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sexta-feira, 12 de julho de 2013

Viagem e visita ao concelho de S. Brás de Alportel

Brasão de São Brás de Alportel

Localização

        São Brás de Alportel é uma vila portuguesa no Distrito de Faro, região e sub-região do Algarve, é sede de um município com 150,05 km² de área e um dos cinco municípios de Portugal com uma única freguesia. É limitado a norte e leste pelo município de Tavira, a sueste por Olhão, a sul por Faro e a oeste por Loulé.


História :

          O território que actualmente é ocupado pelo concelho de São Brás de Alportel esconde a História de muitos milhares de anos. A ocupação humana no Concelho de São Brás de Alportel ascende à Pré–História (desde o Paleolítico), como atestam diversos achados, tais como lascas de sílex, quartzo e quartzito, um brunidor de xisto negro e um seixo em xisto jaspóide que parece ter desenhado numa das superfícies um bovídeo e, na outra, um cavalo (arte móvel). No que se refere à Proto-História, o desconhecimento é ainda total. Os períodos históricos mais representados e, por isso, mais estudados são o romano e o medieval islâmico. A presença Romana ficou testemunhada, neste território, por diversos vestígios que nos apontam para a existência de possíveis necrópoles, casais agrícolas, uma villa, uma mutatio (estação de muda de animais e carros para viajantes) e as calçadas que integravam a antiga rede viária romana. Esses sítios foram identificados pela presença de fragmentos de cerâmica fina (campaniense e terra sigillata), comum, de armazenamento (ânforas e dolia) e de construção (tegulae, ímbrices, tijolos) e de iluminação (lucernas), bem como pela descoberta de um mascarão de asa de sítula (pega de panela) e de sepulturas com espólio associado, cuja cronologia mais antiga remete para o século II/I a.C. prolongando-se até ao IV–V d.C.
(PEREIRA, 2002b:2). De salientar ainda os dois monumentos funerários, em forma de ara, em que um deles (IRPC 64) apresenta, além da inscrição a Cecília Marina, uma decoração em relevo nas quatro faces considerada nica no Conventus Pacensis (ENCARNAÇÃO, 1984: 112-113)
A ocupação Islâmica está atestada através de fontes documentais (séculos XI-XIII) (KHAWLI, 2007: 22) e de sítios arqueológicos com uma ocupação cronológica compreendida entre os períodos Califal (séculos X-XI) e Almóada (séculos XII-XIII), designadamente alcarias e pequenos povoados agrícolas, alguns localizados junto de vias calcetadas (PEREIRA, 2004a).
Esses sítios foram identificados pela presença de artefactos cerâmicos: louça de mesa (decoradas a “corda seca” e vidrados melados com decoração a manganês), de cozinha (panelas e alguidares), de armazenamento (cântaros, talhas) e de construção (telhas digitadas); e ainda por artefactos metálicos: tais como dois amuletos (objectos profilácticos) que contêm inscrições religiosas (séculos XI-XII e XII-XIII), e um conjunto de moedas que integra um dinar (moeda em ouro).
Desde a época romana (século II/I a.C.) até à fundação do concelho, em 1914 (século XX) São Brás de Alportel pertenceu ao termo da cidade de Faro (Ossonoba), motivo pelo qual a sua história mantém, ao longo de todos estes séculos, uma estreita relação com a dessa cidade.
Contudo, pouco se sabe da história do actual concelho de São Brás de Alportel no período que medeia entre 1249/50 (2ª metade do século XIII - última conquista do Algarve) e 1517 (inícios do século XVI - Visitação da Ordem de Santiago).
No século XV, São Brás de Alportel seria um lugar com uma simples ermida. Este pequeno templo situava-se junto à antiga via de origem romana – a actual “Calçadinha” – que fazia a ligação, no termo de Faro, entre esta localidade e as terras do Norte. As poucas notícias conhecidas são, em regra, muito tardias.
Em meados do século XVI, à semelhança do que aconteceu em diversas localidades algarvias, São Brás de Alportel foi elevada a sede de freguesia e, consequentemente, reconstruído um novo templo e mais amplo.
Entre os séculos XVII e XVIII, na sequência da transferência da sede de bispado de Silves para Faro (1581), o então Bispo do Algarve mandou construir aqui o Palácio Episcopal. Durante o século XIX, a freguesia tornou-se um importante centro económico. As plantações de sobreiros incentivaram o desenvolvimento comercial e fizeram de São Brás de Alportel o maior centro produtor de cortiça de Portugal. No início do século XX (1912), São Brás de Alportel era a maior freguesia do concelho de Faro, contando cerca de 12.500 habitantes. A expansão económica e populacional da freguesia constituiu um factor decisivo para a sua elevação a concelho.
O movimento em defesa da autonomia de São Brás de Alportel surgira no início do século XX, motivado pelo crescimento económico da aldeia. É a Comissão Paroquial Republicana quem assume a organização do movimento, que ganha força a partir de 1910, pois são mais favoráveis as condições políticas e encontram-se no governo os velhos correligionários da propaganda republicana, conhecidos de João Rosa Beatriz.
São muitas as barreiras que se levantam às pretensões dos republicanos são-brasenses. João Rosa Beatriz deslocou-se a Lisboa por diversas vezes, solicitando o apoio de várias personalidades que se revelaram decisivas para a concretização daquele desejo. Em Dezembro de 1912, o seu chefe revolucionário Machado Santos apresenta, na Câmara de Deputados, o projecto de lei que outorga a autonomia administrativa da então freguesia mais populosa do concelho de Faro. Pelo esforço e diligência de João Rosa Beatriz, o projecto de lei foi aprovado e publicado em Diário do Governo, a 1 de Junho de 1914, elevando a Concelho a freguesia de São Brás, com a denominação de Alportel e com sede na aldeia de São Brás. Tornava-se realidade o sonho de quantos esperavam há muito o alvorecer do dia em que a aldeia de São Brás de Alportel seria elevada a concelho. No percurso dos acontecimentos, foi criada então uma Comissão Administrativa provisória, presidida por Virgílio de Passos. Para instalar o novo Município, e após acesas lutas, foi autorizada, no dia 5 de Setembro, a cedência à Câmara de Alportel do Paço Episcopal e respectiva cerca e Residência paroquial, para ali funcionarem as escolas oficiais do ensino primário e as repartições públicas, municipais e do Estado. No dia 14 de Outubro daquele ano, João Rosa Beatriz foi nomeado, pelo Governador Civil de Faro, para o cargo de administrador interino do concelho (cargo equivalente ao que hoje conhecemos como Presidente da Câmara), estabelecendo como prioridades a educação pública, a segurança e a manutenção da ordem pública, bem como as acessibilidades à vila de São Brás de Alportel. A 8 de Novembro, foi eleita a primeira Comissão Municipal de São Brás de Alportel, sendo José Pereira da Machada, o presidente do Senado, pouco tempo depois, uma súbita mudança política alterou o rumo dos acontecimentos. O governo democrático nomeara um novo Governador Civil para o distrito de Faro, o qual, por sua vez, exonerou João Rosa Beatriz do seu cargo, substituindo-o pelo Dr. José Baptista Dias Gomes.
Destituído do seu cargo, João Rosa Beatriz não deixa de professar os seus ideais e o seu amor à terra onde nasceu, lutando ainda por vários benefícios para o seu concelho: a instalação de uma biblioteca móvel na vila, a criação de um cartório municipal, a colocação de um carteiro rural no município e a instalação da linha-férrea de ligação entre Loulé e São Brás. Em Abril de 1916, durante um violento motim, o batalhão de voluntários que então chefiava teve ainda um papel fundamental no restabelecimento da ordem pública em São Brás, porém, o mundo assistia à destruição provocada pela Primeira Guerra Mundial. De São Brás de Alportel partiram muitos jovens recrutados pelo Exército, enquanto outros procuravam novos rumos para os seus negócios e para as suas vidas e os ventos da História obrigaram a que muitos dos sonhos que guiaram os intrépidos fundadores do concelho de São Brás de Alportel tivessem aguardar décadas para se concretizarem.

Bandeira de São Brás de Alportel

Cultura e Turismo

          O centro histórico é o ponto privilegiado para partir à descoberta de São Brás de Alportel. O adro da Igreja Matriz oferece-lhe uma bela panorâmica, desde o barrocal até ao mar, e no seu entorno, pode encontrar algumas das mais valiosas jóias do património concelhio. Em pleno coração da vila, pode apreciar os mais vistosos e importantes edifícios. Observe o contraste entre os edifícios altos e imponentes e as modestas habitações térreas, percorra as ruas estreitas, demore-se nos largos, aprecie os magníficos trabalhos em cantaria, as chaminés e as açoteias que caracterizam a arquitectura local. O edifício dos Paços do Concelho, a bonita casa cor-de-tijolo, que acolheu a Casa das Órfãs e foi berço do ilustre são-brasense Roberto Nobre, o antigo Palácio Episcopal e a Biblioteca Municipal Dr. Estanco Louro são locais a merecer a sua visita. Milénios de História imprimiram as marcas das diferentes civilizações que palmilharam noutras eras este território. Com uma ocupação humana que remonta ao Paleolítico, o município de São Brás de Alportel guarda um valioso património histórico e arqueológico, com um importante legado romano e islâmico, atestado pelos achados arqueológicos e pela toponímia dos lugares. Polvilhando a paisagem, numerosos elementos do património rural convidam a um passeio pelo campo, à descoberta da história que escondem os lugares. São moinhos, fontes, poços, noras, azenhas, …um valioso legado do passado, que é testemunho vivo de uma forte herança árabe no concelho. Outrora, pontos de encontro e centros de vida da comunidade, estão actualmente a ser alvo de valorização e são excelentes espaços para o convívio, o lazer e a contemplação da natureza! 
Elaborada em serões de Inverno, junto à lareira ou em tardes de Verão, na soleira da porta, a arte dos afazeres tradicionais foi ensinada de geração em geração e perdurou ao longo dos tempos.
Hoje são já poucos os que guardam estes saberes antigos, mas ainda podemos apreciar alguns destes verdadeiros tesouros da cultura popular: os trabalhos em esparto (no Sítio do Desbarato), a produção artesanal dos ladrilhos, das telhas e dos típicos tijolos de burro (no Vale das Mealhas e Bengado), as cadeiras de “atabua” no Alportel, as vassouras de palma, os capachos e as alcofas, os trabalhos de empreita em S. Romão, os brinquedos em madeira e as rendas e trapologia na Vila.

Palácio Episcopal

      O primitivo edifício remonta aos finais do séc. XVI, data da transferência do assento episcopal de Silves para Faro. Durante o séc. XVII foi construída esta residência de veraneio destinada aos mais altos dignitários da Diocese. Da primitiva construção barroca restam um jardim e uma fonte com oito bicos, “coberta com um formoso alto zimbório, com três janelas rasgadas e nos lados da fonte duas portas para a caixa d’ água”. Durante os sécs. XIX e XX o edifício sofreu várias intervenções, que alteraram completamente a construção inicial. Relativamente às modificações realizadas nos primeiros anos do séc. XX, elas resultaram da necessidade de se criarem novos equipamentos públicos: um barracão para o peixe e um mercado para as hortaliças. Com a implantação da República, em 1910, o palácio foi secularizado passando a servir de escola primária. De momento, funciona aqui um Jardim-de-infância, estando prevista a instalação de equipamentos culturais. Do espólio do antigo palácio episcopal, encontram-se actualmente na capela-mor da Igreja Matriz de S. Brás de Alportel, três telas pintadas representando os grandes doutores da Igreja: Santo Agostinho e Santo Ambrósio e o eremita D. Jerónimo. Pertencia a este conjunto a tela do Papa Santo Gregório Magno, entretanto desaparecida. Aquando da secularização do referido palácio, algumas alfaias foram levadas para Faro. No mesmo espaço estão enquadradas as piscinas municipais. Contíguo ao edifício está situado o Paço da Paixão que ostenta um frontão setecentista, cujos trabalhos em massa (concheados e enrolamentos vegetalistas, etc.) se integram numa tradição fortemente implantada na região algarvia. 



Gastronomia

         No coração do sotavento algarvio, entre o barrocal e a serra, as terras de Alportel conservam uma rica e saborosa gastronomia. Predominam os sabores da alimentação mediterrânica, saborosa e sã: os gaspachos, a açorda de grão com galinha, o cabrito com ervilhas, o coelho bravo temperado com vinho, as sopas. Não faltam os doces regionais confeccionados à base de mel, alfarroba, figo e amêndoa, os deliciosos figos cheios e as típicas amêndoas tenras de São Brás. Finalmente, o mel, a aguardente de medronho e o licor de alfarroba são sempre uma excelente companhia.
   
                                                                                                        Açorda de grão com galinha
Açorda de GrãoCoelho Bravo
Coelho bravo


Amêndoas Tenras de São Brás
Amêndoas tenras de São Brás