o castelo. Também no século XVI, D. Manuel I concedeu à vila o novo Foral, em 1514, alterando a sua denominação para "Vila da Feira e Terra de Santa Maria". Tal como em muitas outras zonas do país, também Santa Maria da Feira sofreu com as investidas das tropas francesas, existindo mesmo, em Arrifana, um obelisco comemorativo da Guerra Penínsular, alusivo ao bárbaro fuzilamento de mais de 100 habitantes da localidade como represália pela morte do Tenente-Coronel Lameth, ajudante do campo de Soult. O vasto território senhorial de "Terras de Santa Maria" tornou-se num dos mais importantes concelhos de Portugal e foi recentemente elevada a cidade (2001).

Bandeira de Santa Maria da Feira

Cultura e Turismo :

         Apesar da tendência apontar para o desaparecimento progressivo da riqueza popular tradicional, Santa Maria da Feira possui um riquíssimo património etnográfico, que vai das crenças, usos e costumes, passando pelas danças e cantares, de cariz marcadamente rural. Como pólos dinamizadores de cultura, o concelho de Santa Maria da Feira usufrui de vários museus, biblioteca, e várias associações culturais, desportivas e recreativas. Santa Maria da Feira recebe anualmente a visita de quem aprecia paisagens de beleza inesquecível, impressivo cartaz turístico da região. Um dos grandes impulsionadores do turismo na região é certamente a área das termas de S. Jorge, a sete quilómetros da cidade de Santa Maria da Feira. A sua importância advém naturalmente das águas que brotam de uma das mais abundantes fontes sulfúreas de Portugal. Estas águas acumulam importantes componentes, particularmente aconselhados para o tratamento de doenças dos aparelhos digestivo e respiratório.



Gastronomia : 

         No plano da gastronomia, além do "ex-libris" culinário que são as fogaças (pão doce, de forma arredondada, encimado por quatro bicos que representam as quatro torres do castelo), os trunfos da doçaria das povoações de Santa Maria da Feira são os castelinhos, as brisas do Vouga, o bolo de S. Bernardo, as Cruzes de Malta, o pão-de-ló, os bolos de S. Nicolau, os pastéis de Santa Maria, os franciscano e os caladinhos, cuja história recua a 1934, época em que se vivia um regime de ditadura em Portugal. Um dia à noite, em Santa Maria da Feira, Augusto Padeiro e seus empregados estavam a fazer biscoito sortido, quando foram visitados pela polícia do regime. Augusto Padeiro, com medo, disse aos seus empregados: "Shiu! Calados!". Um dos elementos da Policia perguntou "Porque disse Calados?" O Augusto Padeiro respondeu: "Porque estamos a fazer calados. Estes biscoitos são os caladinhos!".