Translate

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Viagem e visita ao concelho de Santiago do Cacém

Brasão de Santiago do Cacém

Localização :

       Santiago do Cacém é uma cidade portuguesa no Distrito de Setúbal, região do Alentejo e sub-região do Alentejo Litoral, é sede de um dos maiores municípios de Portugal, com 1 059,77 km² de área e  subdividido em 11 freguesias. O município é limitado a norte pelo termo de Grândola, a nordeste por Ferreira do Alentejo, a leste por Aljustrel, a sul por Ourique e Odemira e a oeste por Sines e tem litoral no oceano Atlântico. É o único município de todo o Alentejo que contém 2 cidades dentro do seu termo. Mais interessante se torna o facto de possuir também 3 vilas. 


História

         Dotada de uma localização geográfica estratégica, as populações humanas procuraram, desde épocas remotas, esta região para se estabelecer. As escavações efectuadas no Castelo Velho, onde se situam as ruínas romanas de Miróbriga, demonstram que a região foi habitada desde a Pré-história. Originariamente povoado pré-celta, aglomerado urbano celta, foi romanizado até ao período pós-imperial, mais concretamente desde o séc. I a.C. até ao séc. V d.C. Apesar de durante a época céltica já existirem relações com outros povos peninsulares, concretamente a sul, foi com os Romanos que o quotidiano do povoado foi revitalizado, tornando-se inclusive a principal cidade romana da costa ocidental a sul do Tejo. Salatia Imperatoria ou Mirobriga Celtici (os estudiosos dividem-se na designação) possuía um fórum com o seu templo, imponentes termas ou balneários e (a 1 km de distância) o único hipódromo romano conhecido em Portugal. Terá sido por volta de 712 e já após o declínio de Miróbriga que os mouros atingiram o território, edificando o castelo na colina defronte; pensa-se inclusivamente que o nome Kassem estará ligado ao alcaide mouro. A ocupação moura prolongou-se até ao séc. XII e muitas batalhas pela reconquista se travaram no território até que, em 1217, voltou definitivamente à posse dos cristãos, tendo D. Afonso II confirmado a doação de seu pai à Ordem dos Espatários.
O burgo medieval de Sant'Iago de Kassem era já de grande importância no séc. XIII, com responsáveis políticos e administrativos de primeira categoria (pretores, alvazis, juízes, alcaides, almoxarifes). Já considerada oficialmente vila em 1186, recebeu a sua primeira carta de foral, por ordem do rei D. Dinis. Entre 1315 e 1336, por doação de D. Dinis, a vila e o castelo passaram a pertencer à princesa D.ª Vetácia, aia e amiga da rainha Santa Isabel, tendo regressado à Ordem de Santiago após a morte da sua proprietária. O primeiro comendador da vila pela Ordem foi Carlos Pessanha. Em 1383-85, Sant' Iago de Kassem toma voz através do Mestre de Aviz, pelos interesses nacionais, contra a submissão ao estrangeiro.
Santiago do Cacém tornou-se sede de concelho em 1512, data em que lhe foi concedida por D. Manuel I a carta de foral. Em 1594, a vila e o castelo foram doados por D. Filipe II aos Duques de Aveiro. Em 1759, passou a pertencer à Coroa e, em 1832, definitivamente ao Estado. Do concelho fizeram parte as freguesias de Santa Catarina do Vale, Melides, Vila Nova de Milfontes e a actual cidade de Sines, autónoma a partir de 1834. Actualmente tem 11 freguesias, incluindo a histórica vila de Alvalade, detentora de foral manuelino.
Depois da notável expansão urbana que apresentou no séc. XVIII, o concelho afirmou-se destacadamente na região durante as invasões francesas, discordando das juntas de Beja e Faro e procurando concentrar na zona de Melides/Comporta/Alcácer, considerada o ponto estratégico de defesa do Alentejo, o maior número possível de homens armados. No séc. XIX, no tempo dos morgadios, Santiago do Cacém era uma pequena corte, onde os senhores da terra praticavam o luxo e a ostentação. As opulentas casas dos condes do Bracial, de La Cerda, de Beja, do capitão-mor, dos condes de Avillez, Fonseca Achaiolli e outras dominavam a vila e outras terras alentejanas. Neste período de desenvolvimento económico, a par de técnicas inovadoras de exploração agro-pecuária (cereais, frutas e cortiça, fundamentalmente, e gado cavalar, muar, asinino, bovino, ovino, caprino, suíno), desenvolveu-se também a indústria e o comércio (cortiça, serralharia, moagem, etc.). Após 40 anos de estagnação, o concelho conheceu na década de 70 uma nova fase de expansão urbana, a maior de sempre, mas agora planeada e ordenada. Vista do alto do castelo, do Passeio das Romeirinhas, que circunda a fortaleza, a paisagem que rodeia Santiago é deslumbrante. No interior, a igreja matriz, construída após o terramoto de 1755, integra elementos do templo anterior, gótico, mandado construir pela Ordem de Sant’Iago da Espada.

Bandeira de Santiago do Cacém

Heráldica

      Escudo de azul, com um cavaleiro revestido de cota de malha e elmo, empunhando na dextra uma espada e na sinistra um escudo, tudo de prata, com a cara e mãos de carnação.
O escudo do cavaleiro está carregado com uma cruz da Ordem de Santiago, de vermelho; cavalo de prata com arreios de vermelho; em ponta, corpo de mouro posto em faixa, vestido e foteado de prata, com cara e mãos de carnação. Coroa mural de prata de cinco torres. Listel branco, com a legenda a negro: “SANTIAGO DO CACÉM”.


Cultura e Turismo

         O concelho de Santiago do Cacém caracteriza-se por uma zona aplanada e baixa, na parte noroeste do concelho, dando mesmo lugar à formação de lagoas, devido à existência de um cordão de dunas e areias de praia.
A estrutura fundiária é constituída principalmente por pequenas explorações com menos de 10 hectares. Predominam as terras limpas, muito férteis nas várzeas da Lagoa de Santo André. A agricultura caracteriza-se pelo cultivo de cereais, vinha e olival, produtos hortícolas e horto-frutícolas. Os efectivos pecuários são essencialmente bovinos e suínos. Ao nível florestal predominam as manchas de pinhal e montado de sobro. Chegados ao litoral surgem-nos como estruturas naturais da zona costeira a lagoa de Santo André, o importante sistema lagunar a ela associado e a Maria da Moita. A planície é separada do oceano Atlântico por um cordão dunar de largura variável a sul, nomeadamente na praia da Fonte do Cortiço verifica-se a existência de arribas de altura variável. A frente de mar no concelho de Santiago do Cacém tem aproximadamente nove km, correspondendo a igual extensão de praias de areia dourada, a saber: praia fluvial da lagoa de Santo André, Monte Velho, Areias Brancas e Fonte do Cortiço. Na lagoa de Santo André pratica-se a pesca artesanal em pequenos barcos tradicionais denominados "bateiras", pela pequena comunidade piscatória aí residente. As praias para além do uso balnear, são procuradas nas zonas menos utilizadas para este fim, pelos amantes da pesca desportiva. Revestem-se de grande importância a flora e fauna característica desta faixa costeira. O concelho é atravessado no sentido norte/sul pelas serras de Grândola, S. Francisco e Cercal. Autêntica barreira natural que separa a planície litoral da planície do Vale do Sado, não permitindo que o ar marítimo penetre para o interior, nem que as massas de ar quente do interior alentejano cheguem ao litoral. O cordão montanhoso faz assim a separação das bacias hidrográficas da Lagoa de Santo André a ocidente e do Sado a oriente. É na serra que se concentra grande parte dos montados de sobro que produzem uma das grandes riquezas do nosso concelho, a cortiça. Também é característico das nossas serras o medronheiro de cujo fruto se extrai a genuína aguardente de medronho.
Na estrutura fundiária, assumem maior peso as explorações com menos de 50 ha. O efectivo pecuário é essencialmente composto por gado bovino, ovino, suíno e caprino. Na serra do Cercal localizam-se as minas da Serra da Mina, Rosalgar e Serra das Talhas, recentemente encerradas. Após as explorações aí feitas pelos romanos, datam de 1874 os primeiros registos obtidos em arquivo, de onde podemos destacar a descoberta de minérios como: barita (sulfato de bário), manganês e manganite. A povoação do Cercal constitui na serra um núcleo isolado, mas com grande disseminação de habitações pelos arredores, o que lhe confere um carácter muito particular e interessante. O enquadramento deste aglomerado com a serra é particularmente feliz. Na serra pincelada de verde, volteamos montes e cabeços entre mantas coloridas de flores silvestres, de onde podemos desfrutar de excelentes panorâmicas. 

Lagoa de Santo André

A Lagoa de Santo André é historicamente referenciada desde tempos remotos, primeiro como porto natural com barra aberta e posteriormente como lagoa, após a formação do cordão dunar que a separa do Oceano Atlântico.
Alimentada por seis ribeiras, a lagoa é constituída por uma bacia central com uma superfície de cerca de 150 ha, podendo atingir os 350 ha no inverno. Em meados do século XVIII os terrenos desocupados de água com a abertura da lagoa ao mar, eram semeados de trigo, feijão e linho. Hoje a ligação temporária com o mar permite a limpeza dos sedimentos, renovação da massa de água e a entrada de espécies piscícolas oriundas do meio marítimo. Assumindo a qualidade da água enorme importância, não só para as espécies que aí se desenvolvem como para usufruto balnear, a Câmara Municipal de Santiago do Cacém através do seu Laboratório, faz um controlo da qualidade das águas analisando-as periodicamente. Por volta de 1855 pescadores de Ílhavo e respectivas famílias chegaram à Costa de Santo André, construíram cabanas e armazéns de colmo e caniço e devido à abundância de sardinha no mar (no verão) e outro peixe na Lagoa (no inverno) terão estabelecido duas companhas com lavradores da região, praticando a arte xávega. Ainda hoje as enguias da Lagoa de Santo André são consideradas das melhores do país com as quais são confeccionadas algumas das especialidades locais, o ensopado e a caldeirada de enguias, orgulho da gastronomia local. A Lagoa de Santo André constitui um ponto estratégico para a estadia, passagem e nidificação de muitas espécies de aves migratórias. Foi declarada pela Comunidade Europeia, Zona de Protecção Especial para a avifauna e sítio RAMSAR sobre zonas húmidas de importância internacional. Integra também a Rede Natura 2000. Devido à sua excepcional importância ornitológica, faunística e florística foi declarada pelo estado Português a Reserva Natural das Lagoas de Santo André e da Sancha pelo Decreto Regulamentar 10/2000 de 22 de Agosto. Para tornar a Lagoa de Santo André um local privilegiado para quem procura a natureza, a Câmara Municipal de Santiago do Cacém promoveu a desocupação da duna primária da Costa de Santo André, do caos urbanístico que se agravou na década de 70 durante a vigência do Gabinete da Área de Sines, criando um novo loteamento destinado a realojamento das famílias até então residentes na duna. A superfície calma das suas águas, o voo rasante das aves e o verde dos pinheiros mansos fazem da Lagoa de Santo André um local paradisíaco, apresentando condições muito especiais para quem procura um contacto mais directo com a natureza. A lagoa de Santo André representa cada vez mais um pólo de atracção turística.





Gastronomia

           Santiago do Cacém, concelho que das serras se estende pela planície até ao mar, apresenta uma diversidade gastronómica onde ricos sabores sobrevivem na história e na tradição. A gastronomia apresenta-se como uma verdadeira simbiose de heranças diversas. São paladares ancestrais de origens remotas, sabores de um Alentejo interior que contrastam com aromas de um litoral único, onde a lagoa casa com o mar. A abertura anual da Lagoa de Santo André ao mar proporciona águas mais limpas. Os pescadores orgulham-se da qualidade das enguias, com as quais são confecionados os tradicionais ensopados e caldeiradas que se comem nos restaurantes da Costa de Santo André. As enguias fritas são um petisco muito apreciado, que pode ser acompanhado com pão e vinho da região. Com fatias de pão de trigo, preparam-se diversos tipos de açorda que, em árabe, quer dizer "sopa de pão". Das sopas e açordas mais comuns que podem ser apreciadas em diversos restaurantes espalhados por todo o concelho, destacam-se: açorda de coentros, açorda de poejos, açorda de bacalhau, sopa de tomate, sopa de beldroegas e sopa de lebre. O gaspacho alentejano constitui um prato deveras refrescante, confecionado com água, gelo, alho pisado, sal, azeite, vinagre, orégãos, tomate, pepino, pimento e pão em pequenos bocados. Serve-se acompanhado de peixe frito ou com pequenas tiras de presunto. As migas diferem da açorda, na medida em que o pão, em vez de fatiado, é transformado numa massa fina frita em gordura de porco que resulta nas famosas "Migas à Alentejana", servidas com carne de porco e rodelas de laranja. A carne de porco e a carne de borrego são as carnes mais utilizadas na preparação dos nossos comeres. O porco, uma das bases da nossa alimentação, desdobra-se em múltiplas criações culinárias, quase sempre confecionado com tempero de massa de pimentão e conservado na sua própria manteiga. De entre os comeres mais apreciados, a carne de porco frita, o lombo de porco assado, a carne de porco à alentejana, os miolos com carne de porco, as costeletas, o cozido à portuguesa e o cozido de grão, fazem parte dos menus de quase todos os restaurantes que existem no concelho de Santiago do Cacém.
Os enchidos como a linguiça, o chouriço e a farinheira são vendidos e em muitos casos confecionados nos próprios talhos, bem como os torresmos, com os quais se confeciona o tradicional bolo de torresmos, e a banha de porco, usada como tempero na confeção de muitos pratos. O ensopado de borrego, o borrego assado no forno e as cabeças de carneiro assadas constituem verdadeiras iguarias. As carnes de caça como a lebre, o coelho, a perdiz e o javali, multiplicam-se numa grande variedade de pratos e petiscos. Coentros, poejos, orégãos, hortelã, alho, pimentão, salsa e louro são as ervas os temperos mais utilizados na confeção dos nossos comeres. Dos vinhos existentes no concelho de Santiago do Cacém, os únicos engarrafados são os brancos e tintos da Adega do Cebolal, em Vale de Água. Outros vinhos como os da Adega de Conqueiros, em Alvalade, e os de pequenas adegas em Santa Cruz e Santo André, podem ser adquiridos a partir de dezembro. Confecionados essencialmente por mãos femininas, os licores de poejos e murtinhos são uma verdadeira delícia. Dependendo do paladar de cada pessoa, os queijos de ovelha da Mimosa, em Alvalade, podem ser comprados simples, barrados com sal ou com colorau. No concelho de Santiago do Cacém, a apicultura pratica-se em todas as freguesias, sendo o mel de rosmaninho o mais conhecido.
Da doçaria existente, destacam-se as Alcomonias, doce tradicional de origem árabe, em forma de losango, confecionadas com uma massa conseguida a partir de farinha torrada, pinhão e mel. De preparação semelhante, os rebuçados de pinhão e mel apresentam-se embrulhados em coloridos papéis. O bolo de Santiago, confecionado com amêndoa, gila, canela e açúcar, faz parte das deliciosas sobremesas que constam nas ementas de alguns restaurantes. De referir ainda as argolinhas de massa frita, as filhós e popias caiadas de Alvalade, o bolo da massa do pão e, ligadas às festividades dos Santos Populares, as alcôncoras e as cachamorras. 
                                                                                                   Enguias fritas
Migas à Alentejana 


Alcomonias