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quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Viagem e visita ao concelho de Santa Cruz da Graciosa

Brasão de Santa Cruz da Graciosa

Localização

          Santa Cruz da Graciosa é um concelho açoriano sito na ilha Graciosa, no Grupo Central do arquipélago, tem 60,94 km² de área e é subdividido em 4 freguesias, o território do concelho ocupa a totalidade da ilha Graciosa e seus ilhéus, sendo assim rodeado pelo Oceano Atlântico. A sede do concelho é a vila de Santa Cruz da Graciosa, um povoado situado na costa nordeste da ilha. O concelho de Santa Cruz da Graciosa ocupa todo o território da ilha Graciosa e seus ilhéus (Ilhéu da Praia, ilhéu de Baixo e ilhéu das Gaivotas), perfazendo um total de 60,94 km² de área.



História :

            Após o estabelecimento do primeiro núcleo populacional no Carapacho, zona de costa baixa e abrigada no extremo sudoeste da ilha, face à pouca fertilidade dos solos na zona e à sua vulnerabilidade em relação ao mar, os primeiros povoadores buscaram o interior da ilha, explorando os seus solos férteis e aplainados.
Em poucos anos os principais núcleos populacionais estavam estabelecidos na costa nordeste da ilha, aproveitando as facilidades de desembarque que Praia da Graciosa e as calhetas da Barra e de Santa Cruz ofereciam e a relativa abundância de água nas lagunas ali existentes, além dos poços de maré que podiam ser escavados naqueles locais. Nasciam assim os povoados que viriam a ser as actuais vilas de vila de Santa Cruz da Graciosa e Praia.
Embora Vasco Gil Sodré tenha diligenciado no sentido de obter o cargo de capitão do donatário na ilha, e de ter mesmo construído uma alfândega, diligências em que foi sucedido por seu cunhado Duarte Barreto do Couto, apenas logrou, e mesmo isso não é seguro, governar a parte sul da ilha, estruturada em torno do que viria a ser a vila da Praia. A capitania da parte norte da ilha, sita em terras bem mais férteis e amplas, foi entregue a Pedro Correia da Cunha, natural da ilha do Porto Santo e co-cunhado de Cristóvão Colombo que, a partir de 1485, logrou obter ao cargo de capitão do donatário em toda a ilha, unificando a administração. Fixando-se com a família em Santa Cruz, tal levou a que este povoado suplantasse a Praia como sede do poder administrativo na ilha. Logo no ano seguinte, Santa Cruz foi elevada a vila e sede de concelho, abrangendo todo o território da ilha e, com ele, as duas paróquias então existentes: Santa Cruz e São Mateus da Praia. Esta fase em que o concelho de Santa Cruz abrangia toda a ilha terminou quando a cabeça da outra primitiva capitania, o lugar de São Mateus da Praia, foi também elevado a vila por foral concedido por Carta Régia do rei D. João III, datado de 1 de Abril de 1546. Ficou assim a ilha dividida em dois concelhos: a sul o eixo Praia e Luz (tornada freguesia autónoma em 1601); a norte o eixo Santa Cruz e Guadalupe (freguesia autónoma desde 1644). A estrutura administrativa bicéfala da ilha sobreviveu até ao século XIX, quando por força da reestruturação administrativa que se seguiu à aprovação do segundo código administrativo do liberalismo, o concelho da Praia foi extinto em 1855, sendo o seu território integrado no concelho de Santa Cruz da Graciosa, embora o decreto de extinção tenha apenas sido executado em 1867, com o fim do concelho, a Praia perdeu a categoria de vila, estatuto que só recuperaria em 2003, por força do Decreto Legislativo Regional n.º 29/2003/A, de 24 de Junho, aprovado pelo parlamento açoriano. Em 1791 Santa Cruz foi visitada pelo escritor francês François-René de Chateaubriand, que ali aportou aquando da sua passagem em direcção à América do Norte e esteve hospedado no convento franciscano de Santa Cruz, e que depois descreveu a ilha com mestria na sua obra.
Outro visitante célebre foi Almeida Garrett, que esteve em Santa Cruz em 1814, quando com apenas 15 anos visitou um seu tio que era juiz de fora em Santa Cruz. Reza a tradição que terá pregado um sermão na ilha, em óbvia contravenção da lei, e que ali terá escrito versos já reveladores do seu talento de poeta.
Também em 1879 a ilha foi visitada pelo príncipe Alberto I do Mónaco, que no decurso dos seus trabalhos de hidrografia e estudo da vida marinha, aportou à Graciosa no seu iate Hirondelle. Durante a sua permanência na ilha, desceu à Furna do Enxofre, no interior da Caldeira, tendo sido uma das primeiras vozes que se levantaram na defesa da criação de um acesso adequado que permitisse potenciar aquele local como atracção turística, ao longo da sua história a ilha foi por diversas vezes assolada por secas avassaladores, que provocaram grande sofrimento, incluindo, segundo alguns historiadores a morte de muitos habitantes. Já no século XIX, e por iniciativa de José Silvestre Ribeiro, então administrador geral do distrito de Angra do Heroísmo, procedeu-se ao envio por navio de água a partir da Terceira para combater a sede que ali grassava. De facto, no Verão de 1844 ocorreu uma seca que para além de afectar gravemente as produções agrícolas pôs em risco a sobrevivência de pessoas e animais. José Silvestre Ribeiro proveu a ilha prontamente com 90 pipas de água e mandou abrir poços e valas. Na noite de 20 de Agosto uma forte chuvada veio aliviar a crise. Devido à emigração para os Estados Unidos durante as décadas de 1950, 1960 e 1970, e à migração interna que ainda afecta a ilha, o concelho de Santa Cruz da Graciosa entrou num rápido processo de recessão demográfica que na actualidade condiciona em muito a sustentabilidade socio-económica da sociedade graciosense.

Bandeira de Santa Cruz da Graciosa

Heráldica

Armas - De negro, com um cacho de uvas de ouro folhado e sustido do mesmo. Orla de verde carregada de seis faixas ondadas de prata. Em chefe, sobre tudo na orla, um açor de sua cor, voante, tendo nas garras um escudete das quinas. Coroa mural de prata de quatro torres. Listel branco com os dizeres «Santa Cruz da Graciosa», de negro.  

Bandeira - Amarela. Cordões e borlas de ouro e verde. Haste e lança douradas.

Selo - Circular, tendo ao centro as peças das armas, sem indicações dos esmaltes. Em volta, dentro de circulos concêntricos, os dizeres «Câmara Municipal de Santa Cruz da Graciosa».


Cultura e Turismo

               A ilha tem uma forma grosseiramente oval, com 12,5 km de comprimento e 8,5 km de largura máxima. É a menos montanhosa das ilhas açorianas, atingindo 402 m de altitude máxima no bordo leste da Caldeira. Esta baixa elevação confere à ilha um clima temperado oceânico, caracterizado pela menor pluviosidade do arquipélago. O relevo do concelho é em geral aplainado, marcado por numerosos cones de escórias que lhe dão um carácter marcadamente vulcânico, com um relevo mais acentuado na parte meridional, podendo ser dividida quatro unidades geomorfológicas : 
O Maciço da Caldeira, no extremo sueste da ilha, constituído por um vulcão bem conservado, com uma caldeira central bem definida;
A Serra das Fontes, ao longo da costa nordeste, muito escarpada e muito alterada pela tectónica local;
O Complexo da Serra Dormida e da Serra Branca, ocupando o terço centro-meridional da ilha, também muito desmantelado e alterado pela tectónica local;
A Plataforma de Santa Cruz, ocupando a metade noroeste da ilha, caracterizado por um relevo adoçado, com altitude máxima em torno dos 50 m e pontuado por numerosos cones de escórias.

     O concelho de Santa Cruz, tal como acontece com a generalidade do território açoriano, tem uma estrutura de povoamento que, apesar da sua dispersão aparente, é fortemente condicionada pela rede viária. Este povoamento disperso orientado, típico da zonas de colonização recente, como são as ilhas, levou a que a estruturação urbana da Graciosa se tenha produzido ao longo de grandes eixos, correspondentes aos vales da ilha, e, por consequência, às estradas que ao seu longo afluem às duas vilas da ilha. Assim surgiram os seguintes eixos: ao longo da vale que separa o maciço da Caldeira do resto da ilha, entre a vila da Praia e o Carapacho, a Fonte do Mato, as Pedras Brancas e a Luz; em torno da Serra das Fontes, o eixo que saindo de Santa Cruz por Santo Amaro, inclui as Fontes e Guadalupe, dividindo-se aí num ramo que pelo Pontal via até às Pedras Brancas e noutro que inclui as Almas, Manuel Gaspar, Ribeirinha e Brasileira; um eixo que saindo de Santa Cruz pelo Rebentão, contorna o Pico da Hortelã, indo até à Vitória no noroeste da ilha; e finalmente, um eixo que pelas Dores vai até ao Bom Jesus e ao litoral da Vitória, numa paisagem muito aplanada e de povoamento muito disperso, bastante diferente do resto da ilha. Estes quatro grandes eixos incluem mais de 80% da população da ilha, deixando de fora apenas alguns povoados marginais, em geral satélites das vilas.
A Ponta da Restinga é uma elevação portuguesa localizada no concelho de Santa Cruz da Graciosa, ilha Graciosa, arquipélago dos Açores. Este acidente geológico tem o seu ponto mais elevado a 178 metros de altitude acima do nível do mar. Embora de pequena altitude esta elavação é relevante para uma ilha onde o ponto mais alto o Pico da Furna do Enxofre tem apenas 408 metros. Esta elevação encontra-se próxima da localidade do Carapacho, do Farol da Ponta da Restinga, da Baía da Poça e do Ilhéu de Baixo.
Devido à altitude a que se encontra oferece uma excelente panorâmica sobre a paisagem circundante e sobre a costa que se apresenta recortada e enfeitada por pelos vulgarmente denominados Ilhéus do Carapacho.
A Natureza e os elementos antrópicos que compõem a paisagem da ilha Graciosa parecem procurar uma convivência harmoniosa. Do alto do miradouro do Monte de Nossa Senhora da Ajuda, junto a uma ermida singela e digna, avista-se o casario branco da vila de Santa Cruz. Ao lado, vislumbram-se moinhos de vento e o reticulado dos muros que delimitam as parcelas de vinha. Antes de descer até à vila para apreciar os pormenores, repare naquela que é uma das mais curiosas associações entre o espírito inventivo do Homem e a natureza geológica dos Açores: uma praça de touros, milimetricamente circular e edificada no interior de uma cratera vulcânica. Santa Cruz destaca-se pelas casas típicas eruelas de pavimento empedrado, ramificadas a partir da ampla praça central, onde despontam o coreto, tanques de água salobra e araucárias. A Igreja Matriz da vila tem origens no final do século XVI mas uma reconstrução mais tardia deu-lhe marcas barrocas. O património arquitectónico da ilha está preservado em vários tipos de edificações, com destaque para igrejas, ermidas, casas rurais, moinhos de vento e uma curiosa “arquitectura da água” associada a uma centenária rede de reservatórios e sistemas de abastecimento de água potável. Guadalupe, Luz e Vitória são sítios para visitar com os sentidos despertos. Na vila da Praia, cortinas rendilhadas espreitam por detrás dos vidros, barcos de pesca pintalgam o porto e gente local saúda o visitante. Moinhos recuperados magnetizam o olhar, fruto das garridas cores de portas e janelas. Por dentro, estão preparados para servir de moradia temporária, num exemplo paradigmático de turismo que aproveita a herança patrimonial.
Paisagens Vulcânicas - A Caldeira da Graciosa é o elemento paisagístico mais emblemático da ilha e corresponde a uma depressão de colapso de forma elíptica, com diâmetros de 1,6 e 0,8 quilómetros e cerca de 270 m de profundidade. Esta depressão está implantada no topo do vulcão da Caldeira, o mais pequeno edifício vulcânico central existente nos Açores. A subida à Furna da Maria Encantada ou a entrada na caldeira pelo túnel que lhe dá acesso permitem uma panorâmica de toda a depressão e da abundante e pujante vegetação plantada pelo Homem: criptomérias, acácias, pinheiros e incensos cobrem a quase totalidade das paredes da caldeira e contrastam com a vegetação de outras áreas da ilha. No interior da Caldeira está uma imponente cavidade vulcânica, a Furna do Enxofre. Comunicando com o exterior através de duas grandes fendas, a Furna do Enxofre é uma cavidade em abóbada perfeita, com cerca de 40 m de altura na sua parte central. O acesso ao seu interior faz-se através de uma torre edificada no início do século XX, com uma escadaria em caracol, de 183 degraus. A “catedral” das cavidades vulcânicas dos Açores possui um lago de água fria e uma fumarola com lama, responsável pelo cheiro a enxofre, que remete para a designação desta cavidade e recorda a sua origem vulcânica. Por seu turno, a Caldeirinha de Pêro Botelho corresponde ao único algar vulcânico existente na ilha, com cerca de 37 m de profundidade. Explorado pela primeira vez em 1964 pela Associação “Os Montanheiros”, este profundo buraco permite recriar uma viagem de Júlio Verne ao interior da Terra, mas apenas recomendada a exploradores experimentados e providos do equipamento necessário. O Pico Timão é um dos maiores cones de escórias da ilha Graciosa e junto com a Ponta Lagoa – Arrochela está ligado à última erupção vulcânica ocorrida na ilha Graciosa, há aproximadamente 2.000 anos atrás.





Gastronomia

                O peixe fresco colhido no mar generoso dos Açores é tradicionalmente servido em caldeirada, ou assado. O alho e a meloa da Graciosa alcançaram um estatuto gourmet e são produtos de eleição em várias receitas, mas se há produto característico são os doces que adoptaram o nome da ilha: as Queijadas da Graciosa, inspiradas na receita centenária das covilhetes de leite. A doçaria local, vasta e saborosa, propõe ainda cavacas, escomilhas, capuchas, pastéis de arroz ou encharcadas de ovos. O vinho da Graciosa, proveniente da casta original verdelho, suportou a devastação da filoxera. Actualmente, com o recurso também a outras castas, os brancos produzidos em região demarcada permanecem bons companheiros da gastronomia regional. A aguardente e os vinhos aperitivos complementam o leque de bebidas autóctones.

Queijadinhas da Graciosa 

Encharcada de Ovos