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sábado, 25 de janeiro de 2014

Mosteiros de Portugal - Mosteiro do Paço de Sousa - Penafiel




Localização

        O Mosteiro de Paço de Sousa, também referido como Mosteiro do Salvador de Paço de Sousa localiza-se em Paço de Sousa, no concelho de Penafiel, distrito do Porto, em Portugal. É um dos 21 monumentos que integram a chamada Rota do Românico do Vale do Sousa.


Arquitectura :

             Arquitectura religiosa, românica, gótica, seiscentista, setecentista e do séc. 20. Mosteiro beneditino composto por igreja e zona regral que se desenvolve no lado esquerdo, prolongando-se num corpo ao longo do terreiro, parcialmente desaparecido, Planta retangular composta por igreja e zona conventual, sendo a igreja de três naves, a central mais elevada, casa uma com três tramos, transepto inscrito, capela-mor comprida, retangular, de quatro tramos, ladeada por dois absidíolos, de volumes articulados e escalonados com coberturas diferenciadas em telhados de duas águas e de quatro no cruzeiro do transepto. Fachadas em cantaria de granito aparente, percorridas por alto embasamento, percorridas por frisos, com um motivo entrelaçado até à torre do transepto, a partir da qual se desenvolve em enxaquetado, sendo rematadas em bandas lombardas, sendo em cachorrada no transepto e torre do cruzeiro do transepto; as fachadas laterais possuem contrafortes pouco salientes. A fachada principal virada a O., revela a espacialidade interior, tripartida, com empena central, possuindo dois contrafortes que enquadram portal escavado, composto por cinco arquivoltas em arco apontado, rodeado por friso com motivos geométricos, com capitéis de temas fitomórficos biselados, com tímpano assente em bovídeo e cabeça humana, decorado com um círculo central contendo uma inscrição, ilegível, ladeado inferiormente por dois círculos onde estão esculpidos dois bustos humanos sustentando o sol e a lua. Sobre o portal, corre cornija ornada por cachorros figurando motivos zoomórficos. Sobre o portal, surge ampla rosácea de círculos encadeados, envolvida por três frisos de temas fitomórficos e esferas. Os eixos laterais são em meia-empena, o do lado esquerdo pontuado por mísulas e o oposto com óculo circular no topo. Fachada lateral esquerda rasgada por três frestas de volta perfeita no corpo da nave, o qual possui dois arcosólios de perfis apontados, e porta retilínea, encimada por arco de volta perfeita, cego. O corpo do transepto remata em empena, tendo contraforte no lado esquerdo e vestígios de vão em meia-luneta, encimado por rosácea com molduras de esferas. Fachada lateral direita parcialmente adossada ao corpo do mosteiro, sendo o corpo da nave semelhante à do lado oposto, possuindo portal escavado, de três arquivoltas de perfis apontados, assentes em colunas cilíndricas e com capitéis decorados por motivos fitomórficos. O corpo do transepto remata em empena, tendo contraforte no lado esquerdo e vestígios de frontão triangular, encimado por rosácea com molduras de esferas. Os absidíolos, de perfil curvo, rematam exteriormente por arcadas cegas em banda lombarda, apresentando frestas emolduradas com uma decoração de flores quadrilobadas e esferas. INTERIOR com naves separadas por grossos pilares de secção cruciforme, com sapatas circulares, dos quais arrancam, longitudinalmente, arcos formeiros, em arco apontado, encimados por clerestório, assim como os arcos torais, que nas naves colaterais estão sustentados por meias-colunas adossadas aos muros. Os pilares, compostos por colunas cilíndricas embebidas, com arestas boleadas como colunelos, estão assentes em bases bolbiformes apresentando capitéis decorados com temas fitomórficos. As paredes da nave são em cantaria de granito aparente, percorridas por frisos fitomórficos, tendo tetos de madeira e pavimentos em lajeado de granito. O cruzeiro do transepto tem os arcos laterais encimados por vãos em arcos de volta perfeita com duplas molduras biseladas. Portal axial protegido por guarda-vento de madeira e vidro, encimado por órgão de tubos positivo, com caixa em madeira e nichos frontal e nas ilhargas, com tubos metálicos. No lado do Evangelho, sobre um degrau, pia batismal em cantaria de granito, composta por coluna cilíndrica e taça facetada. No lado oposto, o túmulo de Egas Moniz. Nos braços do transepto, surgem, confrontantes, capelas retabulares laterais dedicadas a Nossa Senhora das Graças (Evangelho) e ao Sagrado Coração de Jesus (Epístola).
Arco triunfal de perfil abatido, com duas arquivoltas assentes em colunas embebidas nos muros, estando encimado por óculo decorado por motivos fitomórficos; está ladeado e acede aos absidíolos rematados em semicírculo com abóbada de centro quebrado evoluindo para quarto de esfera no semicírculo final, assentes em arcos torais de dupla arquivolta ornada por esferas, a interior assente em mísulas e a exterior em colunas embebidas nos muros, com capitéis decorados com motivos fitomórficos, todos com vestígios de policromia. Ambos têm altares paralelepipédicos, o do Evangelho com o sacrário, indiciando ser a Capela do Santíssimo, sendo a oposta dedicada a Nossa Senhora de Fátima. Capela-mor bastante profunda, de quatro tramos, com coberturas em abóbada de lunetas e de perfil apontado, com arcos torais que se apoiam em colunas embebidas nas paredes. Cada tramo é vazado por nicho de perfil lobulado e moldura em toro. Sobre supedâneo de cinco degraus, a mesa de altar de madeira, surgindo, na parede testeira, retábulo-mor de talha pintada de branco e dourado, de planta côncava e três eixos definidos por quatro colunas com fustes percorridos por falsa espira fitomórfica, assentes em plintos únicos, de perfis côncavos e ornados por folhagem. Ao centro, tribuna de perfil lobulado e moldura saliente, contendo tela pintada com a imagem do orago. Os eixos laterais possuem nichos de perfis abatidos e decorados por folhagem com os fundos pintados de azul. A estrutura remata em espaldar recortado e decorado por fragmentos de frontão, cornijas, acantos, anjos de vulto e cartela central, ornada por rosetão. Altar paralelepipédico, encimado por sacrário decorado por frisos recortados, volutas, acantos, folhagem e porta com motivos eucarísticos. No lado da Epístola, porta de acesso à sacristia, com as paredes rebocadas e pintadas de branco, com teto de madeira e pavimento em lajeado, contendo dois arcazes de madeira, um oratório *3, formando nicho em cantaria, em arco de volta perfeita, assente e ladeado por pilastras toscanas, de fustes almofadados, as exteriores encimadas por pináculos piramidais embutidos na estrutura; está ladeado por nichos de alfaias, em volta perfeita, e armários embutidos no muro, com portas de madeira; no lado oposto, porta com meias-pilastras toscanas, rematando em friso almofadado e frontão triangular interrompido e com tímpano ornado por florão. No lado esquerdo, a casa do lavabo, de pequenas dimensões, tem acesso por arco de volta perfeita assente em pilastras toscanas, tendo o intradorso pintado; está iluminado por duas janelas laterais e tem lavabo em cantaria de granito com vestígios de policromia azul e amarelo, estando integrado em vão de volta perfeita, tendo espaldar decorado por cartela encimada pelas insígnias abaciais, sobreposta por uma vieira, rodeado por moldura volutada; na base, duas bicas em forma de carranca, rodeadas por folhagem, que vertem para taça retilínea, em forma de consola, ornada por acantos e volutas. A ZONA CONVENTUAL, atual casa paroquial, desenvolve-se em torno de claustro quadrangular, com dois e três pisos, adaptando-se ao declive do terreno, com fachadas rasgadas por vãos retilíneos, dispostos uniformemente, tendo a fachada N., balcão de acesso à porta de acesso, com escadas de cantaria e guarda plena com colunas de arranque volutada; o portal está protegido por alpendre de madeira. O Claustro tem as alas divididas em sete tramos, marcados por arcos de volta perfeita, assentes em pilastras toscanas, com pilares angulares; duas alas ostentam dois pisos, com janelas de sacada com guardas metálicas pintadas de verde. No centro da quadra, com canteiros angulares em cantaria, chafariz sobre plataforma de três degraus e tanque quadrilobado, com duas taças sobrepostas, sustentando a bica, figurando quatro pelicanos interligados pelas asas. As alas têm, no primeiro piso, tetos de madeira e pavimentos em lajeado, a ala S. com sepulturas, algumas epigrafadas e datadas do séc. 18; para cada uma delas, abrem vãos retilíneos ou de volta perfeita. Na ala N., arco de volta perfeita, protegido por grades metálicas, acede à escada regral de três lanços de cantaria e guardas plenas do mesmo material, os superiores divergentes, ligando a duas portas de verga reta e ao corredor do coro. Por cima da sacristia, com acesso pelo andar superior do claustro, através de uma porta de vão retangular, fica a antiga Sala do Capítulo, soalhada e com teto de masseira. No lado NO., a TORRE sineira, quadrangular, rematada em parapeito de ameias decorativas, assentes em cachorrada; tem acesso por porta de volta perfeita escava na face S., com tímpano vazado por cruz e assente em mísulas decoradas; na face O., balcão de guarda plena, sustentado por mísulas lobuladas, para onde abre porta de verga reta. Possui quatro sineiras de volta perfeita.



Arquitecto e Construtor :

         Arquitectos: Baltazar de Castro (1933); Rogério de Azevedo (1963). Eletricistas: Francisco Luís Pais & Fernando, Lda. (1976); João Jacinto Tomé (1961-1963); José Maria dos Santos & Santos (1938). Empreiteiro: Afonso Ferreira de Oliveira (1976); Alcino da Cunha Nogueira (1930); Ferreira dos Santos & Rodrigues, Lda. (197, 1980); Francisco Pinto Loureiro (1932, 1934, 1936, 1938-1939, 1960, 1967, 1969, 1971); Joaquim D.S. Costa & C.ª Lda (1987). Entalhador: Manuel Alves de Araújo (1784). Fornecedores: Fábrica de Cerâmica da Pampilhosa (1938). Ourives: Manuel do Couto e Sousa (1706).




História :

            Foi fundado no século X por D. Godo Trutesindo Galindes, ascendente de Egas Moniz, o aio, que fez erguer neste local o seu paço. Serviu de refúgio ao abade Radulfo, aquando das invasões de Almançor (994). Constituía-se em uma comunidade beneditina. O mosteiro foi desocupado muitos anos depois e veio a cair em estado de degradação. Foi alvo de algumas obras de manutenção no século XI, vindo a ser completamente recuperado em meados do século XIII. Nesta mesma época foi feita a ampliação da Igreja anexa. Novas campanhas de conservação e restauro foram empreendidas no século XVIII e, mais tarde, no século XX, após um violento incêndio ter devorado os tetos de madeira da igreja em 1927.
Após a extinção das ordens religiosas, em 1834, o convento foi vendido em hasta pública, mas a igreja manteve-se aberta ao público. Encontra-se classificado como Monumento Nacional por Decreto de 16 de junho de 1910, publicado no DG nº 136, de 23 de junho de 1910; 67/97, DR 301, de 31 de dezembro de 1997. No interior deste mosteiro encontra-se sepultado Egas Moniz, preceptor de Afonso I de Portugal. No interior do túmulo existe uma pequena caixa de cobre com as suas cinzas fúnebres. O túmulo em si é uma magnífica peça com altos-relevos que retratam a ida do aio de D. Afonso Henriques à Corte do reino de Leão. No inicio foi utilizado como mosteiro masculino da Ordem de São Bento (Beneditinos) e nos dias de hoje é igreja paroquial (integra a rota do Românico do vale do Sousa ).



Pormenor do interior :

            O Túmulo de Egas Moniz integra as lajes de dois momentos distintos: nos laterais estão iconografadas cenas de Egas Moniz jazendo no leito, a sua deposição no túmulo, um prelado de báculo e livro nas mãos e a lendária deslocação a Toledo. Uma das tampas que o recobre, do primeiro cenotáfio, apresenta uma epígrafe, disposta em duas regras, gravadas em sentidos opostos: "HIC : REQVIESCIT : FL'S : DEI : EGAS : MONIZ : VIR : INCLITVS / ERA : MILLESIMA : (CE)ENTESIMA : LXXXII(II)". A outra tampa, anepígrafa, apresenta nos planos oblíquos uma decoração vegetalista geometrizante. Por detrás do túmulo, na parede O., encontra-se uma tampa sepulcral, de formato trapezoidal e de secção rectangular, com moldura a toda a volta delimitando um campo onde está esculpida a figura de um Abade. Esta tem vestes litúrgicas, báculo na mão esquerda, com o remate em forma de cabeça de serpente e a mão direita levantada em sinal de bênção. No lado do Evangelho, encontra-se um silhar com a figuração de São Pedro. A imagem encontra-se com as vestes litúrgicas, estando esculpida sob um baldaquino, encimado pelas insígnias papais. Junto à porta S., na parede externa, encontra-se uma inscrição funerária, referente ao Abade Monius, falecido em 1202: "ERA : M : CC : X : OBIIT / MONIVS : ABBAS : X : AGTI / MONI : PAT : ET : ABBAS / IN : PACE : REQVIESCAS". Na mesma parede encontra-se uma outra inscrição, mas de feitura moderna. Os retábulos laterais são semelhantes, de talha pintada de branco, azul e dourado, de planta reta e um eixo definido por duas colunas coríntias assentes em duas ordens de plintos paralelepipédicos, os superiores ornados por folhagem. Ao centro, nicho de volta perfeita com molduras simples e seguintes ornados por folhagem, o do Evangelho protegido por vidraça e com fundo fitomórfico, tendo, na base, nicho circular; o do lado oposto tem o fundo pintado com motivos fitomórficos, em tons de vermelho, tendo, na base, amplo nicho retilíneo, protegido por drapeados. A estrutura remata em friso de acantos enrolados e frontão triangular contendo resplendor. Altar em forma de urna com cartela central e decoração de acantos.
                                                                                                                                      Egas Moniz

Túmulo de Egas Moniz 

Igreja

          Igreja de construção românica, de que subsistem alguns contrafortes, atualmente sem função, os portais axial e S., arcosólios, os absidíolos e, provavelmente, a torre do cruzeiro do transepto. Foi remodelado posteriormente, já com tendências góticas, como se depreende da sistemática utilização dos arcos apontados, bem como do recurso às naves escalonados, permitindo uma iluminação interna uniforme, de características mendicantes. Sofreu um restauro purista no início do séc. 20, com a remoção do património integrado, subsistindo uma pia batismal, de provável feitura seiscentista, o túmulo de Egas Moniz, embora mutilado, e dois retábulos laterais, de talha pintada e de execução neoclássica. As janelas, pequenas frestas nas naves, rosácea e rosetões no transepto são de execução novecentista. O edifício sofre amplas reformas no séc. 17, com a feitura do claustro, com arcadas inferiores toscanas, a construção da sacristia, com oratório em cantaria e lavabo em casa separada, com vestígios de policromia, bem como a reforma do transepto, sendo visíveis lunetas entaipadas que fariam parte de um sistema distinto de iluminação interna. A capela-mor é profunda, dividida em tramos com os panos laterais vazados por arcos lobulados, de construção setecentista, tal como a abóbada, de lunetas, e o retábulo. As fachadas exteriores são percorridas por friso de entrelaçado fitomórfico até à torre do cruzeiro, a partir da qual se desenvolve em enxaquetado. O terreiro possui cruzeiro semelhante aos dos demais Mosteiros da Ordem, de feitura seiscentista. A estrutura em cantaria de granito; coberturas em madeira, revestidas exteriormente a telha; cobertura dos absidíolos em cantaria de granito; pavimento em lajes graníticas; portas de madeira e janelas com caixilharias também de madeira; cenotáfio de granito; madeira no tecto da sacristia e da Sala do Capítulo; gradeamentos em ferro; placas de cimento; retábulos em talha pintada; pinturas murais.


Exterior

          Urbano, isolado, implantado num terreno com ligeiro declive, a que se adapta, estando rodeado por terrenos de cultivo, que integravam a primitiva cerca, tendo, no lado esquerdo, o Cemitério e, a E., a Casa do Gaiato. Possui um adro, fechado por murete em cantaria de granito, com acesso frontal formado por pilares e pináculos de bola, com pavimento em lajeado junto à igreja, sendo a envolvente em terra batida, estando pontuado por arcas funerárias e árvores de pequeno porte. Um dos sarcófagos é antropomórfico com os laterais bastante danificados, sem tampa, surgindo um outro, apresentando num dos laterais um motivo decorativo representando três pés de milho miúdo, semelhante ao motivo do brasão de armas da família dos Milhaços. A tampa que o cobre não lhe corresponde e é em tudo idêntica a uma das que se sobrepõe ao túmulo de Egas Moniz, apresentando nos planos oblíquos uma decoração vegetalista geometrizante *2. Fronteiro e num plano mais baixo, ergue-se sobre o ribeiro de Gamuz uma zona arborizada, com algumas árvores centenárias, sendo o ribeiro atravessado por duas pontes, uma de feitura recente e outra em cantaria de granito aparente, do tipo arco e com tabuleiro em cavalete, tendo guardas plenas. Surge, ainda, uma nora, um regueiro, uma zona de piqueniques com mobiliário em madeira e metal, surgindo, ainda, um centro de acolhimento paroquial, também ele de madeira. O terreiro tem, fronteiro, Cruzeiro de soco quadrangular, base também quadrangular decorada com pedra de armas, paquife e elementos vegetalistas, coluna circular interrompida a um terço por anel e tendo, inferior e superiormente, palmetas estilizadas, capitel coríntio encimado por bola e cruz; tem a data "1690".