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quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Viagem e visita ao concelho da Mealhada

Brasão de Mealhada

Localização

          Mealhada é um concelho do distrito de Aveiro, de cuja sede dista aproximadamente trinta e sete quilómetros, e está assente numa zona de transição entre os distritos de Aveiro e Coimbra. Situa-se em pleno centro da região demarcada da Bairrada, entre olivais e vinhas, na margem direita do rio Cértima, afluente do rio Vouga, a 60 metros de altitude e, estende-se, em parte, entre a Serra do Buçaco e a orla gandareza de Cantanhede. O concelho da Mealhada tem uma área de cerca 112 Km2 onde se distribuem as suas oito freguesias: Antes, Barcouço, Casal Comba, Vacariça, Ventosa do Bairro, Luso, esta com sede na Vila do mesmo nome, assim como acontece com as de Mealhada e Pampilhosa. O município é limitado a norte pelo município da Anadia, a leste por Mortágua, a sueste por Penacova, a sueste e sul por Coimbra e a oeste por Cantanhede. Inserido numa paisagem uniforme e pouco acidentada, o concelho de Mealhada desfruta de ótimas condições geomorfológicas, a par de excelente situação que lhe permite ser nó importante de comunicações, motivo que constitui dos principais factores para o seu desenvolvimento. Com um clima mediterrânico/atlântico, caracterizado por Verões com dias quentes e noites frescas, a Bairrada é uma região de colinas suaves, soalheiras e barrentas, cujos limites naturais são os areais da orla marítima e as serras do Buçaco (Bussaco-Bos Sacrum dos romanos) e do Caramulo. A região é formada por solos de constituição mineral de diferentes épocas geológicas onde predominam os terrenos pobres, que variam desde os arenosos aos argilosos, encontrando-se também os franco-arenosos. 

História

        Os primeiros vestígios da presença humana na zona da Mealhada remontam ao Paleolítico, havendo, igualmente, múltiplos achados que testemunham a presença romana nesta região, tais como vestígios da via militar, Olissipo - Aemínium - Cale (Lisboa - Coimbra - Porto), e o marco miliário que data da época do Imperador Calígula (ano 39 d.C.). Porém, a povoação surge pela primeira vez documentada, apenas em 1288, e sob a designação de "Mealhada Má". O qualificativo (Má) caiu em desuso a partir do século XVI e, o topónimo Mealhada parece aludir à recolha de "mealhas", ou seja, contribuições em dinheiro miúdo. No início, a mealha não era uma moeda em si; chamava-se "medalia" em latim vulgar, e era a metade de um "denarius", que era partido em dois; estas "medaliae" (manaliae na Baixa Idade Média), ou seja, as mealhas, eram usadas no pagamento de impostos locais, e eram armazenadas nos chamados cofres mealheiros. As mealhas foram abolidas por decisão de D. Manuel I. Administrativamente, o território da Mealhada pertenceu desde sempre ao concelho de Vacariça, onde por volta do século IX, os beneditinos fundaram um mosteiro (Mosteiro da Vacariça) que seria extinto no século XI. O seu declínio foi acarretado pela restauração da Sé de Coimbra após a reconquista da cidade em 1064. O cenóbio foi doado, em 1093, pelo Conde D. Raimundo, ao bispo coimbrão, desaparecendo a comunidade monacal no início do século XII, época em que, segundo documentos da altura, já a vila do Luso, situada na vertente noroeste da Serra do Buçaco, aparecia ligada ao referido mosteiro. "Luso" é um topónimo que deriva, indiscutivelmente, de um antropónimo, embora não existam provas suficientes para se determinar com exatidão se teve origem no germânico "Lausus", se no latim "Lucius", apesar da evolução fonética da palavra apontar para a última hipótese. Segundo Ferraz da Silva "... a certidão de nascimento do Luso tem data de 1064, recolhida num inventário de vilas e lugares entre Vouga e Mondego, pertencentes ao Mosteiro da Vacariça, onde se refere, entre outras, a «vila de luso, que fuit de Abba Noguram cum su ecclesia vocabulo sancti Tomé»". Luso separou-se desta primordial paróquia ("sancti Tomé") em 1834, mantendo-se independente até à atualidade. Importante será também informar acerca do topónimo "Buçaco", para tal, será necessário recorrer à História nacional. No início da Nacionalidade, o país foi povoado por vários estrangeiros, principalmente vindos da atual França; este facto originou uma série de topónimos portugueses com origem provençal, sendo "busac", nome de uma família de águias das grandes alturas e com uma vista extraordinária, uma possível justificação para o topónimo "Buçaco"; esta analogia de altitude e amplitude de visão está de inteiro acordo com a própria Serra do Buçaco. A Vacariça recebeu carta de foral de D. Manuel I; porém, em 1557, D. João Soares, Bispo de Coimbra, doaria as igrejas da Vacariça, Luso e Pampilhosa ao Colégio Conventual da Graça, em Coimbra. Mais tarde, em 1628, três freires da congregação dos Carmelitas Descalços de Aveiro foram para a mata do Buçaco, com o intuito de edificar o cenóbio, de acordo com a sua regra: o desejo de viverem num ermitério, num local isolado, onde pudessem praticar o desenvolvimento florestal (o Buçaco era o lugar ideal para se cumprirem estes votos). Alberto da Virgem, um dos religiosos vindos de Aveiro, foi o responsável pelo traçado arquitetónico do convento, marcado pela sua simplicidade, dedicado a de Santa Teresa. O Convento dos Carmelitas Descalços extinguiu-se, como muitos outros, em 1834, dois anos antes da criação do concelho da Mealhada, por D. Maria II, ao que seguiu a extinção do velho concelho da Vacariça, embora só declarada, quase um ano mais tarde, a 4 de Julho de 1837, incorporando-se nesta altura as freguesias que a ele pertenciam: Vacariça, Tamengos, Aguim, Casal Comba, Luso e Ventosa do Bairro, no novo concelho da Mealhada. No ano de 1853, por Decreto de 31 de Dezembro foram impostas novas alterações à área administrativa do concelho: perdeu a Norte as freguesias de Tamengos e Aguim, para o vizinho concelho de Anadia e ganhou a Sul as freguesias de Barcouço, do extinto concelho de Ançã (atual vila pertencente ao concelho de Cantanhede) e de Pampilhosa da Serra do concelho de Coimbra. O concelho de Mealhada foi, após a publicação do Decreto de 24 de Outubro de 1855, integrado na área administrativa do distrito de Aveiro. Judicialmente o concelho é hoje sede de concelho, instalada recentemente no edifício da Casa da Cultura da Mealhada. Curiosamente e, passados que foram longos anos da data em que se tornou sede de concelho, a vila de Mealhada só se autonomizou da vetusta freguesia da Vacariça, no ano de 1944, pelo Decreto-Lei nº 33.370.

Bandeira de Mealhada

Heráldica

Brasão: de prata, com um carvalho de sua cor sobre um terrado, acompanhado de dois cachos de uvas de púrpura, folhados de verde. Coroa mural de quatro torres, de prata.

Bandeira: de verde, com as armas ao centro e por baixo um listel com a inscrição «Mealhada», de negro.


Palácio Real e Mata Nacional do Buçaco

           O Palácio Real localiza-se na Mata Nacional do Buçaco, freguesia do Luso, concelho da Mealhada, distrito de Aveiro, em Portugal. Considerado como o último legado dos reis de Portugal constitui-se em um conjunto arquitetónico botânico e paisagístico único na Europa, onde está instalado atualmente o Palace Hotel do Bussaco, categorizado como um dos mais belos e históricos hotéis do mundo. O edifício foi projetado no último quartel do século XIX pelo arquiteto italiano Luigi Manini, cenógrafo do Teatro Nacional de São Carlos. Contou ainda com intervenções, em diferentes fases, dos arquitetos Nicola Bigaglia, Manuel Joaquim Norte Júnior e José Alexandre Soares, encontra-se classificado como Imóvel de Interesse Público desde 1996. O edifício do atual hotel, em estilo neo manuelino  está decorado com painéis de azulejos, frescos e quadros alusivos à Epopeia dos Descobrimentos portugueses, todos eles assinados por alguns dos grandes mestres das artes. A estrutura exibe perfis da Torre de Belém lavrados em pedra de Ançã, motivos do claustro do Mosteiro dos Jerónimos, alguns arabescos e florescências do Convento de Cristo, alegando um gótico florido com episódios românticos em contraste com uma austera severidade monacal. Em seu interior destacam-se notáveis obras de arte de grandes mestres portugueses da época, desde a coleção de painéis de azulejos do mestre Jorge Colaço, evocando Os Lusíadas, os Autos de Gil Vicente e a Guerra Peninsular, graciosas esculturas de António Gonçalves e de Costa Mota, telas de João Vaz ilustrando versos da epopeia marítima de Luís Vaz de Camões, frescos de António Ramalho e pinturas de Carlos Reis. O mobiliário inclui peças portuguesas, indo-portuguesas e chinesas, realçadas por faustosas tapeçarias. Destaque ainda para o tecto mourisco, o notável soalho executado com madeiras exóticas e a galeria real. Os jardins e parque envolvente, o Convento de Santa Cruz do Buçaco, o Deserto monacal, o Sacromonte simbolizando Jerusalém e a paixão de Cristo, com os seus passos da Via Sacra, a Cruz Alta, as inúmeras ermidas e capelas, constituem o mais vasto conjunto arquitetónico edificado pela Ordem dos Carmelitas Descalços; o Vale dos Fetos e seus lagos, a Fonte Fria com a cascata artificial, de forte influência italiana pela mão de Maria Pia, e os miradouros românticos, são outras atrações. Complementarmente, o Museu Militar do Buçaco convida a uma incursão no historial da Guerra Peninsular, com destaque para a batalha do Buçaco na qual, em 1810, as tropas anglo-lusas lideradas pelo Duque de Wellington derrotaram o exército napoleónico.








Cultura e Turismo

         Encontram-se neste concelho vários edifícios e projetos destinados à cultura, ao desporto e ao lazer: Biblioteca Municipal, Casa da Cultura da Mealhada, Pavilhão Gimnodesportivo de Pampilhosa, Pavilhão Gimnodesportivo do Luso, Parque de Campismo, Piscina e Campo de Ténis do Luso e Piscina Municipal. Além destes, o concelho alberga outros importantes atractivos turísticos, como a Mata do Buçaco e as Termas do Luso. A termas, são estância de saúde e de férias, onde existe um dos mais avançados complexos termais de Portugal. Aqui, a tecnologia associa-se à acção fisiológica da água termal e aos restantes tratamentos especializados, onde os pormenores da saúde de cada aquista (pessoa em tratamento em local de águas medicinais) são acompanhados constantemente por equipas de médicos e técnicos de saúde qualificados. A Mata do Buçaco é um belo arvoredo com mais de 700 espécies vegetais, dedicado à meditação natural, protegido por muralhas e bulas papais, respeitado pelo ímpeto napoleónico de Massena contra Wellington e com um convento que os últimos reis de Portugal decoraram com arte neomanuelina para ser palácio e hotel deslumbrante. A floresta do Buçaco é única e primitiva e pertenceu aos monges carmelitas entre os anos de 1628 e 1834, monges que tinham por voto plantar árvores, protegê-las e amá-las, com o fervor de juntar à mata espécimes raros de outros continentes e tornar universal este templo da natureza. A Mata do Buçaco estende-se desde a Cruz Alta - o ponto mais alto da Serra do Buçaco, a 549 metros de altitude -, por dois vales separados pelo planalto onde se encontra o Palace Hotel (da autoria de Luigi Manini) e que se unem no cimo do escadório da Fonte Fria, formando o magnífico Vale dos Fetos.


Gastronomia

         A Bairrada, no centro da qual se encontra o Luso e todo o concelho da Mealhada, é uma referência e um ex-líbris no património gastronómico e dos vinhos de Portugal. A Mealhada é célebre pelos seus muitos restaurantes, onde bons vinhos e uma deliciosa especialidade, leitão assado, atraem muitos visitantes. O leitão assado é o seu grande cartão de visita, mas o pão da Mealhada (amassado e estendido por mãos sábias, que depois o levam a cozer em forno de lenha, entre pequenos segredos e sentidas preces), a chanfana de cabra, os caramujos e as cavacas do Luso não lhe ficam atrás. A cabidela de leitão é outra das relíquias da gastronomia local. Sabores que não dispensam a companhia dos apreciados néctares, produzidos criteriosamente nas adegas desta região vitivinícola, uma das mais antigas de Portugal.