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quinta-feira, 11 de julho de 2013

Viagem e visita ao concelho de Tavira

Brasão de Tavira

Localização

          Tavira é uma cidade portuguesa no Distrito de Faro, região e sub-região do Algarve, é sede de um município com 606,98 km² de área e subdividido em 9 freguesias. O município é limitado a nordeste pelo município de Alcoutim, a leste por Castro Marim e pela parte ocidental do concelho de Vila Real de Santo António, a sudoeste por Olhão, a oeste por São Brás de Alportel e por Loulé e a sul tem litoral no oceano Atlântico. Fica na zona Sotavento (Algarve oriental).


História

        Cidade por grandeza dos tempos idos, Tavira está situada no lado oriental do Algarve, a meia distância entre o Cabo de Santa Maria e a foz do rio Guadiana. Dista dois quilómetros do mar e está implantada nas margens do estuário do rio Gilão, ao abrigo da restinga que protege a Ria Formosa, de Faro até Cacela. Tal localização foi fator do seu desenvolvimento e apogeu, e depois da sua letargia e enfraquecimento. Tavira é, essencialmente, uma cidade de estuário e a sua História está, naturalmente, ligada à evolução do seu porto e das atividades com ela relacionadas. Os dados conhecidos permitem estabelecer a continuidade da presença humana no local, hoje, ocupado por Tavira a partir do domínio muçulmano. Sabe-se, porém, que entre finais do século VIII a.C. e o século VI a.C., os fenícios - ou populações com grandes afinidades com eles - colonizaram este local, construindo uma espessa muralha na colina hoje designada de Santa Maria, da qual ainda restam vestígios, com a chegada do século VI a.C., a forte influência fenícia dará origem na região à Turdetânia, a qual se estendia desde o Estreito de Gibraltar até ao Cabo de S. Vicente. Deste período sobraram vestígios descobertos junto à atual Praça da República que documentam a atividade piscatória e conserveira dos turdetanos, nomeadamente, um molhe de acostagem, um armazém de ânforas com preparados piscícolas e, imagine-se, a mais antiga rede de pesca de atum conhecida até ao momento.
O período de dominação romana deixou marcas, a poucos quilómetros, a ocidente de Tavira - entre Santa Luzia e a Luz de Tavira -, na antiga Balsa (cerca de 30 a.C.), célebre cidade referenciada nas fontes antigas, cujo riquíssimo espólio arqueológico se encontra disperso por museus nacionais. Toda a vasta zona designada pelos muçulmanos de Al Garb al Andaluz (ou seja, a ocidente de Andaluz) foi ocupada por estes a partir do ano 712. Aquando da sua chegada, Tavira estaria deserta ou, na melhor das hipóteses, perdera o fulgor económico e mercantil de outras épocas. As primeiras notícias são do século XI e referem-se ao movimento do seu porto. Os muçulmanos conferem à urbe um novo fôlego, chegando esta a ser capital de um Reino Taifa e, durante período almóada, capital de um distrito. Durante este período reconstruíram-se as muralhas, que estão em parte conservadas. O mais famoso vestígio islâmico da cidade é o inusitado Vaso de Tavira, em cerâmica, de cariz popular, integrando figuras humanas e animais moldados, com ingénua profusão de pormenores, fazendo deste achado um dos mais eloquentes testemunhos da vida no Al Andaluz no século XI. Tavira é conquistada aos mouros em 1242 pela Ordem de Santiago, liderada por seu mestre D. Paio Peres Correia. Foi na colina de Santa Maria, cercada pelas muralhas do castelo, que os conquistadores cristãos consolidaram a sua presença civil, militar e religiosa. Aí se instalaram as primeiras igrejas, algumas reaproveitando o que restava das antigas mesquitas árabes. Nos séculos XIV e XV acentua-se a expressão urbana da vila, funda-se o primeiro convento - de franciscanos - e beneficiam-se as muralhas, florescendo o comércio marítimo com flamengos, ingleses, italianos, franceses, biscainhos e galegos. A expansão portuguesa dos séculos XV e XVI faz de Tavira o mais próspero centro urbano do Algarve, beneficiando a urbe da sua importância estratégica para apoio, defesa e manutenção das praças conquistadas no Norte de África. Consequentemente, a vila é elevada a cidade, em 1520, por D. Manuel I. Atesta a sua riqueza o grande número de edificações militares, civis e religiosas que surgem por esta época, destacando-se as obras renascentistas do arquiteto André Pilarte. A partir da segunda metade do século XVI começa a ser indisfarçável o declínio económico e estratégico da cidade, agravado pelo abandono de algumas possessões no Norte de África, pelo domínio espanhol e pelo progressivo assoreamento do rio Gilão, contribuindo para a diminuição do movimento comercial do porto de Tavira. Mais tarde, fazem-se sentir os efeitos de uma peste devastadora (1645-1647) e da longa campanha da guerra da Restauração, retirando à cidade o protagonismo que adquirira no passado. Apesar da perda de importância, continuam a surgir na cidade novas construções - como os conventos dos paulistas e dos capuchos -, erguidas dentro do austero "estilo chão", estilo caracterizado pela sobriedade formal e pelo despojamento decorativo, valores que farão fortuna na arquitetura até ao eclodir do barroco no século XVIII. Os anos de estabilidade de D. Pedro II e D. João V parecem travar a estagnação da cidade. O abrandamento da agressividade do corso e da pirataria, bem como uma percetível recuperação económica, contribui para um crescimento longo e sustentado da população entre os finais do século XVII e meados do século XVIII. A cidade regista neste período o desenvolvimento da atividade das Ordens Terceiras, das confrarias ou irmandades, favorecendo a proliferação e o esplendor de igrejas e capelas, mandadas erigir e decorar pelos confrades. Neste contexto, é rica a arquitetura de Tavira realizada na época barroca, especialmente, devido às obras de Diogo Tavares de Ataíde (1711-1765), tido como o maior arquiteto do barroco algarvio - autor, entre outras, das remodelações do convento da Graça e da igreja e hospital do Espírito Santo. O terramoto de 1755 atinge alguns dos mais antigos edifícios da cidade como a igreja matriz de Santa Maria, que será reconstruída dentro do espírito neoclássico que caracteriza o fim do século XVIII. Após o sismo, a cidade passa a contar com a presença regular do Governador e Capitão General do Algarve, dotando-se equipamentos de apoio à sua política. Surgem, neste âmbito, o palácio do Governador no Alto de Santa Ana, um hospital militar (1761) e o Quartel da Atalaia (1795), destinado a alojar condignamente o regimento da cidade. No âmbito de uma política nacional de recuperação económica, o Marquês de Pombal funda em Tavira, em 1776, uma fábrica de tapeçarias, cuja produção, no entanto, foi precária e efémera. A instabilidade proporcionada pelas invasões francesas, pelas lutas liberais e por uma grave epidemia de cólera não ajuda a cidade a ultrapassar o seu apagamento durante as primeiras décadas do século XIX. O campo tende a mandar na economia local, depois da redução significativa da pesca, em virtude do quase total desaparecimento do atum das áreas onde habitualmente surgia. O liberalismo introduzirá uma nova consciência social, levando à construção do Mercado da Ribeira (1885) e do Jardim Público (1889). Desaparecem, no entanto, partes consideráveis da muralha antiga da cidade e de antigos conventos, como o de São Francisco. O início do século assiste ao aparecimento da linha ferroviária (1905), que acabará por influenciar o espaço urbano com o rompimento de novas artérias de ligação ao centro da cidade. O regime republicano investe em novos equipamentos públicos, como a cadeia, um matadouro, um cemitério e a instalação de iluminação elétrica. Nas áreas limítrofes instalam-se unidades fabris de conserva de peixe. Durante o Estado Novo (1926-1974) surgem novos arruamentos e edifícios públicos, alguns seguindo os moldes oficiais: escolas da Porta Nova e da Estação, o Palácio da Justiça, o Posto Agrário e o antigo edifício dos Celeiros da Federação Nacional de Produtores de Trigo, entre outros.

Bandeira de Tavira

Heráldica

                Um dos mais antigos registos das armas da cidade de Tavira consta da iluminura do Foral dado pelo rei D. Manuel I no ano de 1504. Aí se vê um desenho representando uma ponte de três arcos sobre um rio em que navega um barco com três mastros. Sobre os encontros da ponte ergue-se, em cada um deles, uma torre com duas ordens de ameias. Mais três torres se levantam sobre o passadiço, sendo a do meio mais alta que as colaterais. Um escudo nacional sobrepõe-se a cada uma das torres dos encontros. Seguindo a ordem do tempo, encontramos depois a pedra de armas da cidade incrustada na frontaria da Igreja da Misericórdia do ano de 1551. Examinando este símbolo, verificamos ainda hoje que nele figura uma ponte de um só arco, flanqueada por duas altas torres, sobre um rio em que navega um navio de antanho, de um único mastro com vela recolhida, guindada. Sobre o passadiço da ponte, ao meio dele, outra torre de dois andares. E de um e outro lado, entre a torre central e as duas referidas laterais, o escudo nacional com as cinco quinas, tal como o desenho da folha de entrada do Foral de 1504. No século XIX, com a Revolução Liberal, a ponte perde a torre central, ficando apenas com as dos dois encontros. O navio mantém os três mastros iniciais e o escudo passa a sobrepujar o passadiço. É assim que consta da pedra de armas que ainda hoje encima a fachada central do andar nobre dos Paços do Concelho, munida de cartela com data de 1837. Mas outra Revolução, a de 1926, havia de providenciar a substituição dos brasões municipais. Para o caso de Tavira chamaram para o efeito um conhecido nome da heráldica, Afonso de Dornellas. No parecer que apresentou à Secção de Heráldica da Associação dos Arqueólogos Portugueses, em sessão de 26-11-1932, indicou o modo como deveriam passar a ser constituídas as armas, o selo e a bandeira de cidade de Tavira:
de prata com uma ponte de sete arcos de vermelho, entre duas torres do mesmo(vermelho), iluminadas de negro, saínte de rio de duas faixas ondadas de azul e prata, seguidas de um mar de quatro faixas ondadas de prata, alternadas de três de verde. Vogando neste mar, um barco de negro realçado de ouro, vestido de prata e mastreado e encordoado de negro. Em chefe uma branca coroada de ouro e uma cabeça de carnação negra com turbante de prata. Coroa mural de prata de cinco torres. Bandeira quarteada de oito peças de branco e negro. Listel branco com os dizeres a negro.”
Afonso de Dornellas, não se tendo apercebido da existência dos desenhos do antigo brasão de armas de Tavira, guiou-se, para propor um novo, pelas descrições do anterior feitas por alguns autores que apenas referiam a ponte entre duas torres e o navio sobre as ondas. A ponte simbolizava, na sua opinião, “a importância que a ponte tem para a vida local”, e o navio “dá a ideia da sua importância comercial alfandegária”. Mas Afonso Dornellas considerando que “devemos tornar mais completos os selos municipais” deu à ponte o número de arcos que ela realmente hoje tem e acrescentou na parte superior (designada por chefe) uma cruz - espada da Ordem de Santiago, usada pelos cavaleiros que tomaram Tavira aos mouros, e duas cabeças – uma branca, do “Rei Cristão”, e outra, negra, do “Chefe Mouro”.


Cultura e Turismo

           O concelho de Tavira possui uma linha de costa com mais de 18 quilómetros de extensão onde se encontram as ilhas de Tavira e Cabanas, oferecendo praias de areia fina e branca e onde a temperatura média da água do mar ronda os 22º C. A ilha de Tavira possui uma extensão de, aproximadamente, 11 quilómetros e nela se inserem as praias da Ilha de Tavira, Terra Estreita, Barril e Homem Nú. A ilha de Cabanas possui uma extensão de 7 quilómetros. Na zona central da mesma localiza-se a praia, que pela sua acessibilidade e disponibilidade de equipamentos de apoio aos utentes, é a área mais predisposta e sujeita à utilização balnear. Em toda a zona litoral do concelho existem várias áreas naturais de salinas, sapais e dunas repletas de biodiversidade, inseridas em pleno Parque Natural da Ria Formosa, e onde existe a possibilidade dos visitantes realizarem diversas actividades de contacto com a natureza e observação da fauna e flora local, sendo por isso um privilegiado destino de férias para os amantes da natureza. A Serra do Caldeirão é maior cordilheira Algarvia, estendendo-se desde a Ribeira de Odelouca até aos planaltos do Nordeste algarvio. O seu ponto mais alto no concelho de Tavira localiza-se em Alcaria do Cume (535 m).
Trata-se de uma paisagem com elevações arredondadas e relevo acidentado com densa rede hidrográfica, constituída na sua maioria por cursos de água temporários ladeados por galerias ripícolas, onde predomina o freixo. A Serra do Caldeirão é formada maioritariamente por rochas xistosas onde predominam as estevas. As espécies mais notáveis de fauna presente são: a águia-de-bonelli, o veado, o javali, o coelho e a lebre.
As culturas agrícolas predominantes na serra do Caldeirão são as de sequeiro – amendoeira, alfarrobeira e oliveira. A floresta é dominada: pelo sobreiro, azinheira, pinheiro e eucalipto. O Centro Histórico de Tavira é um local de cruzamento de diversos povos e culturas – fenícios, turdetanos, árabes, judeus – foi após a reconquista cristã sede de um concelho com crescente influência no reino de Portugal. Terra do Rei e de importância fulcral para os sucessos da expansão portuguesa para o Norte de África nos séculos XV e XVI, viu crescer o seu prestígio político, religioso e económico, permitindo desenvolver uma notável atividade construtiva e artística, de que é exemplo a célebre escola de arquitetura renascentista de André Pilarte, e mais tarde, durante o século XVIII, a atividade do mestre Diogo Tavares de Ataíde. O intercâmbio de distintas épocas e sensibilidades culturais marcou indelevelmente a paisagem, a morfologia urbana, a arquitetura e a arte, no fundo, o seu desenvolvimento artístico em geral. E, não obstante algumas calamidades cíclicas – terramotos, cheias, crises político-sociais –, a herança patrimonial tem conseguido sobreviver, sendo hoje um exemplo de uma cidade mediterrânica fortificada, no limite da Europa, excecional pela qualidade formal, harmonia e coerência de alguns espaços urbanos, onde confluem modelos medievais e renascentistas, com um conjunto distinto de imóveis ilustrando várias épocas, usos, estilos artísticos e cambiantes regionais, dificilmente encontramos em Portugal, tão bem como em Tavira, os elementos históricos constitutivos de uma cidade de estuário atlântico-mediterrânica, com formas que muitas vezes foram assimiladas além-mar e reproduzidas localmente. O Alto de Santa Maria, ligeira colina junto ao rio Gilão, foi primeiramente povoado no século VIII a.C. por gentes relacionadas com contexto expansionista fenício a Ocidente do Estreito de Gibraltar. O local permitia a boa visibilidade do tráfego comercial fluvial e das eventuais aproximações inimigas. Escavações arqueológicas dirigidas há poucos anos por Maria Maia e Manuel Maia no subsolo da pensão Netos revelaram parte da espessa muralha que cercava o antigo povoado. Os achados encontrados indiciam a vivência de um povo que cultivava a leitura e a escrita, e realizaria alguma produção metalúrgica em ferro e prata, eventualmente utilizada para negociar com outros povoados. Os “poços votivos” localizados onde hoje se situa o Palácio da Galeria indicam que este povo marinheiro teria aqui, muito provavelmente, um lugar reservado a práticas religiosas consagradas ao deus Baal, crê-se que o povoado fenício de Tavira terá sobrevivido e mantido alguma relevância económica e comercial regional entre os séculos V e IV a.C., acabando, mais tarde, por falir. A riqueza científica dos vestígios encontrados é, até agora, única em Portugal e deverá ser conjugada com o futuro núcleo museológico fenício. Em Tavira são parcos os dados arqueológicos do período romano, indiciando que a colina de Santa Maria terá sido secundarizada face à proximidade de Balsa, a maior cidade romana do Sul do país, a escassos oito quilómetros de distância. Os muçulmanos retomam a povoação de Tavira em finais do século X ou inícios do XI, bem como a vocação portuária e comercial do lugar. O topo da colina é refortalecido com o castelo, destinado a proteger o vau do Gilão que permitia o trânsito entre as duas margens, supostamente, antes da construção da ponte. O perímetro muralhado atinge cerca de cinco hectares, todavia, é patente que a extensão da cerca sofre mutações ao longo da presença islâmica, sensível às circunstâncias militares e à sucessão dos poderes (almorávida, taifas, almóadas). No topo estaria a alcáçova, concentrando os edifícios políticos e religiosos - duas mesquitas, posteriormente convertidas em igrejas católicas. Partes da muralha islâmica ainda se avistam pela cidade, na Bela Fria por exemplo, mas também no interior das casas da atual praça da República. São muros constituídos por uma fortíssima amálgama de cal, areia e pedras revestidas por pedra aparelhada. Outra herança da muralha islâmica é a torre hexagonal que cai para a rua da Liberdade que, apesar de refeita, deve ser colocada em paralelo com outras torres poligonais ibéricas de época muçulmana. Encontramos um vislumbre da cultura urbana deste período no que resta do bairro almóada descoberto no subsolo do convento da Graça, constituindo um dos melhores exemplos em território nacional do modelo de casas e ruas citadinas usado na Península Ibérica e no Magreb durante o período em apreço. Todo o acervo de peças recolhidas neste e noutros contextos arqueológicos islâmicos espalhados pela cidade demonstram, não só as áreas que foram habitadas, mas também os hábitos e as posses dos seus residentes. Por vezes com algum fausto. Exemplo disso é o célebre Vaso de Tavira e todo um conjunto de artefactos menos conhecidos, mas igualmente admiráveis. A conquista de Tavira pela Ordem de Santiago acontece em 1242. A mudança do poder tem efeitos na feição urbana. Dentro das muralhas deixa de caber a comunidade muçulmana, desalojada, passando esta a residir do lado exterior, diante da antiga e desaparecida Porta do Postigo. Aí ficava a mouraria, da qual a memória toponímica é ainda bem patente na rua dos Mouros, ou no Largo do Pocinho dos Mouros, mais portas atravessavam a muralha. A principal, junto ao rio, chamava-se Porta da Vila, acrescentando-se a esta as portas da Alfeição, do Buraco, da Vila Fria, a Porta Nova contra o Cano e a Porta dos Pelames. Todas são definidoras das vias que estruturam a “vila-a-dentro”, caracterizada pela conjugação de uma malha regular e densa com uma área pouco construída e sem uma estruturação clara dos quarteirões.
Os reis portugueses promovem beneficiações na muralha. D. Dinis faz obras no castelo e D. Fernando terá alargado a cerca. Inevitável, no entanto, é a expansão do núcleo medieval para a zona exterior da cerca. Além da Mouraria, nascem os núcleos do alto de São Francisco, as Tercenas (ao longo da margem direita do rio) e um primeiro desenvolvimento na margem esquerda. Desenvolve-se também um eixo principal confinante com a muralha e definido pela Rua do Malforo (rua Miguel Bombarda), Rua Nova Grande (rua da Liberdade), praça da Ribeira (República) e a ponte, do qual depois progridem as áreas ribeirinhas nas duas margens. Orlando Ribeiro realça justamente Tavira como raríssimo exemplo de cidade fluvial portuguesa que contaminou indiferentemente as duas margens, sem quebra de unidade. Salienta o facto de, em épocas recuadas, a ponte ter sido habitada, o que conferia uma imagem de edificação contínua que superava a natural divisão oferecida pelo rio, para tal contribuirá também o acelerado desenvolvimento urbano durante o reinado de D. Manuel I. É notável a urbanização que nasce na zona ribeirinha em finais da Idade Média, à ilharga da “vila-a-dentro”, denunciando princípios renascentistas e características fundamentais do urbanismo português de então. Designadamente, o chamado “urbanismo regulado” (baseado na regulamentação e não no desenho). Alinhando num esquema de rua-travessa, geram-se áreas que apresentam uma enorme regularidade quer no traçado das ruas, quer na sua própria base cadastral e altimétrica. Com uma malha regular orientada pelo rio, esta “nova” cidade articula-se habilmente com a “velha” através da Praça da Ribeira, com o campo através da Corredoura e com o mundo através do Gilão. 
Na definição do espaço urbano saliente-se o papel dos numerosos edifícios religiosos. Igrejas, capelas e conventos marcam o perfil de ruas, largos, servindo como pólos de referência para esses espaços. Aglutinam normalmente conjuntos urbanos e os seus adros potenciam a criação de zonas amplas (largos ou praças) propícias à afluência e concentração de fiéis. É notável o conjunto de arquitetura religiosa que a cidade possui. Apesar de não ter sido escolhida para sede do Bispado do Algarve no século XVI, quando Silves se encontrava em decadência, Tavira manifesta uma enorme sensibilidade religiosa, erigindo inúmeros centros de devoção, o que é igualmente sintomático da sua importância e prosperidade aos longos dos séculos.

Hoje em dia são vinte e uma igrejas. Com efeito, ainda mal terminara a conquista do lugar pela Ordem de Santiago e já este contava com as matrizes de Santa Maria e de Santiago, em resultado do aproveitamento e adaptação das antigas mesquitas árabes.

O desenvolvimento urbano será sempre pontuado pela Igreja, seja através das matrizes, dos templos de ordens terceiras e confrarias ou através de instalações mais amplas, como os conventos. A Igreja também beneficia da próspera conjuntura socioeconómica dos séculos XV e XVI, associada ao crescimento demográfico, à expansão urbana e ao período em que o porto de Tavira era o de maior irradiação para a defesa e manutenção das praças lusas do Norte de África. A arquitetura e a produção artística para ornamento dos templos conhecem nestes séculos uma atividade considerável através das paróquias, ordens religiosas, irmandades e confrarias. Nota-se, aliás, que a origem de algumas casas religiosas reflete a estreita relação de Tavira com o projeto de expansão da coroa para o Norte de África, caso do convento de N. Sr.ª da Piedade, fundado por D. Manuel I em ação de graças pelo levantamento de um cerco mouro a Arzila; ou do convento agostinho de Nossa Senhora da Graça, fundado em Tavira após uma tentativa frustrada de o fazer erguer em Azamor. A diminuição da importância da cidade nos séculos posteriores não afeta sobremaneira o ritmo de fundação de novos edifícios religiosos, os quais são marcados com mais ou menos austeridade de acordo com as flutuações estilísticas e temporais. Os tavirenses manterão a proximidade aos centros de devoção. Exemplo disso são os anos de estabilidade de D. Pedro II e D. João V, enquadrados pela exultação barroca da Igreja contrarreformista, favorecendo um novo período de grande atividade na construção de igrejas e na ornamentação das existentes.
Os sentimentos anticlericais que caracterizam os séculos XIX e XX traduzem-se na secularização ou desaparecimento de alguns templos, fazendo reduzir para vinte e um os cerca de vinte e cinco anteriormente existentes. O saldo histórico apresenta-se, ainda assim, extremamente vantajoso para a cidade, é de realçar a riqueza artística acumulada ao longo de séculos nestas igrejas, a pluralidade de estilos, disciplinas e artistas que nelas se encontram. A qualidade dos vestígios góticos e manuelinos da matriz de Santa Maria ou do antigo convento de São Francisco, a elegância personalizada do renascimento na Misericórdia do mestre André Pilarte, a força do “estilo chão” nas igrejas de São Paulo ou da Graça ou ainda exuberância decorativa dos espaços barrocos do Carmo ou São José, definem em conjunto, nestes ou noutros templos da cidade, todo um percurso sugestivo da arte portuguesa, das suas cambiantes estilísticas e interpretações locais. A história de Tavira encontra-se indissoluvelmente ligada à atividade militar. A preocupação com a defesa de um território e com a segurança de uma comunidade que, como vimos, atingiu períodos de grande relevância estratégica e económica, manifesta-se na construção de diversas infraestruturas e na fixação de corpos militares. Já aqui foram elencados alguns monumentos castrenses que são marcos de identidade na definição do traçado e da estrutura urbana do aglomerado. A muralha fenícia fixou o local e determinou o seu desenvolvimento posterior. O castelo medieval predomina e testemunha aspetos particulares que se referem aos conturbados anos da reconquista cristã e à afirmação da soberania portuguesa sobre o território do Algarve. Na orla costeira, as ruínas do Forte de Santo António e a Fortaleza de São João de Cabanas são a memória de um tempo em que o perigo vinha, essencialmente, do mar. Quer o projeto de expansão além-mar, quer a dinâmica da Guerra da Restauração (1640-1668) são responsáveis pelo aparecimento de mecanismos defensivos na costa, tendo em atenção a proteção das pessoas e das pescas face aos constantes ataques de piratas mouriscos ou de corsários encorajados pelos rivais europeus, mas não só de fortificações se compõe a arquitetura militar de Tavira. A presença regular de corpos militarizados e a flexibilidade dos engenheiros militares – que amiúde se assumem como arquitetos de todo o tipo de edifícios utilizados pelas tropas – justificam a construção de interessantes equipamentos de apoio. São os casos do antigo hospital militar da rua dos Mouros (1761) e do imponente Quartel da Atalaia (1795); sendo ainda de destacar um dos mais distintivos símbolos de Tavira: a ponte antiga sobre o Gilão, concebida segundo modelos da arquitetura militar, fruto da reconstrução de 1657 dirigida por Mateus do Couto e Pedro de Santa Colomba, dois homens ligados ao exército.




Gastronomia

            A gastronomia está intimamente ligada à história e às características geográficas e sociais de uma região. No passado, Tavira foi um importante porto de pesca, sendo a captura e transformação do atum, até cerca de 1950, uma das principais atividades económicas, os produtos do mar são os ex-libris da nossa gastronomia, destacando-se os mariscos, o polvo, o atum e o peixe grelhado. Contudo, não podemos esquecer a serra e o interior, onde a perna de cabrito no forno, a açorda de galinha, a caça, os enchidos, o queijo fresco de cabra e ovelha fazem parte da oferta gastronómica.
Nos restaurantes e pastelarias de Tavira, poderá ainda deliciar-se com os magníficos doces feitos à base de amêndoa, gila, alfarroba, figo e com os folhados de Tavira. Provar uma aguardente de medronho ou figo, produzidas artesanalmente nas freguesias de Santo Estêvão e Santa Catarina da Fonte do Bispo. A importância do vinho na região do Algarve remonta à presença muçulmana, não só pelo cultivo da vinha, mas também pelo comércio e exportação, bastante acentuados em Tavira. Neste momento, a única adega da região demarcada de Tavira é a Quinta dos Correias. Surpreenda-se com a qualidade da vinha situada em terreno arenoso, com calhau e argiloso e com alguns afloramentos calcários. A vinha é composta por cascas Castelão, Cabernet-Sauvignon e Touriga-Nacional.
                                                                                                         Perdiz estufada 
Perdiz EstufadaArroz de Polvo
Arroz de polvo


Bolo Mimoso
Bolo mimoso