Translate

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Viagem e visita ao concelho de Serpa

Brasão de Serpa

Localização

        Serpa é uma cidade portuguesa pertencente ao Distrito de Beja, região do Alentejo e sub-região do Baixo Alentejo, é sede de um dos maiores municípios de Portugal, com 1 103,74 km² de área e  subdividido em 7 freguesias. O município é limitado a norte pelo município da Vidigueira, a nordeste por Moura, a leste pela Espanha, a sul por Mértola e a oeste por Beja.



História

       Serpa já era povoada antes do domínio dos Romanos, contudo foram estes que fomentaram o desenvolvimento do concelho, em especial a nível agrícola. Em 1166 foi conquistada aos Mouros por D. Afonso Henriques, tendo sido perdida por várias vezes nas constantes lutas da Reconquista. Sem mergulhar demasiado nas origens da antiga organização administrativa do concelho, refira-se que a documentação escrita só nos finais do século XIII consagra a área do termo. Assim, em 1281, quando Serpa e todas as terras da Margem Esquerda do Guadiana estavam ainda sob domínio de Castela, Afonso X estabeleceu a demarcação do concelho, para melhor se povoar, e atribuiu-lhe o primeiro foral, o de Sevilha.
Ao fim de um século de peripécias militares e diplomáticas, com a Reconquista cristã do Alentejo, Serpa recebe de D. Dinis, em 1295, nova carta de foral. Do ponto de vista económico, as disposições do documento indicam que a pastorícia e a agricultura eram as actividades fundamentais. Quanto ao comércio, era o pão e o vinho, os panos de lã e linho, o pescado... e o mouro vendido em mercado.
O foral dionisino revela ainda uma sociedade em reorganização, onde é grande a tensão social e política. Vejam-se as penas que oneravam as violações, o roubo de objetos e de terras e até as dificuldades na travessia de barco do Guadiana, de uma para a outra margem. Mas nem só a travessia do Guadiana era vigiada. Os caminhos também não eram seguros e o foral pretende garantir a protecção da actividade mercantil, em particular a movimentação de mercadores, judeus, cristãos ou mouros.
Outra ideia que se retira do foral de D. Dinis é a da estrutura social vigente, profundamente desigual. Mesmo aqueles que tinham direitos políticos, os vizinhos do concelho, estavam divididos pelos bens em cavaleiros e peões. Pouco a pouco, mesmo entre os vizinhos, começa a definir-se o grupo mais poderoso dos homens bons e, mais tarde, ainda nestes, os homens honrados de boa fazenda. Na base social, sem direitos políticos, ficavam os mesquinhos, os mancebos, os solarengos e escravos. Os diferentes níveis sociais não eram, evidentemente, estanques e regista-se mesmo uma intensa mobilidade social. 
Do ponto de vista da organização administrativa e judicial, o concelho era dirigido por dois juizes, eleitos na assembleia dos vizinhos, sendo depois a eleição ratificada pelo rei. Mas uma disposição do foral proíbe que o gentile, ou seja, o estrangeiro ou pagão, possa exercer o cargo.
Em 1513, Serpa recebe foral de D. Manuel que, antes de ser rei, tinha sido senhor de Serpa. Este foral pouco fala da organização e da atividade política e social do concelho. Insiste principalmente na carga fiscal. De qualquer modo, a leitura do foral manuelino sugere que Serpa era, no início do século XVI, um povoado florescente onde persistia a pastorícia como actividade de grande relevância mas em que o artesanato e a atividade comercial atingem um alto desenvolvimento. Vale a pena determo-nos sobre a atividade artesanal dos habitantes do concelho. Fabricavam-se pelicos, mantas, material de empreita, materiais de ferro, ferramentas. O monarca isentava de tributo as matérias primas usadas na atividade artesanal. A lista de produtos transacionados é impressionante e se já não há mouros da Reconquista a vender no mercado não faltam os novos escravos, marroquinos e do Sára e principalmente da África negra. Serpa era, no século de D. Manuel, um dos mais importantes portos secos do reino. Escrevia um autor espanhol da época que de Castela para Portugal existiam então duas estradas principais: uma vinha de Salamanca para Cáceres e daí para Évora e Lisboa; a outra, partia de Sevilha e por Serpa e Beja seguia também para Lisboa.
A propósito do foral manuelino refira-se que em meados do século XVI o Alentejo concentrava o maior número de centros urbanos do país, com uma intensa atividade artesanal e mercantil, e era, a nível nacional, a província que mais contribuía, com 27%, para as receitas do Estado.
Nesse quadro, Serpa apresentava-se, na centúria de Quinhentos, como uma das mais importantes vilas do Alentejo e do próprio reino, cujo desenvolvimento assentava na agricultura dos cereais e do gado mas também no artesanato poderoso, voltado para o comércio, e numa aliança muito estreita com o rei.
No século seguinte, Serpa quase duplica a sua população, o que está de acordo com a evolução geral do país. De facto, nos séculos XVI e XVII, as terras de fronteira, o interior, estão muito longe da desertificação pois a fronteira não trava ainda as ligações entre Portugal e Espanha.
Em 1674, o príncipe regente, futuro rei D. Pedro II, confere à vila o título e os privilégios de "Vila Notável", justificados pelo número de moradores – mais de mil e quinhentos -, pela nobreza das gentes, saindo dela muitos homens insignes, tanto nas letras como nas armas, e pela posição militar estratégica que ocupava, junto à linha de fronteira, em ocasiões de guerra. Esta última situação, aliás, fez com que o concelho fosse particularmente afectado pela insegurança e as destruições provocadas progressivamente pelas guerras da Restauração de 1640/48, a guerra da Sucessão de Espanha, entre 1703 e 1713, e as invasões napoleónicas, em 1801 e 1814.
Em meados do século XVIII, o concelho perde preponderância militar e, ao contrário do resto do país, a sua população não aumenta, talvez pelas inúmeras situações de crise registadas devido a maus anos agrícolas. No final da centúria de Setecentos o concelho está mais próximo do século XVII do que do século XIX. O antigo regime económico mantém-se e com ele as desigualdades sociais. As terras férteis do concelho estão nas mãos dos grandes proprietários, que controlam a vida municipal, e constitui-se uma massa crescente de camponeses sujeitos a crises cíclicas de trabalho e a uma situação de subsistência miserável. No dealbar do Século das Luzes, o país, em geral, e Serpa e a sua região, em particular, estão muito longe da "Luz" que tanto referem os homens desse tempo. Ironicamente, um deles, o Abade Correia da Serra, nasceu em Serpa, em 1751. Nos séculos seguintes ter-se-á verificado uma concentração cada vez maior das propriedades nas mãos dos grandes senhores, que, salvo raras excepções, aplicam os seus lucros fora da região. Durante a segunda metade do século XIX, a multiplicação dos desbravamentos, não só das terras boas mas também das terras improdutivas, a que chamavam galegas, e depois, nos anos 30 e 40 do século XX, a célebre Campanha do Trigo, que estendeu a sua cultura mesmo às vastas regiões de xisto, tiveram consequências desastrosas. Desequilibraram o frágil sistema produtivo baseado na complementaridade da pecuária com as actividades recolectoras e com o cultivo intenso das hortas e não resolveram o problema de uma economia que servia os interesses de quem vivia fora do Alentejo. Talvez resida aqui a verdadeira dimensão do isolamento que afecta a região.

Bandeira de Serpa

Heráldica

Armas - Escudo de azul, com um castelo lavrado de prata, aberto e iluminado de negro sobre uma serpe alada de prata, realçada de negro. Coroa mural de prata de quatro torres. Listel branco com os dizeres " notável vila de serpa " a negro.


Bandeira - Esquartelada de branco e de preto. Cordões e borlas de prata e de negro. Haste e lança douradas. Selo: circular, tendo ao centro as peças das armas, sem indicação de esmaltes. Em volta, dentro de círculos concêntricos, os dizeres "CÂMARA MUNICIPAL DE SERPA".


Cultura e Turismo

        Serpa, terra fronteiriça de conflitos frequentes, era, às vésperas da "Reconquista", um povoado fortificado importante, dominando férteis terras de cultivo. A velha muralha, implantada no cume de uma pequena elevação, delimitava uma área com cerca de 21000 m2. Nos finais do século XIII, D. Dinis, num esforço de reorganização cristã do Alentejo, refunda a vila muçulmana e manda construir de raiz o alcácer e uma imponente Cerca urbana com 65000 m2.
É bem possível que a própria torre sineira da Igreja de Santa Maria, que envolve no seu interior uma estrutura cilíndrica, seja o testemunho vivo da almádena da antiga mesquita.
Sinais do passado islâmico conservam-se ainda nalguns troços de muralha em taipa e em duas torres: a da Horta, parcialmente reaproveitada nas obras do castelo gótico, e a do Relógio, transformada em 1440 em torre relojoeira, ao que se supõe, a terceira mais antiga do país.
A primeira representação iconográfica de Serpa é composta pelos desenhos de Duarte de Armas feitos, por encomenda régia, no início do século XVI. Duarte de Armas fixou a imagem do espaço urbano tardo-medieval registando duas perspectivas de Serpa (da banda de leste e da banda do oeste) e uma planta da fortaleza. Retém-se, assim, a imagem de uma vila contida por dupla cintura de muralhas, a muralha principal e a barbacã, em que poucas são as casas com menos de um piso, o que significa que pertenciam a "fidalgos, cavaleiros e escudeiros e outra gente grossa". A cerca, que evidencia um traçado de tendência reticulada que permanece ainda legível no atual núcleo, surge interrompida por três portas que tomam o nome dos caminhos que delas partiam: Beja, Moura e Sevilha.
Nesse século XVI, a vila de Serpa apresentava-se como centro urbano de certa importância no contexto sub-regional. Na primeira década da centúria, o povoado, com cerca de 500 fogos (2 500 habitantes) já se havia expandido extra-muros, em direção à Igreja de São Salvador, abrindo-se para o efeito a Porta de São Martinho e edificando-se uma ermida sob a mesma evocação.
Dos edifícios criados nesse período, prova do efetivo crescimento do aglomerado, destaca-se, em 1502, a Igreja de São Francisco, feita sob risco do arquitecto Rodrigo Esteves, e o Convento de S. Francisco.
Também nos alvores de Quinhentos, em 1505, é erguido o complexo da Misericórdia, que incluía "igreja pequena, mas notavelmente adornada de talha e ouro, pedra fingida e fino azulejo".
Poderão ainda datar dos primeiros anos do século XVI as ermidas de São Pedro, São Sebastião, Nossa Senhora de Guadalupe e São Roque, edifícios característicos da interpretação regional da linguagem manuelina. Nos finais da centúria ergue-se, no lugar de uma capela dedicada a Santo André, a Igreja de Nossa Senhora da Saúde, que reflete a arquitetura do maneirismo pós-tridentino regionalmente implantada. A marcada austeridade exterior contrasta com a sumptuosidade do barroco que se descobre no seu interior, na azulejaria polícroma e no retábulo de talha dourada de 1681-1683.
Sobre o pano Este da muralha medieval, nos últimos anos do século XVI, Francisco de Melo, alcaide-mor de Serpa, manda construir o edifício que dá hoje pelo nome de Palácio Ficalho, construção onde é patente uma grande austeridade e a continuação de soluções maneiristas, depuradas, que caracterizam o designado estilo chão, mas onde se sente o espírito barroco na relação com o tecido urbano.
Para levar água em exclusivo ao palácio foi levantado sobre o mesmo pano da muralha um aqueduto sobre arcada de vão redondo que continua até à extremidade Sul, onde remata numa gigantesca nora apoiada no bocal de um poço. Depois dos conturbados anos que se seguiram à Restauração, anos de guerra e de consolidação da independência, a vila de Serpa é palco de novo surto construtivo marcado, naturalmente, por preocupações de defesa, mas não só. No século XVII tem lugar a reconstrução, concebida em solução maneirista, das igrejas de São Salvador e de Santa Maria, edifícios cuja construção remontava ao século XIV, pois há a certeza de já existirem em 1406, mas que conservam dessa época vestígios esparsos.
Construções de raiz deste ciclo tardo-maneirista, a Igreja e Convento de São Paulo foram iniciados nos finais de Seiscentos a expensas do benfeitor Manuel Fialho, um natural da vila que "mandou das Índias de Castela, onde era muito rico, um donativo tão grande para a obra do convento, que se erigiu formoso templo pelo risco da igreja dos Paulistas da Corte, ainda que menos grande e menos sumptuoso". As obras prolongar-se-iam pela centúria seguinte. Nesse final de século ergueu-se ainda o Calvário, edifício de planta circular e cobertura em cúpula, com pedras irregulares incrustadas nas paredes exteriores, de marcado pendor vernacular, e a Capela de Nossa Senhora dos Remédios, em estilo chã, que possuía "capela-mor cheia toda de agradável e custosa talha dourada".
Como resultado da participação de Portugal na Guerra da Sucessão de Espanha, a vila foi tomada em 1707 pelos espanhóis, que se retiraram no ano seguinte não sem antes provocarem grandes danos, sobretudo no castelo e na cerca urbana. Aliás, a explosão da torre de menagem produziu umas belas e surpreendentes ruínas. Ao contrário do resto do país, a população da vila não aumentou ao longo de Setecentos, talvez devido à excessiva sensibilidade da economia local às flutuações da produção de trigo, que criaram inúmeras situações de crise, sobretudo na segunda metade do século. Apesar de tudo, a urbe não perdeu importância social. Em 1758 eram registados 5576 habitantes,e via-se ser vila "notável e de avultado crédito" pelas "casas das pessoas de primeira grandeza".
O surto construtivo parece ter esmorecido nesta época e, ao contrário do que aconteceu em outras zonas do país, os danos provocados pelo terramoto de 1775 foram de pouca monta, não obrigando a obras de envergadura. No entanto, poderá datar desta centúria a remodelação da igreja da Misericórdia e da igreja de Santa Maria. Não se pode também esquecer que no final de Setecentos é construída intramuros a igreja de Nossa Senhora do Carmo, conhecida por Santuário, interessante testemunho da arquitectura neoclássica no Baixo Alentejo. Capelas, igrejas e conventos não faltam, pois, não só na cidade e seus arrabaldes como em toda a dimensão do termo do concelho. Espalhados pelo território encontram-se vários exemplares de arquitetura religiosa popular de feição regional datados do século XVI. Há que referir, assim, a Ermida de Santa Luzia, a cerca de 2 kms de Pias, na estrada para Moura, a Ermida de Santana, que conserva praticamente íntegra a sua estrutura original de inícios de Quinhentos, a Igreja Paroquial de Santa Iria, pequeno templo paroquial que apresenta pinturas murais maneiristas atribuídas a mestres eborenses, a Ermida de São Jorge e a Ermida de Nossa Senhora das Pazes, em Vila Verde de Ficalho, a Capela de Nossa Senhora da Consolação, em Brinches, templo mariano quinhentista remodelado no século XVIII, e a Igreja Matriz de Brinches, construção tardo-medieval onde se destaca um excelente portal maneirista, a Ermida de São Brás, na estrada Serpa-Pulo do Lobo, a Igreja de São Sebastião, em Vale de Vargo, edifício manuelino que sofreu obras no século XVII, e, apesar de muito arruinada, a Igreja de Santo Estevão. Mais tarde, no século XVIII, edifica-se em Vila Nova de S. Bento uma Igreja Matriz, templo barroco reconstruído nos inícios do século XX, e, sobre vestígios de uma igreja manuelina, junto ao cemitério da vila, a também barroca Igreja de São Bento. A Igreja Matriz de Vila Verde de Ficalho, cuja construção arranca nos finais da centúria de Setecentos, apresenta pontos de contacto estilístico com a igreja de Nossa Senhora do Carmo, em Serpa. Não ficaria bem rematar o rol monumental do concelho sem uma menção aos moinhos de corrente do Guadiana, Chança e Enxoé, jóias da arquitetura popular, bem como às ruínas das velhas torres de vigia ou atalaias e à Torre Sineira de Pias, erguida no século XIX, e que pertencia a uma igreja que nunca chegou a ser concluída.

Terra de invejáveis recursos, tão diversificados como a fertilidade agrícola das suas terras, a riqueza mineral do seu solo, o potencial cinegético das suas serras e montados, ou piscícola dos seus rios e ribeiros, o concelho de Serpa e áreas limítrofes tudo tinham para oferecer, atrair e fixar o homem. Interior mas não isolada, esta região é rasgada por uma das mais importantes vias fluviais do extremo ocidental da Península – o Guadiana – que, como via de comunicação, interligou regiões, gentes e costumes.
Ignora-se ao certo a altura em que, pela primeira vez, o homem percorreu e ocupou as terras do atual concelho de Serpa. Ainda que muito mal conhecidos e bastante fragmentários, os mais antigos testemunhos humanos atribuíveis a contextos cronológicos de relativa segurança remontam ao Neolítico (V/IV milénio a.C.). Envolvendo, por certo, diferentes e complementares estratégias de exploração do território, essas primeiras comunidades, organizadas em pequenos grupos, parecem ter privilegiado a proximidade dos recursos hídricos (Enxoé e barrancos subsidiários). Ao longo do IV milénio a.C., mas particularmente no seu final e na transição para o milénio seguinte, assiste-se à paulatina fixação das comunidades à terra.
Comunidades de pastores e agricultores, ainda semi-deambulantes, instalam-se em sítios que ocupam amplas áreas abertas, no topo de plataformas ou em suaves colinas e suas encostas, de baixa altitude, à volta das curvas de nível dos 80/140 m, sem quaisquer sérias condições naturais de defesa. Alguns dos povoados existentes continuarão ocupados durante parte do III milénio a.C. (Calcolítico), mas outros, com características topográficas distintas, ocupando zonas de difícil acesso ou naturalmente defendidas, são agora fundados de raiz. Por outro lado, no final do milénio, os achados arqueológicos expressam já uma maior interacção entre as comunidades. As necrópoles deste período são praticamente desconhecidas no concelho. Em contrapartida, para o II milénio a.C. (Bronze) não se conhecem os povoados coevos das diversas cistas disseminadas por quase todo o termo de Serpa, quer em áreas aplanadas e férteis, quer em zonas de relevo acidentado e de solos inaptos à agricultura.  Só à medida que se aproxima o final do II milénio a.C., e na viragem para o seguinte, se voltam a encontrar os vivos, perdendo, contudo, e até ao período romano, o rasto dos mortos. Os povoados pautam-se agora pela diversidade – em implantação, dimensão e funcionalidade -, acompanhando o evoluir da própria especialização, hierarquização e complexificação da sociedade. A par de discretos povoados sem defesas naturais ou ocupando pequenos cabeços inseridos em suaves ondulações, surgem outros de altura, natural e/ou artificialmente defendidos, segundo um modelo de ocupação concentrada. O aparente colapso dos povoados do Bronze Médio parece repetir-se por meados do I milénio a.C., visto que, após as ocupações decorridas durante os primeiros séculos deste milénio, só se voltam a identificar vestígios atribuíveis aos séculos IV e III a.C., isto é, à II Idade do Ferro. São enormes os povoados desta época mas ignora-se como se estruturavam económica e socialmente. Conceição Lopes e Pedro Carvalho defendem que Serpa e Fines (Vila Verde de Ficalho), pela importante posição que ocupavam no eixo da grande via pública Pax Iulia (Beja) – Onuba (Huelva), terão sido aglomerados urbanos secundários do vasto território da civitas de Pax Iulia .
Estes dois sítios, com vestígios arqueológicos que lhes conferem uma certa importância, poderão corresponder a mansiones, ou seja, estações de muda e pousadas para acolher viandantes no termo de uma jornada. Esta hipótese é sugerida pelo facto de distanciarem entre si cerca de XX milhas (29,3 km), extensão que, nessa época, se inscreve dentro dos limites geralmente preconizados para um dia de marcha.
No termo do concelho, as villae , propriedades de 200/400ha, localizavam-se, maioritariamente, em suaves encostas, próximo de barrancos, nas áreas de solos com boas aptidões agrícolas (solos do tipo A e B, sobretudo), próximo das vias principais ou com fácil acesso a estas.
Por seu turno, os casais, unidades autónomas de exploração familiar, em média de 50ha, surgiam na transição dos solos de boas aptidões agrícolas para os solos pobres (tipo E), em áreas onde o relevo se tornava mais ondulado, ocupando aí, quase sempre, o topo de cabeços. Relativamente às villae posicionavam-se na sua periferia, desenhando como que uma cintura entre os terrenos ocupados por estas e os solos pobres, vazios de povoamento nesse período.  Os pequenos sítios surgem na paisagem em posição bastante homogénea, ocupando, quase na totalidade, o topo de pequenos outeiros. Não seriam pequenas unidades economicamente autossuficientes mas sim modestas construções afetas às propriedades de villae e casais que tinham a função de servirem as necessidades pontuais das explorações. Por último, no que se refere às necrópoles, são muito poucas aquelas que se conhecem no espaço do concelho. Apenas os monumentos epigráficos permitem conhecer melhor os mortos na região de Serpa. E eles apontam no sentido de se haver instalado desde os primórdios da "ocupação" romana gente oriunda diretamente da Península Itálica e do Norte de África. Nesse sentido, o termo de Serpa dá exemplo ímpar duma aculturação precoce em que colonos e indígenas e, curiosamente, até o rural e o urbano, se entrelaçam na intimidade.

Serpa integra a entidade Turismo do Alentejo, E.R.T. e os Itinerários de Turismo Cultural "Terras da Moura Encantada" e "Rota do Manuelino", promovidos pelo Programa de Incremento do Turismo Cultural (Direção-Geral do Turismo) em parceria com a organização internacional "Museu sem Fronteiras". Estes itinerários convidam o público a viajar pelo país para conhecer, nos seus contextos originais, os mais importantes monumentos, conjuntos arquitetónicos, sítios arqueológicos e museus.
O concelho é detentor de um conjunto ímpar de valores naturais mas, até à data, apenas uma parte do seu termo está inserida numa área protegida – o Parque Natural do Vale do Guadiana, criado em 1995.
Com um clima mediterrânico, a tender para o semi-árido, a região tem verões secos e quentes com temperaturas médias de 25º, mas em que a temperatura máxima pode ultrapassar os 40ºC. Os invernos apresentam temperaturas médias de 8º, com temperaturas mínimas frequentemente negativas. A precipitação é fraca e em média não ultrapassa os 400mm, concentrada nos meses de Novembro a Janeiro. A insolação é elevada, com valores médios anuais entre 3000 a 3100 horas.
No que toca às principais acessibilidades, a sede do concelho e dois dos aglomerados de maior dimensão (Vila Nova de S. Bento e Vila Verde de Ficalho) são atravessados no sentido Oeste-Este pelo IP8 (coincidente com a EN260), que divide o concelho praticamente ao meio.
A ligação aos outros concelhos da Margem Esquerda, é feita, para Norte, na direção de Moura pela EN255, e, para Sul, na direção de Mértola pela EN265.






Gastronomia

           m Serpa e freguesias do concelho, a cozinha radica a sua qualidade no requinte e apuro da confeção. Tem como base fundamental o pão excelente que acompanha, em saborosa sintonia, a carne de borrego e a de porco, bem como espécies cinegéticas como o coelho, a lebre, a perdiz e o javali. A tudo se junta uma gama criteriosa de temperos: o azeite, a banha de porco e as ervas aromáticas como a salsa, a hortelã, o coentro, o poejo, a hortelã da ribeira, o orégão, entre outros. Desta aparente singeleza de meios, resultam os pratos tradicionais da região como as "migas", a "açorda", o "borrego à pastora", as "lavadas" (sopa fria de tomate pisado), o "gaspacho" (chamado aqui de "vinagrada"), as "masmarras" (papa quente de pão e alho), os "grãos com alho e louro", a "surra-burra" (na época da matança do porco), as "caldeiradas de peixe do rio". Há ainda a salientar dois produtos naturais de criação espontânea e raro paladar: os espargos, que podem ser colhidos nos olivais da planície, e os cogumelos, apanhados na zona bravia da Serra. 
Oferece-lhe Serpa como sobremesas, a fruta e os doces. Da fruta há que distinguir o melão, de sabor notável, dada a generosidade do solo e as condições do clima. E nos doces a tarte de requeijão. A compor a carta de iguarias não devem esquecer-se os bons vinhos locais, de que se distinguem os tintos, encorpados, de cor escura e gosto suave, premiados a nível nacional. Está assim constituído o quadro que pode levar o visitante a desfrutar o prazer de bem comer, ato de cultura que aqui se dignifica pela originalidade da confecção e qualidade dos produtos. Para tal, na sede do concelho e nas suas freguesias, os restaurantes existentes podem conduzir à descoberta de exemplos que enobrecem a verdadeira cozinha alentejana.
                                                                                                          Borrego à Pastora 
Borrego à PastoraLavadas
Lavadas 

                                                                                                        Queijadas de Requeijão 
Queijadas de RequeijãoTurtas
Turtas