Translate

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Viagem e visita ao concelho de Angra do Heroísmo - Açores

Brasão de Angra do Heroísmo

Localização

            Angra do Heroísmo é uma cidade que se localiza na costa Sul da Ilha Terceira, nos Açores, é sede de um município com 239 km² de área e subdividido em 19 freguesias. O município é limitado a nordeste pelo município da Praia da Vitória, sendo banhado pelo Oceano Atlântico em todas as demais direcções, constitui-se na capital histórica e em sede da diocese dos Açores. Abriga ainda um destacamento militar, o Regimento de Guarnição nº 1. A riqueza de seu património edificado fê-la ser classificada como cidade Património Mundial pela UNESCO desde 1983. Juntamente com Ponta Delgada e Horta, Angra constitui uma das capitais regionais.


História

           O local escolhido pelos primeiros povoadores foi uma crista de colinas, que se abria, em anfiteatro, sobre duas baías, separadas pelo vulcão extinto do Monte Brasil. Uma delas, a denominada "angra", tinha profundidade para a ancoragem de embarcações de maior tonelagem, as naus. Tinha como vantagem a proteção de todos os ventos, exceto os de Sudeste.
As primeiras habitações foram erguidas na encosta sobre essa angra, em ruas íngremes de traçado tortuoso dominadas por um outeiro. Neste, pelo lado de terra, distante do mar, foi iniciado um castelo com a função de defesa, à semelhança do urbanismo medieval europeu: o chamado Castelo dos Moinhos. Por carta passada pela Infanta Dna. Beatriz em 2 de abril de 1474, a capitania de Angra foi doada a Álvaro Martins Homem, que ao tomar posse dela deu início aos trabalhos da chamada Ribeira dos Moinhos, aproveitando a forças de suas águas e lançando as bases para o futuro desenvolvimento económico da povoação. A partir da proteção propiciada pelo Castelo dos Moinhos (atual Alto da Memória), o casario acompanhou a Ribeira dos Moinhos até à baía, primitivamente por ruas e vielas sinuosas - ruas do Pisão, da Garoupinha, de Santo Espírito, das Alcaçarias - cuja toponímia conservou a memória de suas actividades económicas. Martins Homem deu início à chamada Casa do Capitão, posteriormente acrescentada por João Vaz Corte Real, que também procedeu à canalização da Ribeira, à construção do primitivo Cais da Alfândega, da muralha defensiva da baía de Angra e do Hospital de Santo Espírito, ao mesmo tempo, liberava a àrea do vale para que, de acordo com os princípios do urbanismo do Renascimento, pudessem ser abertas ruas obedecendo a um plano ortogonal, organizadas por funções, de acordo com as necessidades do porto que crescia com rapidez. Nesse plano ortogonal serão abertas as ruas da Sé e Direita, ligando os principais elementos da cidade: o porto e a casa do capitão nos extremos do braço menor, os celeiros do Alto das Covas e a Câmara Municipal nos do braço maior. Ao longo do século XVI a cidade crescerá até ao Alto das Covas e a São Gonçalo, embora com ruas de traçado mais irregular. Desse modo, em poucos anos, desde 1478, a povoação fora elevada à categoria de vila e, em 1534, ainda no contexto dos Descobrimentos, foi a primeira do arquipélago a ser elevada à condição de cidade. No mesmo ano, foi escolhida pelo Papa Paulo III para sede da Diocese de Angra com jurisdição sobre todas as ilhas dos Açores, as razões para esse vigoroso progresso deveram-se à importância do seu porto como escala da chamada Carreira da Índia, centrado na prestação de serviços de reabastecimento e reaparelhamento das embarcações carregadas de mercadorias e de valores. Por essa razão desde as primeiras décadas do século XVI aqui foi instalada a Provedoria das Armadas, com essa função e a de apoiar a chamada Armada das ilhas. Posteriormente, no contexto da Dinastia Filipina, a estes vieram juntar-se os galeões espanhóis carregados de ouro e prata, oriundos das Índias Ocidentais, numa rota que se estendia de Cartagena das Índias, passava por Porto Rico e por Angra, e alcançava Sevilha. Para apoiar essas fainas, foram implantados os primeiros estaleiros navais, na Prainha e no Porto das Pipas, e as fortificações que fecham a baía: o chamado Castelo de São Sebastião e o de São João Baptista. A cidade, mais de uma vez, teve parte ativa na história de Portugal: à época da Crise de sucessão de 1580 resistiu ao domínio Castelhano, apoiando António I de Portugal que aqui estabeleceu o seu governo, de 5 de Agosto de 1580 a 6 de Agosto de 1582. O modo como expulsou os espanhóis entrincheirados na fortaleza do Monte Brasil em 1641 valeu-lhe o título de "Sempre leal cidade", outorgado por João IV de Portugal.
Posteriormente, aqui esteve Afonso VI de Portugal, detido nas dependências da fortaleza do Monte Brasil, de 21 de Junho de 1669 a 30 de Agosto de 1684, Angra constitui-se na capital da Província dos Açores, sede do Governo-geral e em residência dos Capitães-generais, por Decreto de 30 de Agosto de 1766, funções que desempenhou até 1832, foi sede da Academia Militar, de 1810 a 1832. No século XIX, Angra constitui-se em centro e alma do movimento liberal em Portugal. Tendo abraçado a causa constitucional, aqui se estabeleceu em 1828 a Junta Provisória, em nome de Maria II de Portugal. Foi nomeada capital do reino por Decreto de 15 de Março de 1830. Aqui, no contexto da Guerra Civil Portuguesa (1828-1834), Pedro IV de Portugal organizou a expedição que levou ao desembarque do Mindelo e aqui promulgou alguns dos mais importantes decretos do novo regime, como o que criou novas atribuições às Câmaras Municipais, o que reorganizou o Exército Português, o que aboliu as Sisas e outros impostos, o que extinguiu os morgados e capelas, e o que promulgou a liberdade de ensino no país, em reconhecimento de tantos e tão destacados serviços, o Decreto de 12 de Janeiro de 1837 conferiu à cidade o título de "mui nobre, leal e sempre constante cidade de Angra do Heroísmo", e condecorou-a com a Grã-Cruz da Ordem Militar da Torre e Espada.
A cidade sempre teve forte tradição municipalista, e a sua Câmara Municipal foi a primeira do país a ser eleita, já em 1831, após a reforma administrativa do Constitucionalismo (Decreto de 27 de Novembro de 1830). Em Angra encontraram refúgio Almeida Garrett, durante a Guerra Peninsular, e a rainha Maria II de Portugal entre 1830 e 1833, durante a Guerra Civil Portuguesa (1828-1834). Por aqui passou Charles Darwin, a bordo do "HMS Beagle", tendo aportado a 20 de Setembro de 1836. Darwin partiu daqui para a ilha de São Miguel em 23 de setembro, após fazer um passeio a cavalo pela ilha, onde entre vários locais visitou as Furnas do Enxofre, tendo na altura afirmado que a nível biológico "nada de interessa encontrar". Mais tarde, e reconhecendo o seu erro, pediu a vários cientistas, nomeadamente a Joseph Dalton Hooker, a Hewett Cottrell Watson e a Thomas Carew Hunt que lhe enviassem espécimes da flora endémica da Macaronésia e também amostras geológicas. 

Bandeira de Angra do Heroísmo

Heráldica

Armas - De prata com um castelo de vermelho aberto e iluminado de ouro, assente num contra-chefe de quatro faixas, duas de verde e duas de prata. Em chefe um açor de sua cor, voante, tendo nas garras uma quina de Portugal. Coroa mural de prata de cinco torres. O escudo acompanhado lateralmente e no pé pelo colar da Ordem da Torre e Espada. Listel branco com os dizeres “Cidade de Angra do Heroísmo” de negro.

Bandeira - Quarteada de quatro peças de amarelo e quatro de vermelho. Cordões e borlas de ouro e de vermelho. Haste e lança douradas.

Selo - Circular, tendo ao centro as peças das armas, sem indicação dos esmaltes. Em volta, dentro de círculos concêntricos, os dizeres “Câmara Municipal de Angra do Heroísmo” de negro.


Cultura e Turismo

          A riqueza de um Concelho vai muito mais além do que o seu património edificado, Angra, conhecida e reconhecida pelo seu rico património histórico, pela traça única da cidade, alberga em si um vasto património natural que urge promover, divulgar, revelar os seus segredos a todos os angrenses e a quem nos visita. Das grutas aos trilhos pedestres, das lagoas aos miradouros, o Concelho de Angra revela-se impar na sua diversidade, permitindo conhecer o que somos e o que fomos, revelado pelo património subaquático da baía de Angra, pela imponência das crateras dos vulcões do Monte Brasil e da serra de Santa Bárbara, pela existência de uma flora que o tempo e a geografia foram preservando únicas, um Concelho que associa a história à preservação ambiental, cujo conhecimento se torna agora mais acessível, através do magnífico trabalho efectuado. Angra e o seu património fazem-nos perder nas delícias de um passeio, na observação de paisagens luxuriantes que podem surgir do nada. Cada espaço estimula a descoberta, cada descoberta encobre outra.Existe no concelho de Angra do Heroísmo um conjunto de locais com observação privilegiada sobre a paisagem, que exibem algumas das melhores características do seu património natural ou na adaptação do meio às necessidades da população, operadas pelo Homem ao longo dos séculos.
Miradouro da Memória - Onde outrora estava uma antiga fortaleza, foi terminado em 1856 o monumento a D. Pedro IV, esta pirâmide quadrangular em pedra, vulgarmente conhecida como a Memória, verdadeiro ex-líbris da cidade. Deste admirável e sobranceiro Miradouro da Memória, que tende a concentrar o olhar na baixa da cidade e no seu jardim público, tem-se no entanto uma panorâmica alargada sobre esta cidade Património da Humanidade. Entre os edifícios classificados, agarrados às suas típicas varandas, e as ruas de traços geométricos e calçadas paralelepipédicas, destacam-se a Sé Catedral dos Açores, a Baía de Angra e os Castelos de São João Baptista e de São Sebastião.

O concelho de Angra do Heroísmo apresenta um diversificado património espeleológico, sendo conhecidas cerca de 44 cavidades naturais, de diferentes tipos. Correspondem a vários quilómetros de caminhos subterrâneos, onde se escondem muitos segredos e estranhas formas de vida.
Gruta do Natal - A Gruta do Natal localiza-se no interior da ilha Terceira, dentro da área protegida da Serra de Santa Bárbara e Mistérios Negros. É actualmente uma das duas grutas visitáveis turisticamente na ilha Terceira. No seu interior podem ser observadas estruturas geológicas diversas: escorrências de diferentes tipos de lava, estafilites e pequenos balcões laterais. Apresenta-se como um espaço didáctico a que cada vez mais pessoas recorrem, para tomarem um primeiro contacto com algo de diferente e compreenderem as manifestações vulcânicas que se encontraram na génese destas ilhas. Esta cavidade vulcânica terá tido a sua origem nas lavas de erupções fissurícolas ocorridas nas suas imediações, em data incerta. Este tubo de lava, com 697 m de comprimento total, apresenta um trânsito fácil no seu interior, um chão com poucos desníveis e tectos altos. O circuito interno é feito para que o visitante percorra no regresso um trajecto diferente. À esquerda do Altar apresenta-se outra secção da gruta, que poderá ser visitada por pessoas mais experientes. A Associação Os Montanheiros, ONGA responsável pela gestão da Gruta, organizaram a 25 de Dezembro de 1969 a primeira Missa de Natal no interior da mesma, que assumiu assim a actual designação de Gruta do Natal. Esta data marca ainda a abertura da gruta pela primeira vez à população em geral, para tal tendo sido construído um acesso simples e instalada uma iluminação rudimentar. A 1 de Dezembro de 1998 foi inaugurada a primeira Casa-apoio para exploração turística desta gruta, com ampliação em 2006, num projecto que colocava como prioridade a integração do edifício na paisagem envolvente. No interior do edifício é possível apreciar uma exposição fotográfica, da actividade histórico-social ocorrida nesta gruta, nomeadamente dos baptizados, missas e casamento realizados no seu interior.

Jardim Duque da Terceira - No centro da cidade de Angra do Heroísmo situa-se o Jardim Duque da Terceira, um dos mais belos jardins clássicos dos Açores, criado em 1882, por iniciativa do Governador Civil Afonso de Castro, ocupando uma área de cerca de 17.500 m2. Está implantado nas antigas cercas dos Conventos Franciscano e Jesuíta que se localizam nas proximidades. Ainda conserva dois interessantes testemunhos da antiga cerca dos Franciscanos: O “Tanque do Preto”, antigo tanque de rega da cerca, tendo, num dos topos, uma híbrida estátua de negro com cocar de índio brasileiro soprando água por um tubo; e o conjunto de quatro painéis de azulejos representativos da parábola do “Filho Pródigo”, de fabrico lisboeta de c. 1740, com muito interesse pela figuração de ambientes rústicos e cenas domésticas. Deve a sua concepção original ao agrónomo belga Francisco José Gabriel. Desde o seu início, foram várias as concepções estéticas aplicadas, sejam o rústico, geometrizado francês e romântico inglês, com uma maravilhosa mata de que restam poucos exemplares, formando um requintado mosaico cultural. À volta do coreto, no plano mais baixo, ainda hoje é privilegiado o tipo de jardim francês. A sua construção foi, primeiramente, com o propósito de passeio público, dando origem a um jardim de aclimatização devido às características edafo-climáticas dos Açores, que proporcionam condições excepcionais para o desenvolvimento de plantas dos mais variados quadrantes do mundo. A grande variedade de espécies botânicas do jardim dispõe-se ao longo da encosta que, do centro da urbe, conduz ao alto da Memória, admirável miradouro sobre a cidade e onde, em monumento com a forma de obelisco, construído entre 1845 e 1856, se relembra D. Pedro IV e a causa liberal.



Gastronomia

              A gastronomia da Terceira é afamada pela alcatra, geralmente de carne de vaca, mas também de peixe. O prato é típico por ser cozinhado lentamente num tacho de barro, para apurar e espessar o molho composto por toucinho, cebola, alho, louro, pimenta e vinho, entre outros ingredientes. Acompanha geralmente com pão ou massa sovada. Este método de confecção é igualmente aplicado a outras iguarias: galinha, feijão, coelho, polvo e favas. Na doçaria ganha destaque as queijadas Dona Amélia, onde o mel de cana e a canela se associam a corintos e cidras. Diz a lenda que o nome do bolinho está associado à passagem da rainha D. Amélia pela Terceira. Os coscorões, as cornucópias (com recheio de doce de ovos) ou o arroz doce complementam a lista de sobremesas.  A paisagem da região dos Biscoitos é marcada pela vinha, disposta em “curraletos”. Das uvas da casta verdelho, nasce um tipo específico de vinho, defendido e divulgado desde 1993 pela Confraria do Vinho Verdelho dos Biscoitos. Na Casa Agrícola Brum funciona um Museu do Vinho, onde o visitante tem o privilégio de provar o vinho licoroso Angelica. 

                                                                                                        Donas Amélias 
Donas AméliasAlcatra
Alcatra 


Cornucópias
Cornucópias